Nova fase da Unasul
Por Emir Sader
Depois do seu lançamento, a
Unasul deu passos importantes para constituir a região em um espaço
de integração politica. Nessa primeira fase foi constituído o
Conselho Sulamericano de Defesa, que permite à região resolver seus
conflitos internos sem apelar à OEA. Foi assim que foi possível
resolver os conflitos entre a Colômbia, o Equador e a Venezuela,
assim como problemas internos à Bolívia. Da mesma forma, o Banco do
Sul surgiu como forma de financiamento de projetos conjuntos
regionais.
Porém, depois da sua fase de
lançamento, Unasul como que sofreu uma paralisia, em parte porque,
depois do mandato compartilhado entre a Colômbia e a Venezuela, se
geraram impasses, que fizeram com que a entidade ficasse praticamente
acéfala, até que se definisse o seu novo comando.
Recentemente esse impasse foi
superado e o ex-presidente colombiano Ernesto Samper assumiu a
direção geral de Unasul. A reunião desta semana no Equador
representa a retomada de Unasul. Uma retomada em grande estilo.
Se reúnem os presidentes de
toda a região, em Guayaquil e em Quito, com uma agenda com
temas relevantes – como projetos de integração energética, a
criação do passaporte único para os habitantes de toda a região,
entre outros. Ao mesmo tempo, será inaugurada a belíssima sede
construída pelo governo de Rafael Correa, em Quito, para abrigar
Unasul, que receberá, significativamente, o nome de Nestor Kirchner,
um dos maiores incentivadores da constituição de Unasul, junto com
Hugo Chavez e com Lula.
Ao mesmo tempo se realizará um
seminário organizado conjuntamente pelo Instituto Lula e pelo IAEN –
Instituto de Altos Estudos Nacionais, vinculado à presidência do
Equador -, que terá uma conferencia do Lula e uma conferência de
encerramento do Rafael Correa, além da participação de Ernesto
Samper, do vice presidente da Bolivia, Alvaro Garcia Linera, do
ministro de Relações Exteriores do Equador, Ricardo Patino, de Emir
Sader, entre outros.
Unasul terá, entre suas
responsabilidades maiores, a de buscar a aliança entre os países
que participam do Mercosul e os que estão vinculados à Aliança
para o Pacífico – grupos de governos que tem estratégias
distintas sobre os processos de integração. O Mercosul privilegia a
integração regional, enquanto a Aliança para o Pacifico o faz com
os Tratados de Livre Comercio bilaterais com os EUA.
Em princípio os dois projetos
competem entre si, mas Unasul se propõe a encontrar formas de
convivência e de colaboração entre eles. Este é um dos desafios
do mandato de Ernesto Samper.
Por outro lado, quando surgiu a
crise econômica no centro do capitalismo mundial, a Unasul esboçou
algumas medidas de resistência conjunta aos efeitos recessivos da
crise. Posteriormente cada país tratou de encontrar suas formas
próprias de resistir, mas se vê que a recessão internacional se
prolonga e essas formas se mostram menos eficientes que no início
para, por exemplo, neutralizar a livre circulação de capitais
especulativos pela região. Unasul pode retomar medidas conjuntas que
permitam não apenas uma resistência aos fluxos recessivos que vem
do centro do sistema, como encontrar outras formas de colaboração
econômica, que possibilitem o surgimento de um novo ciclo expansivo
das economias da região.
No seu conjunto, assim, no
momento em que tanto o Mercosul, quanto a Aliança para o Pacífico
revelam uma diminuição nos ritmos de avanço dos seus projetos, a
Unasul reaparece com um dinamismo que já havia tido na sua fase de
lançamento.