Como os EUA financiam a desestabilição na América Latina
Na Colômbia, as bases militares norteamericanas sempre tiveram uma função muito clara, que pouco tem a ver com a tergiversação oficial da sua razão, a do combate ao narcotráfico.
Por: Allan G. Greenberg - Archives for Democracy
Investigadores das instituições universitárias norteamericanas detectaram, no processo que culminou com a derrocada do governo constitucional de Honduras, a participação de empresas e fundações vinculadas a bancos que se envolveram em atividades desestabilizadoras na Venezuela, como o manjo de transferências de dinheiro usando o Panamá e a Colômbia.
Os recursos para levar adiante essa atividade saem por canais do sistema financeiro e também pela remessa em espécie de grandes somas de dinheiro em moeda norteamericana. Os recursos são enviados por meio da fundação de um banco atualmente com graves problemas, e depois distribuído entre os beneficiários “lutadores pró liberdade e democracia”.
As novas formas de financiamento para a desestabilização do continente têm como burlar o controle instalado pelos governos da Venezuela, Bolívia, Equador e Brasil. Hoje se tem certeza absoluta de que a National Endowment for Democracy (NED), está utilizando solo panamenho e colombiano.
Para abastecer financeiramente a oposição venezuelana, por exemplo, o dinheiro é colocado no banco Davidendo, em contas pertencentes a colombianos testas-de-ferro, recrutados especialmente pelos serviços de inteligência dos EUA.
Os membros da oposição venezuelana viajam até a cidade colombiana de Cúcuta, na fronteira com a Venezuela, para buscar o dinheiro, aproveitando a extensa fronteira de mais de dois mil quilômetros entre ambos os países e as facilidades existentes para passar de um país ao outro utilizando apenas carteira de identidade.
Os testas-de-ferro colombianos retiram o dinheiro da conta, entregam a venezuelanos, que são custodiados até os estados venezuelanos de Táchira e Zulia, governados pela oposição.
Foi justamente dessa maneira que, em 28 de maio último, dirigentes estudantis da oposição receberam 40 mil dólares para preparar ações desestabilizadoras presumindo que o governo bolivariano fecharia as instalações da rede de televisão Globovisión e interviria na Universidade Central da Venezuela.
Mas como isso não ocorreu, o dinheiro aparentemente foi utilizado em atividades para provocar o governo constitucional. Ninguém acredita que o dinheiro foi devolvido ao NED.
Estas atividades correspondem a uma gigantesca operação continental destinada a conter e a reverter os processos de transformação social na região. O golpe de Estado em Honduras, o primeiro na administração do presidente Barak Obama, representa um ponto de quebra da inteligência norteamericana contra os governos populares.
Trata-se de um verdadeiro balão de ensaio de toda uma operação do novo governo democrata contra a esquerda latinoamericana, cujos próximos cenários de ação poderiam ser o Paraguai, Bolívia e um incremento da desestabilização na Venezuela para colocar o governo de Hugo Chávez na defensiva, onde as atividades coordenadas desde a Colômbia serão determinantes.
Mal acabou a reunião da OEA, o governo dos EUA anunciou a instalação de bases militares na Colômbia, para substituir a base de Manta, no Equador, de onde serão desalojados em breve.
Na Colômbia, as bases militares norteamericanas sempre tiveram uma finalidade muito clara, que pouco tem a ver com a tergiversação oficial da sua razão, a do combate ao narcotráfico. A militarização constitui o primeiro estágio sobre o qual se monta o processo de colonização da região pelos EUA, que seria complementada com uma plataforma econômica.
As atuais bases de Tres Esquinas e Larandia, no departamento de Caquetá, e a de Villavicencio, no departamento de El Meta, que operam com a presença de aviões e da inteligência técnica do Pentágono, levam anos apoiando o combate aos grupos subversivos e vigiando as fronteiras.
As novas instalações, segundo revelado pela revista colombiana “Cambio”, são as cinco principais bases da Força Aérea e da Marinha no país: Apiay, Malambo, Palanquero, Cartagena e Bahia de Málaga, que seriam parte da nova “arquitetura do teatro” do Comando.
O governo dos EUA, durante a última administração Bush, aperfeiçoou um método de ingerência que consegue penetrar e infiltrar todos os setores da sociedade nos países do seu interesse econômico e político, através do NED e da abertura do que na Venezuela chamou-se de ‘escritório de transição’ (OTI, em inglês), da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).
Há mais de seis anos, os organismos de inteligência escolheram grupos estudantis “A” – alunos de “institutos privados da elite como a proeminente Universidade Católica de Caracas”, como cabeça de ponte para a desestabilização na Venezuela. A denuncia foi feita pelo jornal Washington Post (03/12/2007) que confirmou a intervenção econômica da USAID para ajudar estes grupos opositores.
A nota, assinada pelo correspondente para a América Latina, Juan Forero, citava o pesquisador do National Security Archive, da Universidade George Washington que, baseado em documentos oficiais do governo dos EUA, afirmou que grupos estudantis venezuelanos receberam, desde 2003, consideráveis somas da USAID para sua “promoção da democracia” e “outros programas”.
O jornal também citava uma porta-voz da embaixada norteamericana em Caracas, Jennifer Rahimi, que informou que os EUA apóiam “atividades não-partidárias da sociedade civil”, mas que não financiam os movimentos de oposição. “Não há nenhuma conspiração para influenciar o resultado do referendum constitucional”, disse há dois anos atrás.
Mas os números e cifras de “ajudas” que constatam na própria página web da NED confirmam este financiamento (que remontam a 1983) para quase quatro centenas de grupos estudantis, partidos políticos de oposição, supostas organizações ONGs, entre elas algumas “defensoras dos direitos humanos” e “defensoras da liberdade de imprensa” na Venezuela.
Na Bolivia, a USAID contratou a empresa Casals & Associates, Inc (C&A) para manejar dezenas de milhões de dólares que foram fornecidos a quase 400 organizações, partidos políticos e projetos, sobre tudo os que têm a ver com o apoio à secessão das regiões de Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija. E agora, com a derrubada do presidente Manuel Zelaya em Honduras, aparecem as provas do financiamento daqueles que implantaram a ditadura com dinheiro norteamericano.
(Tomado de Rebelión.org)