"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Mandela e Fidel



Por
Atilio A. Boron  


A morte de Nelson Mandela precipitou uma catarata de interpretações sobre sua vida e obra, todas as quais o apresentam como um apóstolo do pacifismo e uma espécie de Madre Teresa da África do Sul. Se trata de uma imagem essencial e premeditadamente equivocada, que esconde que, após a matança de Sharpeville, em 1960, o Congresso Nacional Africano [CNA] e seu líder, precisamente Mandela, adotam a via armada e a sabotagem a empresas e projetos de importância econômica, porém sem atentar contra vidas humanas. Mandela percorreu diversos países da África em busca de ajuda econômica e militar para sustentar esta nova tática de luta. Caiu preso em 1962 e, pouco depois, foi condenado a prisão perpétua, que o manteria relegado num cárcere de segurança máxima, numa cela de dois por dois metros, durante 25 anos, salvo os dois últimos anos, nos quais a formidável pressão internacional para conquistar sua libertação melhoraram as condições de sua detenção.


Mandela, portanto, não foi um “adorador da legalidade burguesa”, mas sim um extraordinário líder político cuja estratégia e táticas de luta foram variando segundo mudavam as condições sob as quais travava suas batalhas. Se diz que foi o homem que acabou com o odioso “apartheid” sul-africano, o qual é uma meia verdade. A outra metade do mérito corresponde a Fidel e à Revolução Cubana, que, com sua intervenção na guerra civil de Angola, selou a sorte dos racistas ao derrotar as tropas do Zaire [hoje República Democrática do Congo], do exército sul-africano e dos exércitos mercenários angolanos organizados, armados e financiados pelos EUA através da CIA. Graças a sua heroica colaboração, na qual uma vez mais se demonstrou o nobre internacionalismo da Revolução Cubana, se conseguiu manter a independência de Angola, assentar as bases para a posterior emancipação de Namíbia e disparar o tiro de misericórdia contra o “apartheid” sul-africano. Por isso, inteirado do resultado da crucial batalha de Cuito Canavale, em 23 de março de 1988, Mandela escreveu desde o cárcere que o desenlace do que se convencionou chamar “a Stalingrado africana” foi “o ponto de inflexão para a libertação de nosso continente, e de meu povo, do flagelo do ‘apartheid’.” A derrota dos racistas e seus mentores estadunidenses assestou um golpe mortal à ocupação sul-africana de Namíbia e precipitou o início das negociações com o CNA que, a pouco andar, terminariam por demolir o regime racista sul-africano, obra compartilhada daqueles dois gigantescos estadistas e revolucionários. Anos mais tarde, na Conferência de Solidariedade Cubana-Sul-africana de 1995, Mandela diria que “os cubanos vieram a nossa região como doutores, professores, soldados, expertos agrícolas, porém nunca como colonizadores. Compartilharam as mesmas trincheiras na luta contra o colonialismo, o subdesenvolvimento e o ‘apartheid’... Jamais esqueceremos este incomparável exemplo de desinteressado internacionalismo”. É um bom lembrete para os que ontem e ainda hoje falam da “invasão” cubana a Angola.


Cuba pagou um preço enorme por este nobre ato de solidariedade internacional que, como relembra Mandela, foi o ponto de inflexão da luta contra o racismo em África. Entre 1975 e 1991, cerca de 450.000 homens e mulheres da ilha passaram por Angola, jogando nisso sua vida. Pouco mais de 2.600 a perderam, lutando para derrotar o regime racista de Pretória e seus aliados. A morte desse extraordinário líder que foi Nelson Mandela é uma excelente ocasião para render homenagem a sua luta e, também, ao heroísmo internacionalista de Fidel e da Revolução Cubana.

Tradução: Joaquim Lisboa Neto

Tomado de Resumen Latinoamericano