Entrevista realizada por Ignacio Ramonet com o presidente venezuelano Nicolás Maduro. Extraida do sítio Pátria Latina
Ignacio
Ramonet: A oposição venezuelana lançou uma campanha, que encontra
eco em alguns meios internacionais, afirmando que o senhor não
nasceu na Venezuela, mas, em Cúcuta, Colômbia; e que possui dupla
nacionalidade, o que, segundo a Constituição, o invalidaria como
Presidente. Que comentários essa acusação lhe inspira?
Nicolás Maduro: O objetivo dessa loucura lançada por um demente da ultradireita panamenha é criar as condições para uma desestabilização política. Tentam conseguir o que não puderam fazer nem através das eleições, nem dos golpes de Estado, nem através das sabotagens econômicas. Estão desesperados. E se baseiam na ideologia anticolombiana que a burguesia e a direita venezuelanas sempre tiveram contra o povo da Colômbia.
A esse respeito, se eu houvesse nascido em Cúcuta ou em Bogotá, me sentiria feliz de ser colombiano. Porque é uma terra fundada por Bolívar. Se tivesse nascido em Quito ou em Guayaquil, também me sentiria orgulhoso de ser equatoriano, porque é uma terra libertada por Bolívar; ou em Lima, ou em Potosí, ou em La Paz, ou em Cochabamba, me sentiria feliz por ser peruano ou boliviano; e se houvesse nascido no Panamá, terra de Omar Torrijos, terra de dignidade, que fez parte da Gran Colômbia, de Bolívar, também me sentiria orgulhoso de ser panamenho. Porém, nasci e me criei em Caracas, berço do Libertador; nessa Caracas sempre convulsa, rebelde, revolucionária. E aqui estou como Presidente. Essas loucuras serão recordadas como parte da crise de desespero esquizofrênico na qual, às vezes, a direita internacional entra com o objetivo de acabar com essa réstia de luz que é a revolução bolivariana.
Por outro lado, o Presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, declarou recentemente que foram descobertas conspirações contra o senhor, com intenção de atentar contra sua vida.
Nicolás Maduro: Sim, o ministro do Interior, Rodríguez Torres, o Presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello e eu mesmo revelamos um dos planos de assassinato que estava sendo preparado para o dia 24 de julho, aniversário do nascimento de Simón Bolívar, e comemoração dos 190 anos da Batalha Naval de Maracaibo. Dispunham de um conjunto de planos que conseguimos neutralizar e que têm sempre sua origem na mesma direita internacional. Aí, aparece por exemplo, o nome de Álvaro Uribe (ex-presidente da Colômbia), que tem uma obsessão contra a Venezuela e contra os filhos de Chávez. Aparece também a velha máfia de Miami, a de Posada Carriles, que conta com o apoio de importantes instâncias de poder nos EUA. O governo de Barack Obama não quis desmontar essa máfia de Posada Carriles, um terrorista convicto e confesso, perseguido pelas leis de nosso país porque derrubou um avião de Cubana de Aviação, em outubro de 1976...
Posso garantir-lhe que continuaremos defendendo-nos, neutralizando esses planos... e vencendo. Se eles alcançassem seu objetivo, se criaria uma situação que não gostaria nem de pensar nela. A quem menos lhe convém que algo assim aconteça é a direita venezuelana. Desapareceria do mapa político de nosso país por 300 anos... Porque a Revolução tomaria outro caráter, sem dúvida, muito mais profundo, muito mais socialista, muito mais anti-imperialista. Espero que esses planos jamais tenham êxito, porque repercutiria muito mal para eles. E eu veria tudo lá do céu...
O senhor pensa que o fracasso da oposição em sua tentativa de desestabilização se deve à política que o senhor tem impulsionado, ou a uma mudança de atitude da própria oposição ante as eleições municipais do próximo 8 de dezembro?
Nicolás Maduro: Deve-se, principalmente, à fortaleza institucional da democracia venezuelana, e a decisão que tomei, apoiando-me nessa fortaleza, de derrotar o mais cedo possível a tentativa de insurreição e de violência. Neutralizá-lo. Não permitir que se estendesse. Eles tentaram uma espécie de insurreição nas principais cidades, nos dias 15 e 16 de abril.
Qual foi o grau de violência?
Nicolás Maduro: Assassinaram 11 pessoas humildes, entre elas, uma menina e um menino. E feriram a quase 100, dos quais pouco se fala. Teve gente que ficou com sequelas para toda a vida.
A oposição mostrou seu verdadeiro rosto golpista. Aparentava bons modos democráticos, porém, quando [em 5 de março], o comandante Chávez faleceu, decidiu desconhecer o resultado das eleições e tentar impor pela força –com o suposto apoio internacional dos EUA e de outros governos da direita-, uma operação para desestabilizar a Revolução. Conseguimos neutralizá-los e derrotá-los logo. Agora, não lhes resta outro caminho que voltar a tentar, pela via eleitoral, ocupar espaços nas prefeituras. Nós os obrigamos a que assim seja. Se não fosse por nossa decisão, de que a Constituição seja respeitada, eles teriam levado nosso país a uma situação de guerra civil.
