"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Conversações com as FARC-EP: crônica de um encontro com a delegação de paz da insurgência fariana.




Por Dax Toscano

Havana é uma cidade mágica, onde se conjugam paixões,
sentimentos e emoções que fazem com que quem a visite
termine extasiado pela beleza de sua gente, de seu entorno,
de suas estruturas e do mundo que dentro delas se tece
e que cada pessoa que está aí, de passagem ou em forma
permanente, ainda que essa permanência possa ser
passageira, as viva com paixão.

Maravilhosa Havana, capital de um país que enfrenta muitas
dificuldades, produto do criminoso bloqueio econômico imposto pelo
imperialismo ianque, assim como de suas contradições internas, que
devem ser superadas para consolidar o socialismo nesta região do
Caribe.

Este farol, que ainda ilumina aos povos do mundo, não pode apagar-
se. E, muito menos, pode desvanecer-se a solidariedade que tem
caracterizado a Cuba de Fidel com a luta dos povos.

É precisamente essa solidariedade militante a que fez possível
que em Havana possam reunir-se, com total segurança para sua
integridade física, situação que não poderia dar-se em outro lugar
de América Latina, muito menos na própria Colômbia, as e os
comandantes das FARC-EP, os quais se transladaram desde as
montanhas e da selva de seu país para a terra de José Martí, com o
objetivo fundamental de alcançar a paz para a Colômbia.

Na segunda-feira, 19 de novembro de 2012, às sete da manhã,
recebo uma chamada especial. Saudações afetuosas por parte
dos comandantes Rodrigo Granda, Iván Márquez e Jesús Santrich.
Sem poses de nenhuma natureza, característica dos politiqueiros
do estabelecimento, os comandantes farianos expressam seu
apreço sincero pelos que contribuem, de uma ou outra forma, pela
construção da Colômbia Nova.

O encontro, celebrado dois dias depois, foi muito grato, carregado
de emoções especiais ao poder compartilhar com as e os irmãos
guerrilheiros das FARC-EP. Um abraço forte com Iván Márquez e
Jesús Santrich.

Com Tanja, saudamos à distância, posto que nesse momento a
guerrilheirada está atenta a uma conferência sobre a problemática do
capitalismo em nível mundial.

As guerrilheiras e os guerrilheiros das FARC-EP não perdem um só
segundo do tempo necessário para o propósito traçado neste novo
combate pela paz.

Trabalho, estudo, debates, diálogos sobre os problemas mundiais e,
claro está, de Colômbia.

Mais tarde, uma janta saborosa. Tenho a honra de saudar a Sandra,
essa grande mulher e revolucionária, companheira de Manuel
Marulanda.

Na sequência, uma conversação prazerosa, acompanhada de tangos,
de música de Julio Jaramillo e de canções compostas por Iván e
Santrich.

Nenhum tema escapa ao olho crítico e sagaz dos comandantes
guerrilheiros. A política internacional, o tema ecológico, o problema
agrário e a necessidade de atualizar o programa das FARC-EP nesse
tema, a urgência de extrair uma história da insurgência fariana “não
oficial”, o papel dos meios de comunicação, são os temas dos quais
se fala, tudo isso acompanhado de bom humor.

No tema ecológico não se deve fazer concessões, diz Santrich. Mais
importante é o rio, a água cristalina do rio Ranchería, na Guajira, que
a busca de carvão, que significaria a destruição do entorno natural,
diz o comandante fariano.

A lógica do capitalismo é destrutiva, não lhe importa nem a natureza,
nem o ser humano.

Iván Márquez vê com otimismo o processo de diálogo, ainda que por
parte da oligarquia, segundo as declarações que têm sido publicadas
na mídia, se evidencie mesquinharia.

Apesar de tudo, neste novo cenário, as FARC-EP crescem e se
aperfeiçoam. Como no combate militar, quando em outros tempos
o general Mora Rangel levou adiante uma guerra dura contra a
insurgência e os combatentes farianos demonstraram capacidade
de ação e resposta ao inimigo, hoje, no campo da diplomacia,
os obstáculos que aparecem fazem com que a guerrilha tome
adequadamente as táticas para conquistar a estratégia final.

O “bem supremo”, diz Jesús Santrich, parafraseando Bolívar, é a
paz para o povo colombiano. E sobre esse objetivo se trabalha dia
a dia, muitas vezes sem dormir, o qual, em definitivo, não é maior
sacrifício, se se pensa que destes diálogos com o governo colombiano
pode-se encontrar uma saída política ao conflito que se vive desde há
já cinquenta anos.

