Deixem fazer a Paz!
Por
Carlos Antonio Lozada, Integrante do Secretariado das FARC-EP
Não
são casuais as coincidências nos pronunciamentos do uribismo, o
Procurador e o General ® Jaime Ruiz Barrera, Presidente de ACORE,
contra o processo de Havana. Coincidências não só na linguagem
como também no fato de apelar para a mentira e a falsificação da
realidade para sustentar a investida contra os diálogos de paz.
“Claudicação
frente ao terrorismo”, “desmoralização das Forças Armadas”,
“acordos secretos”, “incremento dos ataques terroristas e da
insegurança” etc. são parte dos bordões utilizados para
confundir a opinião incauta dos colombianos, buscando criar medo e
rechaço ao processo de Havana; o que, por sua vez, lhes permite
camuflar seus inconfessáveis propósitos sob sonoras frases de
aparente patriotismo e defesa dos sagrados interesses da nação.
Uma
tática, baseada em claros propósitos casuístas dirigida a gerar
emoções antes que raciocínios. A manipulação como recurso para
obter o apoio a umas teses contrárias ao anseio majoritário dos
colombianos de paz com justiça social.
O
objetivo estratégico que buscam é fazer abortar o processo; ou em
seu dano, se finalmente este consegue se consolidar, sem renunciar
nunca ao propósito principal, tratar de incidir para que os
conteúdos dos acordos alcançados não afetem de maneira
significativa os interesses econômicos, políticos e sociais que
representam.
Para
ninguém é um segredo que a Agenda acordada em Havana busca desatar
os principais nós que mantêm a Colômbia amarrada à concentração
da terra e à marginalidade do campo, ao distanciamento abismal entre
a vida urbana e rural; ao clientelismo político e à corrupção, à
hegemonia política e ideológica de uma minoria autoritária, ligada
por seus interesses ao grande capital transnacional.
Manter
sem modificar por longo tempo esse estado de coisas, apesar dos
desejos majoritários de mudança e da emergência de forças sociais
e políticas que lutam por melhoras na sociedade colombiana só tem
sido possível graças ao exercício sistemático da violência
estatal e paraestatal por parte das elites dominantes.
O
acima exposto é o que explica a origem e a persistência do conflito
armado colombiano e lhe dá sua conotação econômica, política e
social. Nesse sentido é ilustrativo o informe da Comissão Histórica
do Conflito e suas Vítimas e é o que permite entender, por sua vez,
porque certos setores da classe dominante se assustam com a
perspectiva de um cessar do conflito armado que implique algumas
mudanças no mundo rural e uma mínima abertura no sistema político.
A conclusão é simples: Sem a guerra veem seus dias contados.
Durante
os 8 anos que estiveram no poder, os setores que hoje se opõem ao
processo não pouparam esforços, meios nem recursos para tratar de
massacrar a resistência armada e a inconformidade civil. Como nunca
antes, se uniram sob uma só vontade a classe dominante e todo o
poder do Estado; ao que somaram o apoio dos EUA e a estratégia
paramilitar; numa verdadeira orgia de sangue contra o povo
colombiano; sem que tivessem conseguido derrotar os anseios de
mudança que se aninham na alma colombiana, como não foi possível
fazê-lo durante mais de 50 anos.
A
conclusão é clara: Já que não puderam resolver o conflito por
meio de uma guerra sem quartel, então deixem fazer a paz.
O
que está em jogo é o futuro do país; enfrentar
o grupo de
guerreiristas é uma prioridade política que obriga por igual a
todos os que vemos possível gestionar as diferenças que nos
separam, pela via da confrontação democrática de ideias e de
alternativas políticas.
A
culminação exitosa dos diálogos de paz não é só competência do
Governo e das FARC-EP; é uma tarefa histórica de toda Colômbia.
Nesse sentido são estimulantes as mobilizações que se anunciam em
respaldo ao processo, porém não são suficientes. A paz, temos que
conquistá-la, e esse objetivo requer a composição da mais ampla
frente de unidade política, sem distinções de partido, classe
social, credo religioso, etnia para poder encurralar este grupo
minoritário, porém poderoso, que se empenha em manter-nos submersos
no pântano da guerra.
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Equipe
ANNCOL - Brasil