Declaração Política do Secretariado Nacional das FARC-EP
A paz, um esforço
conjunto de toda a nação
As conversações que se
adiantam entre o governo de Juan Manuel Santos e as FARC-EP em Havana
despertam intenso interesse no conjunto do povo colombiano. As
unidades farianas reportam ao largo e ao longo do país que a
população demanda conhecer cada vez mais sobre o que se discute em
Cuba. Igualmente, à Delegação de Paz das FARC-EP em Havana chega
um caudal de mensagens do mesmo teor, vozes de estímulo e apoio,
solicitações de participação, propostas e projetos. Se trata da
viva manifestação de nosso povo por não seguir excluído das
decisões nacionais.
A Mesa de Havana é o ponto
de encontro de duas maneiras de ver a problemática nacional e de
expor sua resolução. De um lado, está a ótica do governo, que
defende as classes abastadas e a imobilidade da ordem vigente. Do
outro, a proposta da insurgência, construída desde a visão dos
setores populares que urgem e clamam por mudanças. Nos parece normal
que num começo as posições se apresentem distantes. O esforço
consiste em pôr à prova a arte de enfiar pérolas, como definia
John Agudelo Ríos ao ofício de aproximar posições, flexibilizar e
construir saídas satisfatórias para as duas partes.
Nosso empenho aponta a que
as vozes de todos os colombianos resultem bem-vindas no processo de
conversações. Só assim cremos que pode criar-se uma paz duradoura.
Significa isto uma agenda paralela, na contramão do acordado até o
momento? De nenhuma maneira. Se trata tão só do desenvolvimento
consequente do preâmbulo do Acordo Geral, um imperativo de primeira
ordem e de simples sentido comum. É sobre os ombros do grosso da
população que se descarregam as mais funestas consequências do
conflito armado, e é em seu modo de vida miserável onde subjazem as
causas do alçamento.
É a população colombiana
quem suporta a enorme carga tributária que o Estado impõe para pôr
em marcha o gigantesco aparelho militar com o qual se pretende acabar
a insurgência. O cidadão comum vê crescer incessantes as cargas
orçamentárias destinadas à manutenção de um desproporcional
Exército, em detrimento do investimento em saúde, educação,
moradia, obras públicas, ciência e tecnologia. Todo o qual explica
as motivações e o papel cardeal desempenhado pelas organizações
sociais colombianas no impulso à abertura do cenário de diálogo e
acordo.
No contexto da participação
popular na construção da paz, deve ser centro da discussão a
criação e consolidação de uma democracia autêntica, não só
para a Mesa, como também para toda a vida política nacional.
Unicamente com uma verdadeira democracia poderá a Colômbia superar
a crise endêmica que a afeta. Sua adequada conjugação na atual
conjuntura nos pode levar a feliz porto, a democratizar a propriedade
da terra e o uso do solo, a vida política, os direitos econômicos,
sociais, culturais e ambientais, os meios massivos de comunicação,
a própria vida no interior das famílias.
Todos temos sido partícipes
e vítimas de um conflito que pesa já bastante nos ombros da nação
inteira, que como um enorme lastro nos impede levantar voo para
melhores horizontes. Definitivamente, a paz não poderá ser
resultado de um diálogo distanciado do povo de Colômbia, de uma
decisão pelas alturas, de imposições unilaterais de qualquer
ordem. O país inteiro tem que mobilizar-se a exigir sua participação
decisória no processo de paz. Mobilizemo-nos todos para ser, por
fim, escutados, mobilizemo-nos todos a democratizar a pátria,
mobilizemo-nos todos pela recuperação de nossa soberania.
Secretariado do Estado-Maior Central das FARC-EP
Montanhas de Colômbia, 4 de dezembro de 2012