Unasul: 'Jogamos em casa' quando viajamos pela América do Sul, diz Dilma
Ao discursar na 8ª Cúpula Extraordinária da União
das Nações Sul-Americanas (Unasul), em Quito, no Equador, a
presidenta Dilma Rousseff destacou a palavra “integração” para
convidar os presidentes dos 12 países que compõem o bloco a se
unirem pelo enfrentamento da crise internacional, para a criação de
projetos de infraestrutura e a preservação da estabilidade
democrática da região.
Em uma retrospectiva dos desafios e avanços da
Unasul nos últimos meses, a presidenta defendeu ações conjuntas
que, na sua opinião, vão contribuir para a consolidação da agenda
externa do grupo. Segundo ela, este ano foi feito um importante
debate sobre os modelos de exploração dos recursos naturais, que
não devem apenas ser considerados como vantagem regional.
“É preciso transformar esses recursos em
ferramentas efetivas de diversificação produtiva e desenvolvimento
social, sob pena de ficarmos presos ao círculo vicioso da mera
exportação de matérias-primas”, afirmou. Aos presentes na
reunião dos Chefes de Estado e de Governo, Dilma pediu uma Unasul
“renovada, fortalecida e atuante”, que consolide a América do
Sul como “exemplo de paz, de união, em um mundo cada vez mais
conturbado pelas incertezas de ordem política e econômica”.
Destacando a atuação do bloco em algumas ocasiões,
a presidenta relatou as manifestações da Unasul contra os atos
violentos ocorridos na Venezuela em fevereiro, quando pelo menos três
pessoas morreram e 61 ficaram feridas após protestos. Para a
presidenta, a atuação no caso comprovou a “eficácia” da
entidade para auxiliar os Estados-membros na busca de soluções
“democráticas, pacíficas e negociadas em cenários de crise”.
Dilma elogiou as eleições ocorridas recentemente na
Colômbia, Chile, Bolívia, Uruguai e também no Brasil. Segundo ela,
saiu vitoriosa a agenda da inclusão social, do desenvolvimento com
distribuição de renda, do combate à desigualdade e da garantia de
oportunidades.
Ao chegar na nova sede da Unasul, a presidenta foi
recepcionada com honras militares e recebeu os cumprimentos do
presidente do Equador, Rafael Correa, e de duas crianças segurando
bandeiras do Brasil.
“Nós, países da Unasul, provamos que somos
capazes de enfrentar muitos dos desafios. Nos últimos anos, nossos
países aumentaram a renda per capita, diminuíram o desemprego e
reduziram os níveis de pobreza de suas populações”, disse. De
acordo com a presidenta, a cooperação dos países do bloco será
importante para a recuperação da crise econômica mundial.
O papel da Unasul como interlocutor global da região
em espaços de diálogo e de cooperação foi citado por Dilma.
Citou, como exemplo, a cúpula promovida em julho com o Brics,
formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. “Por
isso, tenho certeza que ao longo dos próximos anos vamos também
diversificar e buscar novas interlocuções”.
“Somos doze países com doze visões de mundo que
representam as experiências e aspirações de cada uma de nossas
sociedades”, observou, complementando que precisam a partir de
agora “construir sistematicamente o caminho do consenso que dá
vida ao nosso lema, ao nosso lema de convívio democrático
fundamental: unidade na diversidade e no respeito às características
de cada país”.
Ao final de sua fala, Dilma fez referência à
metáfora futebolística do secretário-geral da Unasul, Ernesto
Samper, que quando esteve no Brasil disse que se sente “jugando de
local” (jogando em casa, em português) quando visita o país. “E
quando viajamos pelo continente, como é o caso de hoje, sempre
'jugamos de local'”. concluiu.
A Unasul é formada por Bolívia, Colômbia, Equador,
Peru, Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai, Venezuela, Chile, Guiana
e Suriname. Entre os temas discutidos na cúpula estão a criação
da cidadania sul-americana, que vai facilitar a circulação dos
cidadãos dos 12 países-membros. A estimativa é de que 400 milhões
de pessoas sejam beneficiadas com a medida.
Cúpula
Presidentes e representantes de 11 países sul-americanos participaram hoje (5) da inauguração da primeira sede do organismo, em Guayaquil, a 420 quilômetros de Quito. A Cúpula Extraordinária, que teve início na quarta-feira (3) e termina hoje, deu o primeiro passo para o estabelecimento da livre mobilidade na região, com a chamada "cidadania sul-americana".O novo edifício, chamado Néstor Kirchner, em homenagem ao ex-presidente argentino e um dos impulsionadores da integração sul-americana, custou aproximadamente US$ 41 milhões, aportados do fundo dos países integrantes do bloco, e demorou dois anos para ser construído.
No Twitter, Samper afirmou: “5 de dezembro de 2014 passará para a história como o dia em que relançamos a Unasul mirando novas políticas e ações”. Os mandatários do bloco participam hoje de uma reunião privada onde discutem, além da implantação da cidadania sul-americana, diversos temas de desenvolvimento multinacional, sobretudo na área de infraestrutura, como a revitalização do Rio da Prata, a construção de ferrovias e rodovias para ligação com o Brasil.
De acordo com o secretário do bloco, a entidade deu o primeiro passo para o estabelecimento da livre mobilidade para os cerca de 400 milhões de habitantes que vivem nos 12 países que compõem o bloco a partir da adoção, ontem, da chamada "cidadania sul-americana". Durante cerimônia realizada nesta quinta-feira, o Suriname transferiu a presidência temporária do bloco para o Uruguai.
Para Samper, o passaporte sul-americano (similar ao Schengen na União Europeia) será o maior registro do que ocorreu na reunião no Equador. Em um prazo ainda não fixado, os sul-americanos poderão estudar, trabalhar e homologar títulos profissionais na região.
O documento será similar ao acordo que já existe entre os membros do Mercosul (Argentina, Brasil, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Venezuela), que contam com um visto de residência e de trabalho e cujos cidadãos podem viajar livremente apenas com a apresentação de um documento nacional.