Obama dá sinais de quatro anos mais de más relações com América Latina
Mark Weisbrot
Tradução:
Joaquim Lisboa Neto
ALAI AMLATINA, 19/12/2012.- Na sexta-feira passada [14.12], numa entrevista[1] em Miami, o presidente Obama foi muito longe ao lançar insultos gratuitos para o presidente Hugo Chávez. Fazendo isto, ele não só ofendeu a maioria dos venezuelanos, os quais votaram pare reeleger seu presidente em 7 de outubro, senão que ofendeu inclusive a muitos que não votaram por ele. Chávez está lutando por sua vida, recuperando-se de uma complicada operação de câncer. Na América Latina, como na maioria do mundo, esta desnecessária difamação de Chávez por parte de Obama constitui uma violação não só do protocolo diplomático, como também de padrões comuns de cortesia.
ALAI AMLATINA, 19/12/2012.- Na sexta-feira passada [14.12], numa entrevista[1] em Miami, o presidente Obama foi muito longe ao lançar insultos gratuitos para o presidente Hugo Chávez. Fazendo isto, ele não só ofendeu a maioria dos venezuelanos, os quais votaram pare reeleger seu presidente em 7 de outubro, senão que ofendeu inclusive a muitos que não votaram por ele. Chávez está lutando por sua vida, recuperando-se de uma complicada operação de câncer. Na América Latina, como na maioria do mundo, esta desnecessária difamação de Chávez por parte de Obama constitui uma violação não só do protocolo diplomático, como também de padrões comuns de cortesia.
Talvez
algo inclusive mais importante é que as inapropriadas calúnias de
Obama enviaram uma desagradável mensagem ao resto da região.
Enquanto Obama pode sair-se com a sua com qualquer coisa na maioria
dos meios de comunicação, se pode estar certo de que seus
comentários foram notados pelos presidentes e Ministérios de
Relações Exteriores de Brasil, Argentina, Equador, Bolívia e
outros. A mensagem foi clara: podemos esperar quatro anos mais com as
mesmas políticas falidas, políticas de Guerra Fria para América
Latina, as que o presidente George W. Bush defendeu e Obama continuou
em seu primeiro mandato[2].
Estes
presidentes veem a Chávez como um amigo próximo e um aliado; alguém
que os tem ajudado e ajudado a região. Como milhões de
venezuelanos, eles estão orando por sua recuperação. Ao mesmo
tempo, veem a Washington como responsável pelas más relações
entre Estados Unidos e Venezuela [igual que com o hemisfério em
geral], e estes desafortunados comentários são uma confirmação
adicional disso. Em 2012, durante a Cúpula das Américas, Obama se
encontrou tão isolado[3] como esteve George W. Bush durante a
notória Cúpula de 2005. Aquela foi uma mudança radical no que diz
respeito à Cúpula de 2009, onde todos – inclusive Chávez –
saudaram calorosamente a Obama e viram nele a possibilidade de uma
nova era nas relações EEUU-América Latina.
Para
estes governos, as invectivas de Obama sobre as “políticas
autoritárias” de Chávez e a “repressão dos dissidentes”
cheiram mal; inclusive, ignorando o momento da ofensiva. Venezuela
acaba de ter umas eleições nas quais a oposição, a que detém a
maioria das rendas e da riqueza do país, assim como o controle da
maioria dos meios de comunicação, mobilizou a milhões de votantes.
A participação eleitoral foi de 81 por cento dos votantes
registrados, com ao redor de 97 por cento de registro dos votantes em
idade de votar. O governo não “reprimiu aos dissidentes”, não o
fez assim em outras eleições, ou inclusive quando os dissidentes
fecharam a indústria do petróleo e paralisaram a economia em
2002-2003; ações que haveriam sido ilegais e bloqueadas pelas
forças do Estado nos Estados Unidos. Os manifestantes pacíficos em
Venezuela são muito menos propensos a ser golpeados, atacados com
gases lacrimogêneos ou disparados com balas de borracha pelas forças
de segurança do que o são em Espanha[4] e, provavelmente, na
maioria de outras democracias.
Sim,
tem havido abusos de autoridade em Venezuela, como em todo o mundo,
tal como o presidente Obama deve saber. Foi Obama quem defendeu[5] o
encarceramento sem julgamento por mais de dois anos e meio, e o abuso
de Bradley Manning durante sua detenção; que foi condenado pelo
Relator especial das Nações Unidas contra a tortura. É Obama quem
tem se recusado a conceder a liberdade ao ativista da população
indígena estadunidense Leonard Peltier,[6] amplamente conhecido no
mundo como um prisioneiro político, agora numa prisão dos Estados
Unidos por 37 anos. É Obama quem reclama o direito, e o tem usado,
para matar a cidadãos estadunidenses[7] sem detenção nem
julgamento.
Venezuela
é um país de renda média, onde o Estado de Direito é
relativamente frágil, como o é o Estado em geral [daí o absurdo de
rotulá-lo de “autoritário”]. No entanto, ao contrastá-lo com
outros países de similar nível de rendas, este não se destaca por
nada no âmbito dos abusos dos direitos humanos. Certamente, não
existe nada em Venezuela comparável aos abusos perpetrados pelos
aliados de Washington, tais como México; ou Honduras – onde
candidatos a cargos políticos, ativistas da oposição e jornalistas
são amiúde assassinados[8]. E grande parte das pesquisas acadêmicas
elaboradas acerca da Venezuela sob [o comando de] Chávez mostram que
esta é mais democrática e com mais liberdades civis que nunca antes
em sua história.
