"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Esperamos que não seja assim, Santos.


Por Timoleón Jimenez, comandante do Estado-Maior Central das FARC-EP

A maioria dos meios noticiosos, em particular os pertencentes aos poderosos monopólios midiáticos, celebram a proximidade da firma de um Acordo Final em Havana. O Presidente Juan Manuel Santos declara ter empreendido uma campanha decidida pela paz, centrada no fundamental, na aberta difusão de seu otimismo em torno de um acordo de paz definitivo. Parece estar em marcha uma onda irresponsável de sensacionalismo em torno do tema.

A paz é um assunto demasiado sério para permitir sua envoltura em truculências encaminhadas a desinformar e manipular a opinião pública. De repente a mentalidade dos colombianos resulta invadida pela ideia persistente de que a paz consiste, de modo exclusivo, na desmobilização e entrega de armas por parte das FARC-EP e, o que é mais grave, que essa eventualidade é praticamente um fato tão consumado como o triunfo de Nairo em Espanha.

As FARC-EP somos os menos interessados em que se apague o otimismo e a esperança de milhões de colombianos com relação à firma de um acordo definitivo de paz em Havana. Firmamos o Acordo Geral para a Terminação do Conflito e a Construção de uma Paz Estável e Duradoura, em agosto de 2012, com o propósito certo de chegar a um Acordo Final nas conversações. Nisso nossa posição não mudou.

Existem setores em Colômbia que se ofendem sobremaneira pelo fato de que as FARC-EP falemos que na Mesa de Conversações estão sentadas duas partes iguais, que merecem exatamente o mesmo respeito, e que têm todo o direito a expor seus pontos de vista. Em nenhuma parte do Acordo Geral se declara algo em contrário. E mais, esse acordo está concebido nesse espírito, com o propósito expresso de conseguir concretizar as duas vontades.

Com independência do que pensem os inimigos declarados da paz e do processo de Havana, consideramos completamente legítimas nossas propostas e aspirações, que não são tampouco coisas do outro mundo, tal e como podem verificá-lo diretamente os que leiam nossas propostas publicadas acerca dos pontos da Agenda em discussão. Ali não falamos de revoluções por contrato, mas sim de reformas elementares para tornar possível a paz.

Se conhece da chegada a acordos parciais sobre os três primeiros pontos da Agenda, e também acerca da existência de umas limitações, uns pontos pendentes sobre os quais não foi possível chegar a um consenso, que se encontram no congelador à espera de serem retomados e definidos pelas partes. Há que advertir que, apesar da importância de seu conteúdo, a posição do governo é um não rotundo às matérias de que se ocupam tais limitações.

Queremos crer que o otimismo do Presidente Santos se fundamenta numa mudança das posições de seu governo quanto aos temas relacionados com o modelo econômico e institucional do Estado colombiano, do que tratam os pontos pendentes, e sobre os quais reiteradamente seus porta-vozes têm expressado que não estão em discussão. Só isso poderia explicar que aspire a um acordo antes do fim deste ano. Se assim fosse, se trataria de uma notícia excelente.

Sobretudo quando se repete incessantemente que nada está acordado até que tudo esteja acordado. Em menos de um ano vimos um país rural mobilizando-se e reclamando políticas a seu favor por parte de um governo que só pensa no interesse das grandes corporações nacionais e estrangeiras. Da Guajira ao Putumayo e do Pacífico às planícies orientais a Colômbia espera uma atitude diferente por parte do governo. Igual que nós outros na Mesa.

Nosso interesse real é chegar a acordos completos quanto aos três temas da Agenda que restam dos seis contemplados. Vítimas começa agora, e se avança bem, considerando as audiências que a Mesa de Havana cumpre com suas delegações. Porém, no fundo há um tema impressionante que preocupa. Sem ter começado a discussão, o governo já tem pronto um marco jurídico para a paz, ao qual aparentemente espera que nos submetamos porque sim.

É evidente que o Estado colombiano, com participação dos três poderes, esteve construindo, à revelia da Mesa e sem ter em conta absolutamente nossas posições, que nem sequer havíamos podido expor porque não se havia abordado ainda o ponto, um pacote sobre justiça transicional e questões afins, para apresentar-nos como um fato consumado com o qual devíamos concordar.

Nossa Delegação já expressou claramente nosso critério sobre a matéria.

Do qual nem o governo nacional, nem a grande imprensa, nem ninguém parece dar-se por informado. Como se a Mesa de Havana houvesse sido instalada para que as FARC-EP chegássemos a ela a perguntar onde havia que lançar a firma sobre a lista de imposições do Estado. Em nenhuma parte do Acordo Geral se contempla isso. E nenhuma pessoa, com um mínimo de equanimidade em sua análise, pode considerar válida uma atitude que desconhece por completo a contraparte.

Assim passa também com a comissão técnica para assuntos de desarmamento e normalização. Se tratou de uma iniciativa nossa que o governo acolheu com prazer. E a cuja instalação acessamos como uma mostra palpável de nossa vontade de reconciliação, apesar de se tratar de uma mera formalidade. Porque se trata de uma comissão bilateral, da qual têm que fazer parte comandantes importantes das FARC-EP, para discutir com os generais e coronéis as possíveis fórmulas.
 
Como comissão técnica e assessora, só pode existir e funcionar uma vez esteja completamente integrada. Porém, a mídia fala que a comissão de generais viaja a Havana para assessorar desde hoje a Mesa, o qual aplaudem como o passo mais sério para a entrega das FARC. Terá que esperar a chegada de nossos comandos a Havana, ouvir suas exposições e o debate com os generais, do qual sairão recomendações ou propostas para a Mesa.

Resulta incrível, então, o modo como começam a adiantar-se a tudo. O ministro Pinzón declarou que a comissão terá por objetivo evitar que as FARC aprontem uma armadilha para o país. Cabe perguntar-se realmente quem está pondo a armadilha para quem. Será que o exaltado otimismo oficial e midiático aponta a criar uma ideia fantasiosa para, quando apareçam as dificuldades previstas, poderem romper e lançar toda a culpa sobre nós outros? Esperamos que não seja assim, Santos.