Em recentes declarações, o senhor alertou sobre fissuras na unidade da Revolução. O senhor teme uma divisão do chavismo?
Nicolás Maduro: As forças divisionistas e dissolventes sempre ameaçaram qualquer Revolução. As aspirações ao poder de grupos de pessoas são uma negação do projeto da Revolução Bolivariana, que é de caráter socialista, e exige desprendimento e sacrifício. O comandante Chávez foi presidente porque as circunstâncias da história o colocaram nesse posto. E eu sou presidente, não por ambição individual ou porque represento um grupo econômico ou político; sou presidente porque o comandante Chávez me preparou, me designou e o povo venezuelano me ratificou em eleições livres e democráticas.
Assim, que todas essas forças dissolventes sempre existirão. Porém, a Revolução tem a capacidade moral, política, ideológica para sobrepor-se a qualquer tentativa de divisão de suas forças. Eu disse isso no Llano venezuelano, porque estava vendo com meus próprios olhos, lá mesmo, diante de mim, uma pessoa que se diz chavista, porém, por debaixo dos panos, é financiado pelos latifundiários, e ele tem um discurso chavista para dividir. Não é impossível que quando esse indivíduo constate que não é designado pela Revolução como candidato à prefeitura desse município, se lance por sua conta... Estamos em boas condições para conseguir candidaturas unitárias em quase todos os municípios do país; e teremos que fazer um grande esforço para derrotar as forças dissolventes desses setores que se dizem chavistas; mas, no final, acabam sendo aliados da contrarrevolução.
Em relação à prática governamental precedente, o senhor introduziu várias mudanças: crítica da insegurança, denúncia da corrupção e, sobretudo, o que chama o "governo de rua” Por que sentiu a necessidade de insistir nesses temas? E que balanço faz do "governo de rua”?
Nicolás Maduro: Em primeiro lugar, o "governo de rua”, estabeleceu nessa nova etapa um método para que exista uma direção coletiva da Revolução. Segundo: criou-se um sistema de governo onde não há intermediários entre o poder popular local e a instância de governo nacional. Trás solução para problemas concretos; porém, sobretudo, contribui à construção do socialismo, das comunas, de uma economia socialista, e a consolidação de um sistema público de saúde integral, gratuito e de qualidade, e de um sistema educativo público e gratuito de qualidade... E o "governo de rua” é uma revolução dentro da Revolução.
É também uma maneira de combater o burocratismo?
Nicolás Maduro: De vencê-lo. Propondo outro sistema. Porque os modelos de governo que herdamos expressam a forma de governar do Estado burguês, ele mesmo herdeiro da colônia, na América Latina. O presidente Chávez os derrotou mediante as Missões que constituíram um novo modelo de gestão das políticas públicas. Nós, estamos agregando o "governo de rua” às Missões, que, poderíamos dizer, é uma instrução direta do comandante Chávez. Ele nos ordenou, a Elías Jaua que era vice-presidente na época e a mim, que era vice-presidente político, que fôssemos construindo um sistema de governo regionalizado 0”popular”, dizia ele- e eu lhe pus "governo de rua”. Todas são instruções e orientações dentro da filosofia de um modelo socialista no qual o poder não seja das elites –nem elites burguesas, nem l]novas elites que se burocratizam ou se aburguesam-. Queremos que o poder esteja democratizado, que seja uma vacina contra o burocratismo, contra o aburguesamento e, além do mais, que nos permita alcançar a "eficiência socialista”.
Se a oposição ganhar as eleições municipais de 8 de dezembro próximo, é provável que chame a um referendo revocatório em 2015. Como o senhor vê essa perspectiva?
Nicolás Maduro: Estamos preparados para todos os cenários. Sempre diremos a verdade ao povo. Se a oposição conseguisse uma boa votação no 8 de dezembro, tentará aprofundar a desestabilização para dissolver nossa pátria, acabar com a independência e acabar com a Revolução do comandante Chávez, que retomou o conceito de Republica Bolivariana. Vão impor cenários de desestabilização violenta em primeiro lugar e os EUA tentarão acabar com os níveis de independência e de união que a América Latina possui hoje.
Temos uma grande responsabilidade, porque estamos defendendo um projeto que pode tornar possível outro mundo em nossa região e pode contribuir para criar um mundo multipolar, sem hegemonias econômicas, militares, nem políticas do imperialismo estadunidense. Boa parte do nascimento de outro mundo onde se respeitam os direitos dos povos do Sul –e, inclusive, dos povos da Europa, para que a Europa livre-se do neoliberalismo-, depende de que, na América Latina, triunfem definitivamente as ideias de constituir um bloco de força e de equilíbrio para consolidar a ideia de que já não somos nenhum "pátio traseiro/quintal” dos Estados Unidos. Tudo isso depende, em boa medida, do que aconteça por aqui.
