"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


domingo, 3 de março de 2013

DECLARAÇÃO DA DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP


Terminamos este ciclo de conversações com avanços que falam bem de nossa vontade de paz, apesar das infundadas afirmações do Presidente Juan Manuel Santos num evento midiático, no passado 20 de fevereiro em San Vicente del Caguán. Avançamos, apesar da dor que nos impõe a todos os colombianos o tratamento repressivo e desproporcionado que o governo está dispensando através do ESMAD aos justos protestos dos cafezistas e cacauicultores, causando mortes, dezenas de feridos e capturados. Avançamos, apesar da surdez estatal frente às reclamações dos trabalhadores do Cerrejón e dos que se opõem à privatização da saúde e, em geral, às consequências antipopulares e antipatrióticas da política neoliberal. Para esse povo em pé de luta, nossa solidariedade; e ao governo, um Dialogue com o povo, escute-o, deixe a soberba! Com artifícios como o de San Vicente, não poderá Santos ocultar a progressiva entrega do território nacional, de nossas riquezas mineiro-energéticas, à voracidade das transnacionais. Não poderá tampar os novos planos de despojo e de estrangeirização da terra, nem o propósito vesgo de ofertar os 15 milhões de hectares de nossa altiplanura, entre os rios Guaviare e Meta, rica em petróleo, urânio, coltan e lítio; terras olhadas com olhos de agronegócios e lucros, e com os ombros encolhidos, frente ao terrível impacto sócio ambiental.

