Guerrilha das FARC propõe esclarecimento da verdade e criação de fundo para reparação das vítimas
Por
Natacha Pitts de Adital.
No marco dos Diálogos de Paz, que
acontecem em Havana, Cuba, com o intuito de por fim ao conflito
armado colombiano, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
(FARC) e o governo do presidente Juan Manuel Santos estão agora
centrados na pauta que trata do tema "Vítimas”. Buscando
avançar na discussão e oferecer caminhos viáveis e concretos para
a reparação dos afetados, a guerrilha apresentou 10 propostas
inspiradas na "Declaração de princípios para a discussão do
ponto cinco da agenda: ‘Vítimas’”.
A primeira proposta é o
‘esclarecimento da verdade histórica do conflito e de seus
impactos sobre a população’. As Farc apontam que este propósito
constitui uma condição indispensável para a construção de um
eventual Acordo Final, com o qual a guerrilha estaria amplamente
comprometida. O esclarecimento da verdade histórica - destaca as
Farc –, além de ser uma exigência da sociedade como um todo, vai
permitir que as falsificações sofridas pela história do conflito
venham à tona.
Para possibilitar a concretização
da proposta, a guerrilha criou a ‘Comissão Histórica do Conflito
e suas Vítimas’, integrada por especialistas e investigadores
sociais que, de forma independente, deverá apresentar à sociedade e
às vítimas um relato que contribua para esclarecer as origens e
causas do conflito. Também apontará os principais fatores e
condições que facilitaram ou contribuíram para a persistência e
os efeitos e impactos mais notórios do conflito sobre a população
colombiana.
Ainda nesse contexto de
esclarecimentos, a guerrilha pede a formação de uma Comissão da
Verdade, independente, com plena autonomia e cujo trabalho deverá
consistir em contribuir para esclarecer a verdade sobre o processo de
vitimização e as violações graves aos direitos humanos e ao
direito internacional comunitário. Ademais, prestar explicações
sobre os fatores, circunstâncias e sujeitos responsáveis pelos atos
de vitimização; recomendar e promover reformas estruturais e
institucionais voltadas a evitar novas violações de direitos no
futuro; e contribuir para concretizar os direitos das vítimas à
verdade, justiça, reparação e garantias de não repetição.
A Delegação de Paz da guerrilha
acrescenta que, como parte do esclarecimento da verdade, será
constituído o "Centro da Memória Histórica dos movimentos e
organizações sociais populares”, para recuperar a memória
histórica dos afetados.
Outro ponto destacado pelas Farc é o
6º, que diz respeito à ‘reparação integral das vítimas do
conflito e à formação do Fundo Especial para a Reparação
Integral (Feri)’. A intenção é que seja criado um conjunto de
medidas e ações voltadas para restabelecerem, plenamente, as
condições nas quais se encontravam as vítimas individuais e
coletivas no momento dos fatos vitimizantes, e compensar os impactos
causados. Além das econômicas, as medidas e reparações deverão
ser também sociais, culturais, simbólicas e psicossociais.
Será criado ainda um "Plano
Nacional para a Reparação Integral das Vítimas do Conflito”,
focado na justiça social, territorial e de gênero, que terá
capítulos regionais e contará com metas e prioridades, programas e
projetos de reparação integral, tudo acompanhado por um Plano de
Investimentos correspondente. O Plano será acompanhado e controlado
por um Conselho Nacional e mantido por um Fundo Especial que terá a
participação direta de representantes das organizações de
vítimas.