Como o senhor explica o resultado da oposição no passado 14 de abril, e como pensa ganhar o próximo 8 de dezembro?
Nicolás Maduro: Há um eleitorado que sempre votou indistintamente na oposição. Porém, no dia 14 de abril, uma boa parte dos que não votaram em nós o fizeram por descontentamento, por coisas mal feitas, problemas acumulados... No entanto, esses eleitores nunca acompanharam as aventuras golpistas e antibolivarianas da direita. A esses venezuelanos, nós, permanentemente, dizemos que estamos na rua, trabalhando para melhorar as coisas. Eles sabem que não tem sido fácil. E que a epopeia maior foi, na véspera do 14 de abril, sobrepassar a tragédia histórica da morte do comandante Chávez; superar o luto coletivo. Quando uma pessoa entra em luto, pode cair em estado de desesperança; não crer em nada. Boa parte do povo venezuelano entrou em luto profundo. E os especialistas em guerra psicológica que acossam nosso país se aproveitaram desse momento e dessa fragilidade para atacar duramente... Por isso, nossa vitória no dia 14 de abril foi realmente heroica.
O que estamos realizando –o "governo de rua”; a recuperação da economia; a atenção a temas intransferíveis, como a segurança cidadã, a corrupção...-. Isso nos dará forças para a grande vitória do 8 de dezembro. E será a garantia de que se abre um novo caminho para a construção do socialismo do século XXI.
Até onde o senhor pensa chegar em sua luta contra a corrupção?
Nicolás Maduro: Até as últimas consequências. Vamos com tudo! Enfrentamos uma direita muito corrupta, herdeira da IV República descomposta e em decadência. Porém, também estamos enfrentando a corrupção que fez ninho no campo revolucionário ou no seio do Estado. Não haverá trégua! Constitui uma equipe secreta de investigadores incorruptíveis que já estão destampando vários casos. Temos alguns detidos de mais alto nível e vamos seguir atacando forte. Serão julgados e irão para onde devem ir: para a prisão!
Como o senhor vê a situação da economia venezuelana? Vários análises alertam sobre o elevado nível da inflação.
Nicolás Maduro: A economia venezuelana está em transição para um novo modelo produtivo, diversificado e ‘socialista do século XXI’, no marco da construção de um novo quadro econômico constituído pela integração sul-americana e latino-americana. Não devemos esquecer que, agora, somos membros do Mercosul; somos membros da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América) e lideramos Petrocaribe. Toda essa massa geográfico-demográfico-econômica reúne 24 países do continente, o que poderia representar quase a quarta economia do mundo... Temos que transformar a economia venezuelana e conectá-la com o desenvolvimento desse novo marco econômico, e, ao mesmo tempo, integrar-nos, em situação vantajosa, na economia mundial. Não de dependência. Por isso digo que estamos em transição.
Sobre a inflação, lhe direi que padecemos um ataque muito forte, especulativo, contra nossa moeda, e estamos superando. Há também uma sabotagem ao abastecimento de vários produtos. Tudo isso produz inflação. Porém, já começamos a controlar, a equilibrar; e estou certo de que superaremos essa situação no que resta do segundo semestre.
Vamos estabilizar a moeda. Já começamos a estabilizar o abastecimento; porém, a chave fundamental para que saiamos desse modelo rentista, dependente, é a diversificação de nossa produção. Estamos realizando grandes investimentos em setores chave da produção de alimentos, da agroindústria e da indústria pesada. Estamos atraindo capital internacional que traga divisas e tecnologia. Recentemente, fizemos um giro pela Europa e estamos otimistas de que venham capitais da França, da Itália, de Portugal... Desejamos que venha capital do Brasil, da Índia, da China, com sua tecnologia para desenvolver a indústria intermediária na Venezuela, diversificando-a. Para que a Venezuela tenha motores próprios e variados e não dependa somente do petróleo que, claro, constitui um motor poderosíssimo para os próximos 50, 80 anos. Poderosíssimo. Não esqueçamos que a Venezuela dispõe de mais importantes resevas de petróleo do planeta e possui a quarta reserva de gás. A Venezuela é uma economia com muito poder financeiro e econômico. O que veremos, sobretudo a partir de 2014, é uma recuperação do nível de estímulo e crescimento da economia venezuelana.
Como se explicam os problemas de desabastecimento, que têm sido muito criticados pela imprensa internacional?