Para as FARC-EP, frente à opinião guerreirista, não há outra diferente
e urgente que a da paz.

Os homens vão em dois bandos, dizia José Martí: os que amam e
fundam, e os que odeiam e desfazem.

Diferentemente do ministro de Defesa de Colômbia, Juan Carlos
Pinzón, ou dos paracolunistas como Alfredo Rangel, defensores da
criminal doutrina de Segurança Democrática do narcoparamilitar de
Uribe, os mesmos que expuseram publicamente seus desejos de que
a busca de paz fracasse, as FARC-EP têm atuado com honestidade
evidente.

Foi Alfonso Cano quem buscou permanentemente a paz. Qual foi a
resposta do governo colombiano? O cerco militar, a perseguição e o
assassinato.

O aparelho tecnológico militar e de inteligência estadunidense e
israelense está posto a serviço das Forças Armadas e da Polícia
colombiana para destruir a insurgência revolucionária. Não
economizam absolutamente nada. Microchips colocados em laptops,
em aparelhos de rádio, de comunicação e até nos sacos de arroz para
detectar os acampamentos guerrilheiros e bombardeá-los. Querem
ganhar a guerra dessa maneira e não com o combate direto. Apesar
disto, a guerrilha também tem desenvolvido seu próprio armamento
e, com suas armas de combate, até um avião Super Tucano puderam
derrubar no cerco de Jambaló, no passado mês de julho de 2012.

Assim como na guerra, no campo político a oligarquia quer
bombardear a insurgência, para assim frustrar o diálogo. Com base
em mentiras, em armadilhas, em ocultações da realidade e em
imposições, querem derrotar as FARC-EP e isolá-las de seu povo e
das organizações sociais.

Agora, os guerreiristas querem boicotar cada passo na busca da paz
para a Colômbia.

Em cada declaração pública, a delegação do governo colombiano se
empenha em pôr obstáculos, demonstrando sua ruindade.

Na mentalidade burocrática e no acionar frio e calculador, próprio dos
tecnocratas burgueses, querem impor suas formalidades absurdas

ao desenvolvimento do processo. São os tecnicismos próprios das
escolas de negociadores e empresários burgueses.

As FARC-EP têm como única “formalidade” o sentar-se, falar
na mesa de diálogo com a verdade, com honestidade, frente
a frente, diz Iván Márquez, enquanto, desde o lado contrário
pelas vozes da grande imprensa, se nota que somente buscam a
maneira em que a guerrilha cumpra protocolos de banquetes, se
comporte “politicamente correta” e guarde silêncio para que o povo
e o mundo inteiro não conheçam o que está sucedendo realmente ao
redor das conversações.

Nos diálogos, o povo não cabe para os representantes da oligarquia.
São prepotentes. Não se dão conta que as FARC-EP são parte do
povo, porque dele surgiram e a ele se devem. Por isso, estarão onde
o povo estiver, porque ninguém pode impor-lhes o contrário.

Que não tal coisa, que não tal outra, tem dito publicamente a
delegação governamental desde a memorável jornada de Oslo. Bem,
e então, de que querem falar com os delegados de paz das FARC-EP?

Infinidade de cercos têm posto ao diálogo, que eles consideram
negociação em sua mentalidade mercantil.

Se solicitou a presença de Simón Trinidad fazendo parte da
Delegação de Paz das FARC, porém por nenhuma parte se vê que o
governo contribua para esse propósito emitindo uma petição formal
ao governo dos Estados Unidos para que se possibilite a liberdade do
combatente bolivariano. Assim é a oligarquia santanderista.

Com seus rostos de pedra, os delegados do governo vão em busca da
rendição.

A guerrilha vão em busca da paz, com rostos de amor, de felicidade
e alegria. Sem vozerios individuais, senão com uma só voz, a do
coletivo fariano composto por homens e mulheres.

A alegria é outra das divisas das FARC-EP. Sacanas, “mamadores
de galo” como dizem, jamais mentirosos, covardes ou traidores
dom o povo são os comandantes farianos. Há felicidade nas fileiras
das FARC-EP. Felicidade que a irradiam os
delegados de paz do
povo. Para eles, isto não é mais que um passo fundamental para
conseguir esse bem supremo para Colômbia, que é a justiça social e,
consequentemente, a paz com dignidade.

Não há condições que se possam impor à delegação fariana, que
afetem sua soberania política. A insurgência expressou desde um
primeiro momento que o povo colombiano debe estar presente nos
diálogos domo um dos atores políticos fundamentais, e as FARC-EP

não se submeterão a condicionamentos do governo de Santos que
obstaculizem o contato com as organizações populares.