Detrás da fumaceira das declarações de San Vicente está o latifúndio que nenhum governo quis tocar. Regressou o fantasma de Chicoral a impedir que se toque o sacrossanto latifúndio e a perseguir novamente aos campesinos que desterrou para as fronteiras para que não seguissem ocupando, machete em mãos, as grandes propriedades. Desde a época da Violência nos anos ’50, não têm tido paz os campesinos, se lhes arrebatou as terra e lhes expulsou com violência de seu entorno natural. O vergonhoso Pacto de Chicoral foi firmado pelas elites dos partidos tradicionais, pelos terra-tenentes e pelo Estado, jamais por Manuel Marulanda Vélez. Porém, até essas fronteiras remotas para onde foram lançados, lhes enviaram os paramilitares massacrá-los e deslocá-los novamente. Não é justo, não é justo, que agora se pretenda expulsar o restante com violência e lei.
As terras do comandante Jorge Briceño não eram as mencionadas nas fraudulentas cifras do Presidente, senão 114 milhões de hectares que tem o país, os que queria produzindo, para dignificar a vida de todos os colombianos.
Pensávamos que Juan Manuel Santos ia se referir em San Vicente aos 17 mil hectares de palma africana que o chefe paramilitar “Don Berna” transferiu ao Estado para que fossem entregues aos campesinos, seus verdadeiros donos, terras que não chegaram ainda a seus destinatários; porém, nada disse o presidente.
Pensávamos que talvez se referiria aos 14 mil hectares que o mesmo paramilitar pusera em mãos do Estado nas Planícies Orientais, com 4 mil deles semeados de palma azeiteira, a fim de que fossem restituídas a seus proprietários originais e, apesar de que isto não se tenha cumprido, nada disse o presidente.
Pensávamos que entraria duro em seu discurso a seu amigo Victor Carranza, quem recentemente celebrara com pompa e circunstância seu primeiro milhão de hectares de terra. Porém, nada disse o presidente.
É muito o que há que dizer e denunciar em torno da atual política agrária do governo. A suposta titulação e entrega de terras em Urabá é uma farsa triste. Ali, o que há é um carrossel de terras, no qual, através de possuidores de má-fé, se entregam títulos com relume midiático, porém, ao final, essas propriedades voltam às mãos de bananeiros e produtores de palma despojadores. Aos “urabenhos” lhes destinaram a tarefa de revitimizar para facilitar o despojo com aparência legal.
A entrega de terras que projetam em Urabá e Chocó os paramilitares El Alemán e Hasbún é para jogar terra à mentira da entrega de terras que está fazendo o governo em Urabá.
Em Las Tangas destinaram 192 parcelas, porém as arrendaram a preços irrisórios a umas empresas pecuaristas, que, tudo indica, são do mesmo dono.
Este governo, aparentemente, tem medo dos terra-tenentes e com esse pressuposto difunde que, se se tocam nesses interesses criminais, se despertará o demônio do paramilitarismo, como se em algum momento o houvessem desmantelado. Sua determinação é não afetar o latifúndio improdutivo, ocioso e sonegador de impostos. Pelo visto, nem sequer se lhe dará um beliscão. Agora, os latifundiários estão esperando as transnacionais para vender ou arrendar. Em lugar de castigo, receberão um prêmio.
Essa terra foi amassada com sangue campesino, massacres paramilitares, fossas comuns, mais de 5 milhões de deslocados, falsos positivos e, portanto, por que não chamarmos delinquentes e aplicar-lhes sem tantas voltas a extinção de domínio reservada aos grupos criminosos?
Um terço do território do país está em mãos dos pecuaristas... Quem são, então, os latifundiários despojadores?
Quem são os responsável pelo índice GINI de 0.87 referido à desigualdade no campo?
Que alguém do governo explique ao país como foi possível que o INCODER entregasse 315 mil hectares de terra a testas de ferro dos senhores do despojo.
Por que o INCODER tentou eliminar os abrigos indígenas coloniais?
O escândalo de Agro Ingreso Seguro pretendeu descarregar-se contra a modelo Valery Domínguez, enquanto beneficiários poderosos passavam de agacho: “O programa Agro Ingreso Seguro, criado pela lei 1113 de 2007, outorgou nos primeiros meses de 2009, sob uma linha especial de crédito, 27.600 milhões de pesos, dos quais uma só companhia, Palmeros del Pacifico Sur, recebeu mais dinheiro que todos os beneficiários em qualquer outro estado do país, pois obteve 4.321 milhões [mais de 15% do total]. De igual forma, três empresas produtoras de palma pertencentes à família Sarmiento Angulo [Palmas Pororó, Palmas Sicarare, Palmas Tamacá] receberam 3.950 milhões [14,27% do total dos créditos]. Se se somam mais dois produtores de palma – Asociación de Agricultores Palma de Caunapí e Palmar El Diamante –, os produtores de palma receberam quase 40% dos dinheiros entregues”. Não somente então é o despojo da terra, mas sim o dos recursos públicos, usurpados para entregá-los aos mais ricos, a gente como Sarmiento Angulo, ranqueado pela revista Forbes como um dos mais ricos do mundo.
Pareceria que o Alzheimer se apoderou de alguns altos funcionários do Estado, e já não sabem de onde provém nem onde está o latifúndio. Não há cadastro confiável, não há estatísticas rigorosas. Engordam terras, não tributam, tudo está na gaveta do esquecimento, resguardada pela cumplicidade. Não se pode atacar aos gamonais e caciques da terra, porque as eleições estão próximas.
Se necessita um cadastro alternativo no qual participem organizações agrárias e sociais, as vítimas, os deslocados, com vedoria internacional internacional, para não deixar que esta tarefa, tão transcendental para a paz, seja assumida pelo desprestigiado e parcializado escritório de “restituição” dos vitimários.
Que não nos venha tragar a geofagia das transnacionais. Colômbia não é de Cargill, Pacific Rubiales, Corficolombiana, Mavalle, Pajonales, Valorem, Refocosta, Riopaila, Bioenergy, Mónica, Firmenish, Amaggi, Merhav, Aliar, Anglo Gold Ashanti, Billiton, Anglo American, Xstrata, Efromovich, Eike Batista e demais usurpadores que pretendem despojar-nos o território que nos pertence a todos.
Chamamos aos colombianos, a suas organizações sociais, políticas e gremiais, as Forças Armadas com sentimento de justiça e pátria, a defender este processo de paz, esperança de reconciliação e de novo país. Reiteramos: o processo de La Habana está caminhando. A paz se constrói com a verdade pura e limpa, não com falsificações midiáticas, nem mesquinharias. Estamos dispostos a discutir com paixão, chegado o momento, o tema da participação política, da ratificação cidadã dos acordos, para que, limpado o caminho, saiamos todos ao encontro da desejada paz, da dignidade humana.
Delegação de Paz das FARC-EP