Nicolás Maduro: O desabastecimento faz parte de uma estratégia de "guerra silenciosa”, onde atores políticos, acompanhados por atores econômicos nacionais e internacionais, vendo o estado de gravidade do comandante Chávez, entre dezembro de 2012 e março desse ano, começaram a atacar pontos chave dos processos econômicos venezuelanos. Alentados também por alguns erros cometidos no sistema de câmbio de divisas na Venezuela, que já foram corrigidos. Essas forças antibolivarianas, pouco a pouco, começaram a golpear o abastecimento dos produtos que importamos. Além disso, para explicar a escassez de alguns produtos, devemos levar em consideração que o poder aquisitivo dos venezuelanos não para de aumentar. Temos apenas 6% de desemprego e o salário mínimo urbano aqui é o mais alto da América Latina. Outro ponto importante, reconhecido pela FAO (Organização das nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, siglas em inglês), somos o país do mundo que mais tem feito para combater a fome. Tudo isso -é muito importante considerar- gerou uma capacidade de consumo da população que está crescendo a cada ano acima de 10%. O consumo cresce em um ritmo superior à capacidade de produção do país e à capacidade dos mecanismos que tínhamos para abastecê-lo com importações.
O comandante Chávez, na última vez que falei com ele pessoalmente, no dia 22 de fevereiro passado, quando avaliamos a situação econômica e falamos sobre o desabastecimento, me disse: "Desatou-se uma ‘guerra econômica’ para aproveitar minha doença e a gravidade de minha situação e a possibilidade de chegarmos às eleições presidenciais. Nesse caso, a burguesia tentaria criar circunstâncias econômicas difíceis para, com o apoio imperial, dar o golpe final na Revolução Bolivariana”.
Nós já estamos saindo dessas circunstâncias. Ao povo venezuelano jamais faltou o alimento. Nunca. Pode ir em qualquer bairro popular, desses que eu conheci nos anos 80, onde as crianças eram famélicas, onde as pessoas comiam uma vez ao dia e, às vezes, comida para cachorro... O bairro mais humilde que encontrem no país, onde quiser, pode abrir a despensa e verá carne, arroz, óleo, leite... O povo tem garantido o alimento e isso nas piores circunstâncias da ‘guerra econômica’ que nos fizeram.
Por isso, temos estabilidade social e política. Agora, essa guerra é muito diferente daquela de onze anos atrás. Saía o chefe da patronal, Carmona Estanga, e chamava a paralisação geral. Saía o chefe da velha burocracia sindical, Carlos Ortega, e chamava à paralisação. Eles davam a cara, assumiam a sabotagem da economia e houve grandes desabastecimentos que quase provocam uma explosão social em 2002-2003. Agora, não. Agora é a ‘guerra silenciosa’, uma ‘guerra suave’, ‘diplomacia suave’, segundo consignas de Washington. Em 2002-2003, governava George W. Bush, que era brutal e dizia: "Vou invadir!” e invadia; "Vamos derrocar tal governo” e o derrocava. Agora, é o suave, o escondido, e aparece a direita fascitoide que vai sorrindo e dizendo: "Esse governo é incapaz porque não pode abastecer as cidades”. Quando são eles os que estão por detrás de um plano, com agentes internacionais no campo econômico para causar dano ao país. Porém, vamos superando e vamos nos vacinando. No futuro, lhes será impossível arremeter com esses mesmos mecanismos.
En la economía ¿qué papel le ve usted al sector privado?
Nicolás Maduro: Históricamente, el sector privado en Venezuela tiene poco desarrollo. Nunca hubo burguesía nacional. El sector privado, en lo fundamental, se desarrolló cuando surge el petróleo, como un factor más bien vinculado a la apropiación de la renta petrolera. Casi todas las grandes riquezas de la burguesía venezolana están vinculadas a la manipulación del dólar, sea para importar productos (la burguesía comercial) o sea para apropiarse de la renta y colocarla en cuentas de grandes bancos en el exterior. Así que, en cien años, no tuvimos una burguesía productiva como la tuvo Brasil por ejemplo, o Argentina. Ahora es cuando estamos viendo resurgir sectores privados con proyectos vinculados a la verdadera producción de riquezas para el país.
En el modelo socialista venezolano, el sector privado tiene un papel que jugar en la diversificación de la economía. Desde siempre, el Comandante Hugo Chávez favoreció las relaciones con el sector privado, tanto en la pequeña, como en la mediana o la gran empresa, favoreció el desarrollo de empresas mixtas y la venida de capital privado internacional. Hay un pensamiento económico que, en Venezuela, se ha desarrollado para seleccionar en qué área es necesaria la inversión extranjera. Qué capital puede venir y en qué condiciones. Por ejemplo: aunque nuestro petróleo está nacionalizado, existen modalidades diversas que permiten inversiones, en la Franja del Orinoco, de todo el capital mundial; allá hay empresas de todo el planeta, empresas mixtas: 40% capital internacional, 60% Venezuela. Les cobramos los impuestos debidos –antes se cobraba el 1%, ahora se les cobra el 33%. Venezuela ofrece todas las garantías constitucionales para recibir capital internacional.
¿Se mantendrá el control de cambio?