Pelo
contrário, nós, nos Estados Unidos não o estamos fazendo tão bem
em comparação com nossa própria história e nosso nível de renda.
Sofremos uma séria perda de liberdades civis[9] sob as
administrações de George W. Bush e do presidente Obama. E,
evidentemente, se contamos as vítimas dos crimes dos EEUU no
estrangeiro – os civis e crianças assassinados por ataques com
drones [aviões não tripulados] em Afeganistão e Paquistão, por
exemplo – é o presidente Obama que tem uma “lista de pessoas a
assassinar”, tem pouca margem[10] para criticar quase a nenhum
presidente de outro país.
“Quiséramos
ver uma relação sólida entre nossos dois países, porém não
vamos mudar as políticas que têm como prioridade que haja liberdade
em Venezuela”, disse Obama, de acordo com a Associated Press.
Não
posso pensar em ninguém que acredite que a política dos Estados
Unidos em Venezuela, desde o golpe militar de 2002 no qual Washington
esteve implicado, à continuação de financiamento hoje em dia aos
grupos venezuelanos da oposição, tenha algo que ver com a promoção
da “liberdade”. Isto
foi somente outro insulto público a mais.
O
governo venezuelano respondeu com raiva ante os comentários. Porém,
talvez seriam mais indulgentes se soubessem o pouco que sabe o
presidente Obama – quem nunca pôs um pé na América Latina antes
de ser presidente – acerca de Venezuela ou da região.
Quando
o presidente Obama se reuniu com a presidenta do Brasil, Dilma
Rousseff, disse[11]:
“Isto
me dá a oportunidade para remarcar o extraordinário progresso que o
Brasil tem levado a cabo sob a liderança da presidenta Rousseff e de
seu predecessor, o presidente Lula, ao passar da ditadura para a
democracia...”
Portanto,
se Obama [e sua equipe] nem sequer sabia que a ditadura brasileira
chegou ao seu fim mais de uma década antes que Lula fosse eleito em
2002, como pode esperar-se que ele saiba algo de Venezuela? Quero
dizer, o Brasil é um país grande, maior que os Estados Unidos
continental, e a sexta maior economia do mundo.
Obama
despediu o seu conselheiro de Segurança Nacional para América
Latina depois da debacle da Cúpula de 2012. Ele deveria despedir ao
inepto que o alimentou com esses insultos que proferiu na entrevista
em Miami, assim como ao incompetente que o fez passar vergonha frente
à presidenta do Brasil. E assim poderia limpar seu gabinete dos
guerreiristas da Guerra Fria dos anos 1950, que seguem no
Departamento de Estado. Está bem se a ele não lhe interessa a
América Latina – é melhor para a região e o mundo –, porém,
ele e sua administração estão criando um montão de hostilidade
desnecessária.
- Mark Weisbrot es codirector del Center for Economic and Policy
Research (CEPR), en Washington, D.C. Obtuvo un doctorado en economía por la Universidad de Michigan. Es también presidente de la organización Just Foreign Policy.
http://www.cepr.net/index.php/other-languages/spanish-op-eds/obama-da-senales-de-cuatro-anos-mas-de-malas-relaciones-con-america-latina
Notas:
(1)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=4&url=http%3A%2F%2Ffeeds.univision.com%2Ffeeds%2Farticle%2F2012-12-14%2Fobama-evita-especular-con-salud%3FrefPath%3D%2Funivision23
(2)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=5&url=http%3A%2F%2Fwww.cepr.net%2Findex.php%2Fother-languages%2Fspanish-reports%2Fla-politica-de-obama-hacia-america-latina-continuidad-sin-cambio
(3)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=6&url=http%3A%2F%2Flta.reuters.com%2Farticle%2FdomesticNews%2FidLTASIE83F09M20120416
(4)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=7&url=http%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3Dksm7f3ey1bc
(5)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=8&url=http%3A%2F%2Fwww.elespectador.com%2Fnoticias%2Felmundo%2Farticulo-256638-caso-wikileaks-renuncio-portavoz-del-departamento-de-estado
(6)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=9&url=http%3A%2F%2Fwww.rnw.nl%2Fespanol%2Farticle%2Fprimer-premio-benedetti-es-para-leonard-peltier
(7)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=10&url=http%3A%2F%2Fwww.elmundo.es%2Felmundo%2F2011%2F10%2F01%2Finternacional%2F1317452156.html
(8)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=11&url=http%3A%2F%2Fwww.elheraldo.hn%2FSecciones-Principales%2FSucesos%2FAsesinan-a-precandidato-de-Libre-en-el-norte-de-Honduras
(9)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=12&url=http%3A%2F%2Fwww.javierortiz.net%2Fvoz%2Fsamuel%2F10-razones-por-las-que-estados-unidos-ya-no-es-la-tierra-de-la-libertad
(10)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=13&url=http%3A%2F%2Fwww.cepr.net%2Findex.php%2Fother-languages%2Fspanish-op-eds%2Fecuador-da-asilo-a-julian-assange-respetando-los-ddhh-a-pesar-de-amenzas-por-parte-del-reino-unido
(11)
http://salsa.democracyinaction.org/dia/track.jsp?key=-1&url_num=14&url=http%3A%2F%2Finternacional.elpais.com%2Finternacional%2F2012%2F04%2F09%2Factualidad%2F1334000723_182529.html
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(1)
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(2)
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(3)
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(4)
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(5)
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(6)
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(7)
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(8)
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(9)
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(10)
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