Nossa relação com a terra
Não estamos apenas na Terra; somos a
Terra. Temos uma íntima relação com a Terra e, junto a todos os
organismos vivos, pertencemos a um mesmo plano. Não por acaso, há
um mesmo alfabeto básico em todos, das amebas aos vírus, dos peixes
aos pássaros, dos animais aos humanos, todos somos formados por 20
aminoácidos e 4 ácidos nucleicos (adenina, guanina, timina e
citosina); ocorre apenas uma diferença de combinação de sílabas
desse alfabeto.
Nossa relação com a Terra está
implícita na convivência peculiar com a biodiversidade. Convivemos
de perto com as mais diversas formas de biodiversidade de vírus,
bactérias, protistas, plantas e animais.
Nosso corpo mantém mais de 100
trilhões de células compartilhando átomos com tudo o que está ao
nosso redor, enaltecendo a exuberância da vida. Somos todos, em
outras palavras, parte do universo; é por isso que não estamos
apenas na Terra, mas somos a Terra, em plenitude.
Nossa íntima relação com a
biodiversidade mostra que, não por mero acaso, no corpo de cada ser
humano há mais ou menos 71% de água (a mesma porcentagem que há no
Planeta Terra), nossa taxa de salinização do sangue (3,4%) é a
mesma dos mares.
Simplesmente, 60% do nosso corpo é
oxigênio. Se incluirmos o carbono, hidrogênio e nitrogênio
existentes no nosso corpo, temos então 95% da massa total do ser
humano. De 92 elementos químicos existentes na natureza, 17 deles
regulam todo o processo da vida.
É com essa rica demonstração da
natureza que convivemos de perto. Leonardo Boff, em "A Opção
Terra” (ed. Record, 2009, 222 págs) relata que, segundos estudos,
calcula-se que haja 5.000 tipos de bactérias, 100 mil espécies de
fungos, 300 mil espécies de árvores, 850 mil espécies de insetos.
É procurando preservar essa história
riquíssima da natureza que a busca pela sustentabilidade se
apresenta como oportuna e imprescindível para a promoção e
devolução do equilíbrio à Terra e aos ecossistemas para que o
meio ambiente possa continuar sendo habitável.
Cabe ainda indagar: mas por que essa
preocupação em atingir a sustentabilidade? Porque o modo de
produção atual, embasado na mais absoluta "necessidade
artificial” e, por isso, capaz de aumentar mais e mais a produção
de bens e serviços à disposição dos povos, tem explorado e
destruído as bases naturais, o patrimônio ecológico e os recursos
da natureza do qual a produção física de mercadorias é altamente
dependente, colocando em risco as condições de vida. Se parássemos
agora, nesse exato momento, com todo o processo de produção e
consumo, a Terra precisaria de mil anos para recuperar-se do estresse
causado pela forma humana de agir.
O efeito mais lamentável desse modo
de produzir, que destrói sobremaneira a natureza, é a diminuição
acentuada das diversas formas de vida, ou seja, da biodiversidade que
começamos a falar no início deste artigo.
Por conta de uma superprodução de
mercadorias, o sistema atual de produção capitalista já destruiu
15 dos 24 serviços ambientais essenciais para a manutenção da
vida, como a regulação dos climas, os solos, os oceanos, a
polinização etc, e está pondo em curso a defaunação (um planeta
sem animais).
Apenas para termos uma ideia global
dessa destruição dos ecossistemas, ou seja, dos principais serviços
ambientais, a Organização das Nações Unidas (ONU), declara, a
partir de estudos feitos, que até 2048 não mais poderemos tirar
qualquer alimento dos oceanos, pois a extração de peixes tem sido
muito maior que a capacidade de reposição.
Não se pode perder de vista que
somos dependentes do meio ambiente. Sem meio ambiente não há
produção de absolutamente nada. Tudo vem do meio ambiente. Qualquer
produto que se queira produzir tem um componente da natureza
"incutido” nele, incluindo a energia. É por essa questão
que, quanto mais se produz, mais se esgota os recursos da natureza e
mais se polui o meio ambiente, ferindo Gaia, o nome dado pelos gregos
ao planeta Terra.
Quanto mais se queimam combustíveis
fósseis (petróleo, gás, carvão), mais se emite dióxido de
carbono e mais se aquece o planeta. É isso, no cômputo geral, que
se convenciona chamar de efeito estufa.
É por isso que se deve diminuir o
ritmo de produção econômica mundial. É por isso que a busca da
sustentabilidade se faz importante, tendo em conta que essa prática
requer níveis de produção em menor escala para, com isso, promover
a preservação do meio ambiente; para oferecer então equilíbrio à
Terra.
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*Economista
e professor de economia na FAC-FITO e no UNIFIEO, em São Paulo.