Nicolás Maduro: El control de cambio es un sistema exitoso. En febrero pasado, para defendernos de un ataque brutal contra la economía y contra la moneda, tuvimos que adecuar, digamos, el bolívar. Venezuela puede manejarse con este tipo de cambio que tenemos, perfeccionándolo. Debemos fortalecer nuestra moneda, vacunarla contra los ataques especulativos y perfeccionar el sistema de manejo de las divisas convertibles.
Usted me habló antes de ‘eficiencia’ ¿Qué progresos ha constatado en materia de ‘eficiencia’, en particular en el campo de la economía?
Nicolás Maduro: En primer lugar, una mejora sustantiva del sistema del Cadivi [Comisión de Administración de Divisas], el organismo que maneja el control de cambio en Venezuela. Realmente ha mejorado mucho en los controles previos, los controles posteriores y la asignación de las divisas necesarias para los agentes económicos. Otro elemento muy importante ha sido la creación del Sicad [Sistema Complementario de Administración de Divisas], un mecanismo de subastas que está funcionando de manera perfecta, pero al que, además, tiene ahora acceso el público en general. Cualquiera puede ir al Sicad. La gente común y corriente puede obtener divisas para su vida normal, sin necesidad de pasar por ninguna alcabala. Esos son progresos concretos.
Pero también hemos constituido un Estado Mayor para la dirección de la economía, dirigido por Nelson Merentes, el vicepresidente de Finanzas. Allí están todos los ministros de los sectores económicos. Cada ministro tiene que supervisar, apoyar y dirigir cada rubro que se produce en Venezuela. Hemos seleccionado 58 rubros fundamentales. Tenemos un seguimiento permanente -pudiera ser hasta diario, ahora es semanal- de cómo va la producción de cada uno de esos productos, qué inversiones hacen falta, qué trabas tienen para su comercialización interna... O sea, vamos logrando un mecanismo clave para gobernar la economía. De igual modo que se gobierna, a nivel político, un país, hay que gobernar la economía. Sobre todo si nos estamos planteando construir el socialismo.
El capitalismo es el reino de la anarquía, y cuando hay anarquía en lo económico gobierna quien tiene más poder: el capital financiero. Hoy ¿quién gobierna realmente Europa? El capital financiero. En Europa, este capital financiero está desmontando el Estado de bienestar que se constituyó después de la Segunda Guerra Mundial. En Venezuela no, estamos construyendo un gobierno económico para edificar el socialismo ¿Para qué debe servir la economía? Para garantizarle a la ciudadanía la salud, la alimentación, la vivienda digna, la educación gratuita... ¿A quién le debemos estos derechos universales? A la Revolución Francesa y a la Ilustración que llegaron a nuestra tierras, traducidas al mestizaje latinoamericano, de la mano de Simón Rodríguez, y que defendió Bolívar. Es parte del patrimonio más grande de la humanidad. Pero el capital financiero niega todo eso.
En estos cien días de gobierno, nuestra impresión es que la principal crisis de política exterior que conoció Venezuela fue con Colombia. ¿Cómo están actualmente las relaciones con Bogotá?
Nicolás Maduro: En estos cien días, hemos logrado consolidar todo el eje de relaciones estratégicas, ante la construcción de una nueva geopolítica regional y de un nuevo sistema de fuerzas para garantizar la nueva independencia del continente. Las diferencias con Colombia han sido tratadas, evidentemente, a través del diálogo. Hemos trazado las líneas de conducta para su superación. Yo confío en la palabra del presidente Juan Manuel Santos, y espero que logremos lo que conversamos. Yo confío en que vamos a tener una relación de coexistencia pacífica y positiva entre dos modelos: un modelo socialista, de revolución cristiana del siglo XXI, igualitario, de democracia popular como el venezolano, y otro modelo que no voy a calificar, pero que es distinto al nuestro. Estamos obligados a coexistir como hermanos siameses. Hemos demostrado que se puede coexistir y ojalá los sectores políticos y económicos dominantes en Colombia y el presidente Santos al mando del gobierno, entiendan que la coexistencia y el respeto son básicos para el desarrollo de nuestros dos países.
¿Cómo van las relaciones con Washington?
Nicolás Maduro: Quisiera decir, primero, que Barack Obama es un presidente circunstancial. Es una circunstancia en el seno de la élite que gobierna Estados Unidos ¿Por qué llega Obama a la presidencia? Porque convenía a los intereses del complejo industrial militar-financiero-comunicacional que dirige Estados Unidos con un proyecto imperial. Quien conozca en profundidad la historia de la fundación de Estados Unidos y de su expansionismo, reconocerá que es el imperio más poderoso que ha existido, con un proyecto de dominación mundial. Sus élites eligieron a Obama en función de sus intereses, y han logrado parte del objetivo que se plantearon: hacer que el país aislado, desprestigiado que era Estados Unidos en la época de George W. Bush, se convirtiera, gracias a Obama, en una potencia que posee de nuevo capacidad de influencia y de dominación. Si no, veamos el caso de Europa, sometida a los dictámenes de Washington como nunca antes.
