Na Colômbia a luta é pela legitimidade e legalidade da mobilização social
Editorial
ANNCOL
Não
caíamos na armadilha que nos está armando a falsimedia santista: A
lua atual não é entre Ordoñez e Petro, mas sim entre o povo
humilde mobilizado pela Paz com Justiça Social, Democracia e
Soberania, enfrentado ao modelo de “Democracia Genocida” que a
oligarquia vende pátria e o imperialismo impuseram por séculos na
Colômbia.
A
situação atual tem sua origem em 1946, há 67 anos, no governo
oligárquico e genocida do antioquenho Mariano Ospina Pérez, que
“primeiro, deslegitimou, depois ilegalizou e finalmente perseguiu
violentamente o protesto social” liderado pelo dirigente popular do
MIR-Liberal Jorge Elíécer Gaitán; o que desembocou em seu criminal
assassinato a 9 de abril de 1948, na insurreição popular que lhe
sucedeu, no levantamento armado posterior, na tentativa de legitimar
e legalizar o Estado oligárquico com a ditadura do General Rojas
Pinilla e, quando esta já não funcionou, no pacto bipartidarista
liberal-conservador da Frente Nacional de 1957. Desde essa época,
foi impedida a mais mínima possibilidade de adiantar um protesto
social Legítimo e Social na Colômbia.
Em
seguida, vieram os governos liberal-conservadores da Frente Nacional
que, em 1964, com o cacique caucano e o falangista Gómez Hurtado
iniciaram a agressão militar conjunta Colombo-Ianque a Marquetalia,
Riochiquito, o Pato e o Guayabero no sul do País, que deram origem
às FARC, e a repressão violenta aos colonos da selva do
Carare-Opón, que deu origem ao ELN, e ao início em toda a Colômbia
da guerra contra insurgente contra o “inimigo interno”;
enterrando, assim, definitivamente, qualquer possibilidade de
adiantar o protesto social Legítimo e Legal na Colômbia.
Qualquer
tentativa de protesto ou mobilização social foi e tem sido até
hoje respondida [relembremos a passada Paralisação Agrária e
Popular de agosto 2013] seguindo o esquema condenado a fracassar do
antioquenho Ospina Pérez: Primeiro, a deslegitimação, usando as
formas mais perversas e grosseiras de satanização pública e
religiosa; depois, a ilegalização, usando a Lei santanderista
sempre como uma arma política contra os “inimigos internos” e,
finalmente, sua repressão militar violenta e desproporcionada.
Porém,
o esquema voltou a fracassar: Vieram as mobilizações e as
Paralisações Cívicas do ’77 contra López Michelsen, a Segurança
Nacional do binômio torturador de Turbay Ayala e do general Camacho
Leiva, a paz de cemitério do genocida Belisario Betancur, a irrupção
violenta contra o Estado do narcotráfico durante o governo do
clandestino sinédrio do
Presidente Virgílio Barco,
e o arranjo pragmático [segundo revelou Pastrana] de uma nova Frente
Nacional, desta vez ampliada com o M-19 e os maoístas do EPL aliados
a Carlos Castaño, e a promulgação da Constituição neoliberal de
1991, a qual não passou de ser uma saudação à bandeira que
justificaria as atrocidades posteriores.
Não
em vão foi firmada por seus quatro símbolos mais emblemáticos do
Poder dessa época na Colômbia: Gaviria, Serpa, Gómez-Hurtado e
Navarro. À Mobilização social reconhecida na letra se opuseram um
sem-número de impedimentos práticos e do Poder fáctico narco-
paramilitar criado pelo próprio Estado, durante os governos de
Samper e o octênio de Uribe Vélez, e que voltaram a fazer
impossível qualquer mobilização social Legítima e Legal e, por
outro lado, se fizeram possível que a Colômbia neoliberal
regulamentada naquela constituição adquirisse o honroso nome de
“Democracia Genocida” e se convertesse num dos países mais
desiguais do mundo.
O
início de um processo de paz com as Farc em 2010, junto com a luta
de facções no bloco de Poder dominante e o barulho alarmante nas
costuras da Constituição do ’91 abriram uma possibilidade à luta
popular para expressar-se Legítima e Legalmente por meio de uma
mobilização social ampla e, dessa maneira, reivindicar suas
aspirações de uma Colômbia em Paz com Justiça Social, Democracia
verdadeira e Soberania, que são as aspirações de todo o Povo
Trabalhador colombiano.
No
entanto, o obscuro governo Santos, sem nenhuma imaginação, preferiu
continuar
a mesma e tradicional estratégia de Ospina Pérez: Deslegitimar,
Ilegalizar e massacrar militarmente a mobilização social, o que
levou a luta popular a novos graus de desenvolvimento e qualidade
Política.
O
catalisador foi a destituição do Prefeito Petro por parte do
Procurador Ordoñez, que é uma das facas políticas mais afiadas que
a Oligarquia vende pátria tem para liquidar de maneira incruenta a
seus inimigos, o que desatou uma multitudinária mobilização social
contra a sevícia do Poder Dominante.
O
ruído das costuras da Constituição do ’91 se fez ainda mais
notável e se percebeu mais claramente por todos os colombianos a
improcedência monstruosa da atual Carta política da Colômbia. A
tal extremo que inclusive vários dos membros que a redigiram e a
firmaram originariamente como Serpa, Navarro, Angelino etc
reconheceram suas anomalias e deformidades, o que deu origem a um
Processo Constituinte Popular para discutir amplamente a necessidade
de uma nova constituição mais de acordo com a realidade do país.
Porém,
não. O santanderismo dominante e no Poder, que como o mostrou o
Procurador Ordoñez, diz que primeiro é a lei e depois a realidade,
[a tal paralisação agrária não existe. Não tomo partido nem por
Petro nem por Ordoñez] insiste, contra toda evidência e como um
avestruz, nas eleições. Confiado em seu triunfo eleitoral, apregoa
que não é necessária uma nova Constituição na Colômbia e muito
menos abrir esse Processo Constituinte Popular por meio de uma
Assembleia Constituinte ampla, democrática e popular como a que
propõem as FARC para ratificar o acordo final que se pactue em
Havana. E nisso estamos. Não em outra coisa.
Assim,
pois, que bem-vindos todos os que estejam por abrir passagem nas ruas
e rodovias da Colômbia a um Processo Constituinte novo e Popular que
dê Legitimidade, Legalidade e não assassine a bala a mobilização
social. Todos aqueles que lutaram desde sempre, ou como Petro e
Navarro e tantos outros que estão sofrendo em carne própria a
realidade e a hegemonia do Poder dominante e estão chegando
atualmente à clareza consciente e à elevação política desta
necessidade da sociedade Colombiana e a mobilizar-se unitariamente.
A
unidade ampla e diversificada da gente comum abrirá [que ninguém
duvide, nem sequer
Pinzón, Ministro da guerra]
o caminho para uma nova Democracia com Paz, Justiça Social e
Soberania, sem importar o tempo que isso requeira, porque não é um
assunto das próximas eleições. É uma tarefa histórica e ninguém
será inferior a ela, nem deixará de tomar partido frente a ela. E
nisso estamos. Não em outra coisa.
Tradução:
Joaquim Lisboa Neto