Repercussão mundial: 50 anos demonstraram que o isolamento entre Cuba e EUA não funciona
Por Marcela Belchior
(Adital)
Após anunciar a retomada
das relações entre Cuba e Estados Unidos, os dois países devem
adotar uma série de medidas para ampliarem o comércio e o fluxo de
pessoas entre os dois países. Nos próximos meses, os estadunidenses
deverão instalar Embaixada em Havana, como parte das ações que
põem fim à ausência oficial do país na ilha. "Esses 50 anos
demonstraram que o isolamento não funciona”, disse o presidente
estadunidense, Barack Obama. "É hora de ter uma nova
estratégia”, acrescentou o mandatário dos EUA. "Devemos
aprender a arte de conviver, de forma civilizada, com nossas
diferenças”, afirmou o presidente cubano Raúl Castro.
Para Obama, a política praticada entre os dois países há quase 53 anos está antiquada e não contribui para avançar em ambos os interesses. "Através dessas mudanças, temos a pretensão de criar mais oportunidades para o povo estadunidense e cubano e começar um novo capítulo entre as duas nações das Américas”, afirmou, em discurso oficial também divulgado pela televisão. "Estamos separados por pouco mais de 90 quilômetros, mas, ano após ano, uma barreira ideológica e econômica endureceu entre nossos países. No entanto, a comunidade cubana exilada nos EUA fez enormes contribuições ao nosso país — na política, nos negócios, na cultura e nos esportes”, reconheceu o capitalista.
O Papa Francisco foi crucial na mediação entre Cuba e EUA, funcionando como personagem-chave no diálogo entre as duas nações. Segundo o Vaticano, o Sumo Pontífice escreveu, durante os últimos meses, a Obama e Castro, "convidando-os a resolverem questões humanitárias de comum interesse, como a situação de alguns detidos”. Além disso, o Vaticano recebeu, em outubro passado, delegações de ambos os governos, sendo o único líder estrangeiro a participar das negociações.
Em nota divulgada pela Santa Sé, Francisco disse sentir prazer pelo restabelecimento das relações, "a fim de superar, pelo interesse dos respectivos cidadãos, as dificuldades que marcaram sua história”. Ambos os presidentes, em seus discursos de anúncio da retomada das relações, agradeceram pelo envolvimento do Santo Padre na facilitação do diálogo.
Um extenso conjunto de mudanças para normalizar as relações entre os dois países já foi iniciado com a permuta entre presos políticos de ambas as nações. Nesta quarta-feira mesmo, 17 de dezembro, já houve a libertação de Antonio Guerrero Rodríguez, Gerardo Hernández Nordelo e Ramón Labañino Salazar, três dos cinco cubanos que ainda se encontravam presos em território estadunidense. Os três já estão em solo cubano. O Governo de Cuba, por sua vez, libertou o estadunidense Alan Gross, sentenciado a 15 anos de prisão, acusado de planejar a instalação de uma rede ilegal de telecomunicações na ilha socialista
Os EUA têm defendido o que consideram "maiores liberdades individuais e reformas democráticas” na ilha. No que compete ao Parlamento dos EUA, ainda não há perspectivas para que medidas complementares contribuam para o vínculo entre as partes, o que também pode mudar em um futuro próximo.
O jornal The New York Times (NYT), diário de maior prestígio da mídia comercial nos Estados Unidos, publicou, nesta quarta, 17, que a retomada de relações é "um passo significativo que marca o fim de um dos capítulos mais desacertados da política exterior estadunidense”. Já o jornal Granma, periódico oficial do Partido Comunista de Cuba, avaliou a reabertura da diplomacia como uma medida de justiça, destacando o retorno dos cidadãos cubanos à pátria. "Voltamos!”, manchetou na capa da edição de ontem.