Lo que pasó con el presidente de Bolivia Evo Morales, cuando cuatro Estados europeos le negaron el acceso a su espacio aéreo, es una demostración gravísima de cómo, desde Washington, se dirige a los gobiernos de Europa. Es muy desconcertante realmente. Yo no sé si los pueblos de Europa saben eso, porque a veces, con el control comunicacional que hay, estas noticias se van banalizando y se van dejando de lado. Pero es muy grave. Obama ha logrado que el Imperio crezca en influencia política.
Los Estados Unidos van preparándose hacia una nueva etapa que es crecer en dominación militar y económica. En América Latina, su proyecto es revertir los procesos progresistas de cambio para volver a convertirnos en su patio trasero. Por eso están retomando –con otro nombre– el proyecto del ALCA [Área de Libre Comercio de las Américas], para dominarnos económicamente y retomar los mismos métodos del pasado. Fíjese, bajo el mandato de Obama: golpe de Estado en Honduras dirigido desde el Pentágono; intento de golpe de Estado contra el presidente de Ecuador Rafael Correa, teleguiado por la CIA; golpe de Estado en Paraguay operado por Washington para sacar al presidente Fernando Lugo... Que nadie se llame a engaño, si los Estados Unidos viesen que hay condiciones favorables, vendrían de nuevo a llenar de oscuridad y de muerte América Latina.
Por eso la relación del gobierno de Obama con nosotros es esquizofrénica. Ellos piensan que nos pueden engañar con la ‘diplomacia blanda’; que nos vamos a dejar dar el ‘abrazo de la muerte’. Nosotros lo hemos planteado muy claro: ustedes allá con su proyecto imperialista y nosotros acá con nuestro proyecto de liberación. La única forma de que haya una relación estable y permanente es que nos respeten. Por eso he dicho: "Tolerancia cero con el irrespeto gringo y de sus élites. No lo vamos a tolerar más”.
Si nos siguen agrediendo, responderemos a cada agresión con mayor fortaleza. Ha llegado la hora de la tolerancia cero.
En la reciente Cumbre del ALBA, usted ha propuesto una articulación ALBA-Mercosur-Petrocaribe. ¿Es una respuesta a la Alianza del Pacífico (1)?
Nicolás Maduro: No. Es una necesidad histórica. Tenemos que consolidar los espacios económicos logrados. Mercosur ha venido viviendo una transformación muy positiva y ahora, con la incorporación de Venezuela, la próxima incorporación de Bolivia y la posible incorporación de Ecuador, comienza Mercosur a ocupar un espacio vital en Suramérica.
Petrocaribe es una realidad maravillosa que ha permitido la estabilidad energética, económica, financiera y social de 18 países del Caribe. Y el ALBA es una vanguardia donde ha habido ensayos económicos como el SUCRE [Sistema Único de Compensación Regional], una unidad de cambio latinoamericana, o como el Banco del ALBA y otros ensayos como las ‘empresas grannacionales’ que han ido adquiriendo experiencia y espacios.
Ha llegado el momento de acercar todos los espacios ya conquistados para definir un nuevo modelo económico. Ha llegado la hora de unir ese inmenso espacio Mercosur-ALBA-Petrocaribe que representaría, repito, casi la cuarta economía del mundo, en un espacio nuestro, y no de falso libre comercio ¡Porque el libre comercio es falso! ¿Cree usted posible la libre circulación, en los mares, de un tiburón y una sardina sin que el tiburón se coma a la sardina? Imposible. El libre comercio es como cambiar pepitas de oro por espejitos, sistema con el cual nos colonizaron hace 500 años. Tenemos que consolidar una zona económica complementaria, diversa, desarrollada, con sus mecanismos financieros, monetarios, y convertirnos en un poderoso bloque económico. Y, a partir de ahí, tener relaciones con Rusia, la India, China, Sudáfrica; redefinir nuestras relaciones comerciales y económicas con Europa, con Estados Unidos, donde nosotros no volvamos a ocupar el papel de colonia.
¿Cómo ve usted las relaciones con la Unión Europea?
Nicolás Maduro: La Unión Europea ha perdido la oportunidad de convertirse en una gran potencia equilibradora del mundo. Todos los pueblos del planeta aspirábamos a que la Unión Europea fuera la fuerza de equilibrio del mundo. Pero parece que no. El capital financiero y los viejos complejos colonialistas de las élites que dirigieron Europa durante 300 años, parece que se van a imponer a la conciencia democrática y democratizadora de la mayoría de los pueblos de Europa. ¿Qué deseamos de la Unión Europea? Que cambie su política, que deje de estar de rodillas ante Washington, que se abra al mundo y que vea a América Latina como una gran oportunidad para volver a restablecer el Estado de bienestar social y para establecer relaciones con nosotros de igualdad, de prosperidad, de crecimiento. De manera natural, podemos desarrollar una alianza Unión Europea-América Latina y el Caribe para el desarrollo conjunto. Estamos preparados para eso. Entendemos perfectamente la cultura occidental, somos parte de ella, aunque tenemos nuestras particularidades mestizas. Pero las élites europeas no nos entienden. Ojalá eso se supere.