Assim o expressaram Iván Márquez e Jesús Santrich, não só em
declarações formais como também em outros diálogos marcados pela
camaradagem, sinceridade e vitalidade.

É que eles são assim. A distinção é a distensão, o qual não é,
certamente, despreocupação. É a mistura do humor, da alegria com a
seriedade no trabalho.

São os guerrilheiros das FARC-EP, humanos no pleno sentido
da palavra. Gozam da música de diferentes autores e gêneros,
e também compõem letras com mensagens profundas sobre a
história de Colômbia. Poetas também o são. Estudiosos dos diversos
problemas internacionais, da economia capitalista, da política
imperialista etc. Nada se escapa dentro desta guerra de movimentos.
E, claro está, compartilham prazeres.

Metidos em suas camisas de marca, em seus trajes “Giorgio Armani”,
os delegados do governo acorrem em marcha apressada à sala de
sessões.

Com camisa solta, sem deixar de ser formais e, por que não, também
elegantes, os guerrilheiros e as guerrilheiras se fazem presentes
junto à silhueta rebelde de Simón Trinidad no cenário do diálogo. As
mulheres farianas estão sempre aí, belas, inteligentes e aguerridas,
o que incomoda aos machistas burgueses. Tanja, Alejandra, os têm
intimidados.

Para estes oligarcas maniqueístas, a alegria é o show e a falta de
seriedade. Para as FARC-EP, a alegria é a paz, e a seriedade a
solução das causas do conflito colombiano. O segredismo é a mentira
ao povo, para as FARC-EP é falar publicamente através de seus
comunicados certeiros e precisos, é não ocultar nada ao povo.

As FARC-EP marcaram seu rumo. Estão decididas a não levantar-se
da mesa de diálogo. E sabem que isso deve garantir-se, inclusive,
com a aplicação das normas do direito internacional que exige que
as partes de um conflito, por razões humanitárias, cheguem a uma
solução definitiva para evitar sofrimento ao povo.

A música é outro fuzil, diz o Comandante Jesús Santrich, quem se
deleita tocando uma melodia com a flauta transversal e outra mais
com a harmônica. Santrich irradia felicidade, mira com o coração e
vê a realidade com maior clareza que aqueles que só a observam
através do ódio e do mero interesse.

O ambiente na delegação fariana é de camaradagem, de unidade e
de construção de pensamento, porque, muito longe das poses dos
intelectuais de botequim, no grupo de guerrilheiras e guerrilheiros
que estão em Cuba, a cultura e a política são vitais, se bem que
as coisas mundanas que os fazem seres desta terra estão também
presentes e são tratadas com picardia e sabedoria.

Seres com paixões e sentimentos, profundamente humanos,
solidários, consequentes em seus princípios em defesa da
humanidade. O egoísmo não existe nos camaradas das FARC-EP, que
buscam que o encontro seja agradável para o companheiro de luta.

Nestes dias chegou o general Óscar Naranjo a Cuba. O mesmo do
sorriso macabro quando assassinaram o comandante Raúl Reyes em
Angostura. O “melhor polícia” do mundo, dizem os propagandistas da
oligarquia colombiana e suas instituições repressivas. O polícia narco.

Assim são eles. Muito filha da puta é a oligarquia, diria Julián
Conrado.

As FARC-EP se caracterizam, ademais, por seu internacionalismo
revolucionário. Dói o que fazem com a Palestina, dizem os
comandantes farianos.

Entre uma taça de vinho e uma cerveja Bucanero, a conversação
flui com Iván Márquez e Jesús Santrich. Se aprende muito, há
conhecimentos amplos. Nada está improvisado. E a defesa do povo
está em primeiro plano. Porém, ademais, a unidade entre estes dois
camaradas de luta é exemplo da fortaleza que dá a identificação
com as causas do povo entre pessoas que traçaram como objetivo
comum a construção de uma sociedade mais justa e mais humana.
Me recordam a Bolívar e Sucre, Marx e Engels, a Fidel e o Che.

Outra virtude no interior das FARC-EP é a camaradagem e a
possibilidade de exercer o direito a pensar e dialogar entre eles,
com suas diversas visões, porém sem romper a unidade de ação.
Sectarismos, entre eles, não cabem.

Iván e Santrich, poetas e comandantes guerrilheiros, amigos e
camaradas, abrem as portas de sua casa, a casa onde a paz se
desenha com deleitação de artista, para que seja o povo quem a
curta, porque só com ele poderá realmente concretizar-se isso que,
uma vez mais, há que ressaltar, é o bem supremo para o povo
colombiano.