A Colômbia e o elo leninista atual
Escrito
por Por Alberto Pinzón Sánchez (http://anncol.eu)
Sempre,
ao fazermos a análise de classes na Colômbia, temos dito até o
cansaço que, desde quando Francisco de Paula Santander tomou o poder
em Bogoá junto com sua turma de conjurados conspiradores,
recentemente morto nosso pai Libertador Bolívar, instaurou-se
no país um regime de dominação, exploração e submissão violenta
das demais classes subalternas, com a mantido sob o bipartidarismo
sectário e agressivo de uma "oligarquia crioula", ou uma
amálgama indissolúvel formada por latifundiários escravocratas de
Popayan, Cartagena e do planalto condinamarco-boyacense, com
financistas e exportadores de matérias primas e produtos agrícolas,
primeiro para a Inglaterra e outros países europeus e, depois,
quando em meados do século XX esta potência colonial foi
substituída, para os EUA
Esta
classe de “crioulos privilegiados” (ricos nascidos na Colômbia)
com sua antecipada e férrea aliança com o governo dos EUA, perdura
até a atualidade. Quem tiver dúvidas pode consultar o texto
clássico do historiador Álvaro Tirado Mejía: "Colombia Siglo
y Medio de Bipartidismo", editado entre outras coisas pela
Biblioteca da Presidência da República Ernesto Samper Pizano.
Bogotá.1998.
Esta
amálgama classista determinou objetivamente a "contradição
essencial" ou como denominava Lênin: "o elo
fundamental que permite agarrar os demais elos da cadeia de
acontecimentos históricos" e, por esta razão, quando
os primeiros marxistas colombianos pegaram teórica e praticamente
este primeiro elo, puderam definir (também como propunha Lênin) "a
tarefa fundamental" como uma tarefa anti-oligárquica e
anti-imperialista que tornasse possíveis as mudanças essenciais que
a sociedade colombiana hoje demanda e que até o momento têm sido
postergadas. Nunca ninguém propôs às classes subalternas
antagônicas ou Povo Trabalhador (segundo a categoria definida por
Gramsci) "uma tarefa antielite e anti-império",
e sim contra uma classe concreta definida histórica e universalmente
e contra a política desse império Global que (também a partir de
sua definição por Lênin) se chama imperialismo.
Com
isso e seguindo o ensinamento (também de Lênin) de que "a arte
de um político consiste em encontrar e agarrar com força o elo que
menos possa ser arrancado de suas mãos, que seja o mais importante
em um momento determinado e garanta o mais possível a quem o possua,
apoderar-se da cadeia"; é que no momento presente, o elo atual
constituído pelo Processo de Paz de Havana (http://pazfarc-ep.org/),
permite-nos fazer uma análise de classe no interior do que está
acontecendo nessa amálgama oligárquica dominante na Colômbia: a
disputa por sua direção entre Uribe Vélez e o atual presidente JM
Santos.
Partimos
do fato comprovado de que o "Uribo-Santismo" é a máxima
coagulação na esfera da ideologia neoliberal dominante que a
oligarquia transnacionalizada conseguiu impor, paulatinamente, em
todo o aparato Estatal da atual Colômbia, com seus esquadrões
fascistas narco-paramilitares, a partir das últimas quatro décadas.
No
entanto, o processo de Paz de Havana ou elo atual, gerado a partir da
confluência de uma série de circunstâncias favoráveis internas:
(não poder derrotar militarmente a insurgência guerrilheira),
depois da ofensiva gigantesca militar-paramilitar do Plano Colômbia
durante os 8 anos de Uribe Vélez, retomada da massiva Mobilização
Social e Popular) e de circunstâncias internacionais: perda da
hegemonia "unipolar" do imperialismo norte-americano,
surgimento da Unasul e da CELAC, avanços nos processos democráticos
e anti-imperialistas na Bolívia, Venezuela, Equador, Argentina,
Uruguai, Brasil e outros), gerou-se uma diferenciação,
realinhamento e pugna externa no interior da amálgama oligárquica,
inconcebível até há apenas uns anos na Colômbia entre os que
estão por destruir o processo de Paz de Havana, usando todas as
formas de luta, e os que estamos a favor de sua completa culminação.
Mas
há fatos políticos que estão exercendo um peso desmedido sobre o
elo atual, com a finalidade de impedir que se possa agarrar o outro
elo da cadeia: o das mudanças que a sociedade colombiana necessita e
quer. Um, que a força social, política e militar representada por
Uribe Vélez não foi derrotada. E dois, que JM Santos não se deu
conta disso, e o que é pior ainda, anda com a pretensão
parlamentarista de realizar uma "reforma presidencialista"
na constituição vigente para equilibrar, através de leguleios e
cooptações e sem a participação popular, os poderes que não pode
controlar ou equilibrar nos seus quatro anos de governo anterior.
Uma
reforma constitucional que pretende se antecipar ao referendo dos
acordos a serem alcançados em Havana e, claro, atravessar pela
verdadeira reforma da Constituição de 1991 que, "necessariamente"
deverá se dar ao final do que for pactuado em Havana. Um reforma
constitucional apresentada ao parlamento enquanto o chefe dos
plenipotenciários do governo em Havana "engabela" a
contraparte com a discussão sobre as intimidades da senhora Clara
Rojas, com a finalidade de que não haja discussão aberta e
democrática sobre a antiga e tão conhecida proposta insurgente de
eleger democraticamente e através do sufrágio público o Procurador
da República, o Defensor do Povo, as altas Cortes e, enfim, os que
Santos suspeita que são fichas incondicionais de Uribe Véle e ainda
não pode meter no bolso.
Santos
ainda não conseguiu entender como se apresentar publicamente como
partidário de uma feliz culminação do Processo de Paz de Havana
com este tipo de "cachorradas" políticas e, além disso,
pretender contribuir para a derrota definitiva de Uribe Vélez.
Traduziu:
Luiz Manuel Cano Prestes