El Presidente Chávez quería hacer de Venezuela un "país potencia” en un "mundo multipolar” ¿sigue siendo esa la línea, en materia de política exterior?
Nicolás Maduro: Claro. En su corta vida, Chávez logró no sólo rescatar a Bolívar como idea, inspiración y símbolo, sino que lo convirtió en una estrategia. Logró hacer que, en el mundo, coexistan dos modelos: el capitalista-neoliberal, y el modelo bolivariano-independentista-chavista, de justicia, de socialismo. En todo el planeta hoy se están debatiendo esos dos proyectos: el del regreso de la hegemonía unipolar del imperialismo estadounidense; o el modelo de un mundo multipolar y multicéntrico.
El Comandante Chávez configuró una política de desarrollo de ejes de fuerza, de núcleos de fuerza, de anillos de fuerza para desmontar el mundo controlado por el imperialismo. Y sobre todo para construir un nuevo sistema de relaciones internacionales. La humanidad no podrá existir si no se desarrolla esa política internacional. Lo otro es cruzarse de brazos y rendirse a que el Imperio reconquiste el mundo, lo vuelva a dominar y nos esclavice más temprano que tarde. No lo vamos a permitir.
Nota:
(1) Bloque comercial constituido por Chile, Colombia, México y Perú.
Nicolás Maduro: O objetivo dessa loucura lançada por um demente da ultradireita panamenha é criar as condições para uma desestabilização política. Tentam conseguir o que não puderam fazer nem através das eleições, nem dos golpes de Estado, nem através das sabotagens econômicas. Estão desesperados. E se baseiam na ideologia anticolombiana que a burguesia e a direita venezuelanas sempre tiveram contra o povo da Colômbia.
A esse respeito, se eu houvesse nascido em Cúcuta ou em Bogotá, me sentiria feliz de ser colombiano. Porque é uma terra fundada por Bolívar. Se tivesse nascido em Quito ou em Guayaquil, também me sentiria orgulhoso de ser equatoriano, porque é uma terra libertada por Bolívar; ou em Lima, ou em Potosí, ou em La Paz, ou em Cochabamba, me sentiria feliz por ser peruano ou boliviano; e se houvesse nascido no Panamá, terra de Omar Torrijos, terra de dignidade, que fez parte da Gran Colômbia, de Bolívar, também me sentiria orgulhoso de ser panamenho. Porém, nasci e me criei em Caracas, berço do Libertador; nessa Caracas sempre convulsa, rebelde, revolucionária. E aqui estou como Presidente. Essas loucuras serão recordadas como parte da crise de desespero esquizofrênico na qual, às vezes, a direita internacional entra com o objetivo de acabar com essa réstia de luz que é a revolução bolivariana.
Por outro lado, o Presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, declarou recentemente que foram descobertas conspirações contra o senhor, com intenção de atentar contra sua vida.
Nicolás Maduro: Sim, o ministro do Interior, Rodríguez Torres, o Presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello e eu mesmo revelamos um dos planos de assassinato que estava sendo preparado para o dia 24 de julho, aniversário do nascimento de Simón Bolívar, e comemoração dos 190 anos da Batalha Naval de Maracaibo. Dispunham de um conjunto de planos que conseguimos neutralizar e que têm sempre sua origem na mesma direita internacional. Aí, aparece por exemplo, o nome de Álvaro Uribe (ex-presidente da Colômbia), que tem uma obsessão contra a Venezuela e contra os filhos de Chávez. Aparece também a velha máfia de Miami, a de Posada Carriles, que conta com o apoio de importantes instâncias de poder nos EUA. O governo de Barack Obama não quis desmontar essa máfia de Posada Carriles, um terrorista convicto e confesso, perseguido pelas leis de nosso país porque derrubou um avião de Cubana de Aviação, em outubro de 1976...
Posso garantir-lhe que continuaremos defendendo-nos, neutralizando esses planos... e vencendo. Se eles alcançassem seu objetivo, se criaria uma situação que não gostaria nem de pensar nela. A quem menos lhe convém que algo assim aconteça é a direita venezuelana. Desapareceria do mapa político de nosso país por 300 anos... Porque a Revolução tomaria outro caráter, sem dúvida, muito mais profundo, muito mais socialista, muito mais anti-imperialista. Espero que esses planos jamais tenham êxito, porque repercutiria muito mal para eles. E eu veria tudo lá do céu...
