Colômbia: 1928, o massacre das bananeiras
Por: María Tila Uribe
Com cerca de 7 milhões de habitantes nessa época, nosso país tinha
certo caráter de selva virgem, pululavam as fazendas tradicionais de
costumes quase feudais, era país de minas de ouro, platina, carvão,
sal, esmeraldas, imensas plantações de café, banana, também fumo
e formas de escravidão nas zonas seringueiras do Amazonas.
25 anos haviam passado do “rapto de Panamá” – assim o chamavam
– e, com a primeira cota de 5 milhões, de 25 que pagaram a
prazos por esse território os EE.UU, mais a alta do preço do café,
mais a Dívida Externa contraída então e a violenta irrupção de
capitais estrangeiros, os anos ’20 se converteram na década da
aceleração da indústria e da iniciação da infraestrutura econômica e
física necessária para o desenvolvimento do incipiente capitalismo
colombiano.
Assim chegou a modernização a nosso país, então se conheceram as
máquinas novas para a produção fabril que aceleravam a indústria e
o trabalho manual dos artesãos, as moedoras de café, as máquinas
de costurar de pedal que usaram as avós, os moinhos e certamente
todo o elétrico, a mais da mecânica automotriz, pois os carros
substituíam as românticas carroças puxadas por cavalos.
Foi um decênio-chave e sobressalente no século XX, não só pela
transformação que a tecnologia de então obrou na vida das pessoas
como também pelo que significaram os 2 maiores fenômenos sociais
dos primeiros 50 anos desse século: o nascimento de uma classe
operária e a incorporação das mulheres ao mercado laboral. O
primeiro se deu pela mudança de vida de milhares de campesinos
que deixaram de estar atados às fazendas como parceiros ou
arrendatários e começaram a incorporar-se massivamente às
concentrações operárias mediante um novo sistema de pagamento:
o salário. Legiões de trabalhadores se incorporavam a deferentes
frentes de trabalho: 20 mil em ferrovias, mais de 600 mil homens
e mulheres faziam possível a exportação de café, outros milhares
na construção de canais, cabos aéreos, rodovias, adequação de
portos, enfim... Por sua parte às mulheres, que nesse tempo só
podiam trabalhar como professoras, enfermeiras ou tegrafistas,
as necessitavam agora nas oficinas de confecção, as tecelãs
antioquenhas, as fábricas de fósforos, cerveja, cigarro e outras
recém- abertas. Ademais, começavam a conformar-se exércitos de
secretárias para os escritórios.
Para essa desproporcionada mobilização, o governo expediu a lei de
circulação, o que permitiu que massas inteiras chegassem a trabalhar
como operários nos enclaves norte-americanos: a Tropical Oil. Co,
em Barrancabermeja, explorava o petróleo; a Frontino Goil Mines e
a Choco Pacífico, ouro e platina, e a famosa United Fruit Company,
protagonista do massacre dos trabalhadores ao final do decênio, na
Zona Bananeira de Santa Marta.
A consequência natural daquelas concentrações operárias foi a
organização e o descobrimento do poder da greve. As abismais
diferenças sociais de riqueza e pobreza e a barbárie de um regime
hegemônico com 42 anos no poder, que utilizou o desterro, a morte e
a tortura para seus adversários, coesou os diferentes setores sociais
e na metade da década se fundava a primeira Confederação Operária
Nacional e o Partido Socialista Revolucionário, ambas instâncias como
resultado de um processo de organização e de experiências de anos.
Seus líderes nacionais, entre eles Tomas Uribe Márquez, Raúl
Eduardo Mahecha e María Cano sentiram e enfrentaram sua luta
no fragor das grandes greves, a última das quais foi a da Zona
Bananeira, dirigida pelos mais representativos Sixto Ospino, Adán
Ortiz Salas, Aurelio Rodríguez, José G. Russo, Erasmo Coronel,
igualmente por mulheres como Josefa Blanco, secretária do sindicato
de Orihueca, quem sob sua responsabilidade teve 100 operários,
com eles vigiava que não houvesse corte de cachos de bananas e
emboscou e reduziu pequenos grupos de uniformizados, que em
seguida levava ao comitê de greve para fazê-los refletir, se era o
caso, ou extrair-lhes informação ou julgá-los. Outra mulher esquecida
foi Petrona Yance, a mais destacada de entre 800 mulheres que
participaram na Greve.
O Presidente Abadía Méndez e seu ministro de Guerra nomearam
como comandante geral a Carlos Cortes Vargas, com excesso de
atribuições. Ele fixou o 5 de dezembro como a data para negociar o
rol de petições que continha 9 pontos.
Os 25 mil grevistas tinham a seu favor a simpatia da população e do
próprio Prefeito, dos indígenas da Sierra Nevada, dos comerciantes
e alguns pecuaristas que lhes enviavam reses para sua manutenção.
E algo inusitado, pelo contrário às ideias generalizadas, foi o fato de
que muitos trabalhadores norte-americanos se solidarizaram com
eles. Se sabe, também, que houve deserções individuais e de grupo
no primeiro tempo da greve, recrutas que se negaram a disparar e
outros que entregaram suas armas aos operários.
Se estimaram em 5000 os trabalhadores que estavam na praça
quando foram rodeados pelos 300 homens armados. Contavam os
sobreviventes que depois de um toque de corneta o próprio Cortes
Vargas deu a ordem de fogo por 3 vezes, no entanto, nunca se
soube quantos mortos houve: as narrações populares orais e escritas
diferem – de 800 a 3 mil, e acrescentam que os lançaram ao mar. As
[cifras] oficiais admitiram de 15 a 20.
Aquele foi o “batismo de fogo” da classe trabalhadora colombiana.
Vieram os Conselhos de Guerra, posteriores assassinatos seletivos de
outros líderes e cárceres para os dirigentes nacionais e locais.
Em defesa dos condenados saiu o jovem advogado Jorge Eliécer
Gaitán, quem deixou para a história colombiana uma página
inolvidável, que terminou com êxito, pois absolveram a todas as
pessoas acusadas.
A década dos ‘20 tem sido chamada, com razão, de a época de ouro
revolucionária de Colômbia.