A propósito da destituição de Gustavo Petro
Por
simples questão de princípios, nossa consciência está obrigada a
condenar a sentença da Procuradoria Geral da Nação que ordena a
destituição do prefeito de Bogotá, Gustavo Petro. Também por
eles, nossa consciência se sente comprometida com a inconformidade,
o protesto e a resposta popular a semelhante arbitrariedade. Basta o
simples sentido da decência para pôr-se ao lado do destituído
funcionário.
Acima
dos desencontros ideológicos e políticos que possamos ter com o
senhor Petro, não podemos permanecer impassíveis ante tão
desmedida mostra de arrogância oligárquica. Sempre expusemos que
são precisamente a intolerância, a ausência de garantias para o
exercício da oposição política e a violência recorrente do
Estado as causas da longa confrontação armada que se trava em nosso
país. A sentença do senhor Procurador simplesmente o confirma.
Ao
mesmo tempo em que o inquisidor Ordóñez anuncia sua condenação à
morte política contra o senhor Petro, a Promotoria Geral da Nação
revela que as investigações penais pelos mesmos feitos avançam e
que se lhes dará o máximo direito de preferência. De onde se deduz
que facilmente o prefeito de Bogotá pode terminar absurdamente entre
grades, por ter adotado uma decisão de política pública que não
resultou do agrado dos grupos econômicos que dominam o país.
A
arremetida contra o prefeito de Bogotá é a mesma que os poderes
hegemônicos mundiais dirigem desde há quatorze anos contra a
Revolução Bolivariana de Venezuela. E se fundamenta na mesma causa,
a proibição aos povos de adotar suas próprias decisões. As mal
chamadas democracias que apregoam os poderes internacionais do
capital consistem em que os cidadãos votem pelas pessoas e as
políticas corretas, as dispostas por eles. Em caso contrário,
sofrerão graves consequências e se lhes acusará, ademais, como os
únicos culpados.
Por
cima da ingenuidade e da inconsequência demonstrada em sua carreira
política pelo senhor Gustavo Petro, com cujo voto no Senado decidiu
a eleição do asqueroso senhor Ordóñez ao cargo de Procurador,
numa dessas vergonhosas alianças que finalmente conduzem a perder os
olhos, cremos que há que apoiá-lo, que há que sair às ruas a
reclamar pelo respeito à democracia, para que se ponha fim ao
reinado da exclusão política em Colômbia.
É
este último o que as FARC-EP exigimos dignamente na Mesa de
Conversações de Havana, no processo de paz que de maneira enfática
nos convida a manter o senhor Gustavo Petro. Captamos com clareza
diáfana o significado do sinal que nos envia a sentença do
Procurador, inimigo declarado da solução política ao conflito. Do
mesmo modo que observamos a complacência do Presidente Santos, quem
preferiu abordar dissimuladamente o tema sob o viés da corrupção.
Não
é às FARC-EP a quem o senhor Petro deve exortar a perseverar no
processo de paz. É ao governo nacional, que todos os dias declara
guerra de mil modos diferentes ao povo colombiano. Ao mesmo tempo em
que ao senhor Petro se condena à morte política, se enclausura em
prisão a inumeráveis compatriotas que lutam contra o regime por
vias legais, como aos três dirigentes sindicais de Pacific Rubiales,
a David Ravelo Crespo ou a Huber Ballesteros, para citar só uns
poucos. A outro altíssimo número, se lhes assassina e desaparece na
impunidade total.
Decidimos
expressar nossa solidariedade com o senhor Petro e a cidadania
bogotana, que tem todo o direito de exigir o respeito à sua vontade,
acima das prováveis acusações que se apressarão a fazer o general
Palomino e o ministro Pinzón, os quais, após tachá-los de vândalos
e infiltrados, não vacilarão em lançar sobre eles as temíveis
hordas do ESMAD e do Exército, encarregadas de aplicar e disseminar
o terror com seus bastões, gases, bombas e disparos.
A
qualificada como violência legítima do Estado, sempre da mão com
as formas mais selvagens da mesma, igual que as normas e
jurisprudências que violentam a vontade popular, tão
abrumadoramente visíveis em nosso país, devem desaparecer
definitivamente se se quer alcançar a verdadeira paz. A paz com
justiça social implica assentar, por sua vez, umas bases mínimas
para desterrar a iniquidade. E isso significa reformas estruturais na
economia, na política, na institucionalidade e na sociedade
colombianas.
Consegui-lo
só será possível se a imensa maioria dos colombianos afetados
pelas políticas do regime se levanta unida a lutar por isso. São
eles os chamados a apropriar-se da bandeira da paz, a mantê-la em
alto acima da demagogia, das ameaças e do terror oficiais.
Levantar-se contra a ditatorial destituição do prefeito de Bogotá
é uma causa justa, porém inútil se, ao mesmo tempo, não apontar
contra o regime antidemocrático, neoliberal e violento que domina em
Colômbia.
SECRETARIADO
DO ESTADO-MAIOR CENTRAL DAS FARC-EP
Montanhas de Colômbia, dezembro de 2013
Montanhas de Colômbia, dezembro de 2013