Somos sonhadores, mas não os únicos
La
Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 24 de setembro de 2014
Hoje
queremos dizer para todos: “Imagina que não há um paraíso nem
nenhum inferno debaixo de nós; acima de nós, somente o céu.
Imagina que não há por que matar, imagina a toda gente vivendo a
vida em paz. Imagina que não há posses, nenhuma necessidade de
cobiça ou fome, senão a irmandade do homem. Imagina a toda gente
compartilhando o mundo. Tu podes dizer que sou um sonhador, porém
não sou o único.”
A
propósito destas palavras que parafraseiam a linda canção IMAGINE
de John Lennon, queremos refletir sobre
as declarações do presidente Santos quando disse: “Que lindo
poder transladar isso para a Colômbia para que os colombianos
imaginemos a Colômbia em paz”. E é que, simplesmente como FARC,
estamos de acordo, porém é necessário refleti-lo em fatos
concretos.
Como
um gesto de generosidade com o povo e com as vítimas que têm
clamado por um cenário sem hostilidades, se deveria proceder a
brindar não só uma canção de paz, mas sim o fato concreto do
cessar bilateral de fogos que evite mais derramamento de sangue, o
armistício que nos coloque na reta final de nossa reconciliação.
Fazer
uma excursão em função da paz, como a que está protagonizando o
presidente dos Estados Unidos, implicaria, então, para ir mais além
da retórica, esclarecer, entre outros, sem mais evasivas, o fenômeno
do paramilitarismo para desentranhar suas origens, seus efeitos e os
responsáveis. Um complemento necessário é, sem dúvida, a
abordagem de temas sensíveis dentro da confrontação como são a
ingerência no conflito interno de potências estrangeiras que mantêm
a Colômbia em condições de país ocupado, e assuntos como o uso
desproporcionado da força num plano de assimetria criminal, por
parte do governo, na contramão dos princípios mais elementares que
regem a guerra.
Dentro
da mesma perspectiva, não é pertinente seguir mostrando o processo
de paz que se adianta em Havana como um novo modelo de justiça
transicional. Sendo consequentes com a realidade, o correto seria
propender por processos de paz pós acordo e normalização que
surjam do consenso e não de posições unilaterais, como a que
entranha o marco jurídico e sua justiça transicional. Para a
insurgência o verdadeiro e único marco jurídico para a paz não é
o que faz trâmite no parlamento e nas cortes a instâncias do
executivo, mas sim o Acordo Geral de Havana e o que dele se derive.
Também
queremos nos referir ao tema da mudança climática que ocupa as
manchetes e a atenção do mundo. Um discurso ambientalista coerente
deve corresponder-se com ações que ponham ponto final à devastação
de nosso entorno e suas riquezas naturais. É hora de suspender –em
consequência com a aplicação de uma nova política antidrogas- as
aspersões aéreas de agentes químicos que tanto prejuízo e
vitimização têm gerado nos campos da Colômbia; há que deter a
feira de licenças express
a companhias mineiras e petroleiras, entre outras, que ameaçam o
ecossistema. O roubo da exploração mineiro-energética não pode
seguir na aventura louca da exploração do gás de xistos mediante o
procedimento de fracking
ou fratura hidráulica, nem na pretensão de destruir importantes
áreas da Amazônia, de parques naturais e zonas de reserva, tão
somente pela obsessão de satisfazer a voracidade capitalista das
transnacionais e de governantes corruptos.
Deste
tamanho são os problemas que deveremos resolver nesta etapa do
processo de diálogo, se na verdade queremos apressar a marcha para o
objetivo de paz com justiça social, democracia e soberania.
DELEGACIÓN
DE PAZ DE LAS FARC-EP