O senhor pensa que o fracasso da oposição em sua tentativa de desestabilização se deve à política que o senhor tem impulsionado, ou a uma mudança de atitude da própria oposição ante as eleições municipais do próximo 8 de dezembro?
Nicolás Maduro: Deve-se, principalmente, à fortaleza institucional da democracia venezuelana, e a decisão que tomei, apoiando-me nessa fortaleza, de derrotar o mais cedo possível a tentativa de insurreição e de violência. Neutralizá-lo. Não permitir que se estendesse. Eles tentaram uma espécie de insurreição nas principais cidades, nos dias 15 e 16 de abril.
Qual foi o grau de violência?
Nicolás Maduro: Assassinaram 11 pessoas humildes, entre elas, uma menina e um menino. E feriram a quase 100, dos quais pouco se fala. Teve gente que ficou com sequelas para toda a vida.
A oposição mostrou seu verdadeiro rosto golpista. Aparentava bons modos democráticos, porém, quando [em 5 de março], o comandante Chávez faleceu, decidiu desconhecer o resultado das eleições e tentar impor pela força –com o suposto apoio internacional dos EUA e de outros governos da direita-, uma operação para desestabilizar a Revolução. Conseguimos neutralizá-los e derrotá-los logo. Agora, não lhes resta outro caminho que voltar a tentar, pela via eleitoral, ocupar espaços nas prefeituras. Nós os obrigamos a que assim seja. Se não fosse por nossa decisão, de que a Constituição seja respeitada, eles teriam levado nosso país a uma situação de guerra civil.
Em recentes declarações, o senhor alertou sobre fissuras na unidade da Revolução. O senhor teme uma divisão do chavismo?
Nicolás Maduro: As forças divisionistas e dissolventes sempre ameaçaram qualquer Revolução. As aspirações ao poder de grupos de pessoas são uma negação do projeto da Revolução Bolivariana, que é de caráter socialista, e exige desprendimento e sacrifício. O comandante Chávez foi presidente porque as circunstâncias da história o colocaram nesse posto. E eu sou presidente, não por ambição individual ou porque represento um grupo econômico ou político; sou presidente porque o comandante Chávez me preparou, me designou e o povo venezuelano me ratificou em eleições livres e democráticas.
Assim, que todas essas forças dissolventes sempre existirão. Porém, a Revolução tem a capacidade moral, política, ideológica para sobrepor-se a qualquer tentativa de divisão de suas forças. Eu disse isso no Llano venezuelano, porque estava vendo com meus próprios olhos, lá mesmo, diante de mim, uma pessoa que se diz chavista, porém, por debaixo dos panos, é financiado pelos latifundiários, e ele tem um discurso chavista para dividir. Não é impossível que quando esse indivíduo constate que não é designado pela Revolução como candidato à prefeitura desse município, se lance por sua conta... Estamos em boas condições para conseguir candidaturas unitárias em quase todos os municípios do país; e teremos que fazer um grande esforço para derrotar as forças dissolventes desses setores que se dizem chavistas; mas, no final, acabam sendo aliados da contrarrevolução.
Em relação à prática governamental precedente, o senhor introduziu várias mudanças: crítica da insegurança, denúncia da corrupção e, sobretudo, o que chama o "governo de rua” Por que sentiu a necessidade de insistir nesses temas? E que balanço faz do "governo de rua”?
Nicolás Maduro: Em primeiro lugar, o "governo de rua”, estabeleceu nessa nova etapa um método para que exista uma direção coletiva da Revolução. Segundo: criou-se um sistema de governo onde não há intermediários entre o poder popular local e a instância de governo nacional. Trás solução para problemas concretos; porém, sobretudo, contribui à construção do socialismo, das comunas, de uma economia socialista, e a consolidação de um sistema público de saúde integral, gratuito e de qualidade, e de um sistema educativo público e gratuito de qualidade... E o "governo de rua” é uma revolução dentro da Revolução.
É também uma maneira de combater o burocratismo?
Nicolás Maduro: De vencê-lo. Propondo outro sistema. Porque os modelos de governo que herdamos expressam a forma de governar do Estado burguês, ele mesmo herdeiro da colônia, na América Latina. O presidente Chávez os derrotou mediante as Missões que constituíram um novo modelo de gestão das políticas públicas. Nós, estamos agregando o "governo de rua” às Missões, que, poderíamos dizer, é uma instrução direta do comandante Chávez. Ele nos ordenou, a Elías Jaua que era vice-presidente na época e a mim, que era vice-presidente político, que fôssemos construindo um sistema de governo regionalizado 0”popular”, dizia ele- e eu lhe pus "governo de rua”. Todas são instruções e orientações dentro da filosofia de um modelo socialista no qual o poder não seja das elites –nem elites burguesas, nem l]novas elites que se burocratizam ou se aburguesam-. Queremos que o poder esteja democratizado, que seja uma vacina contra o burocratismo, contra o aburguesamento e, além do mais, que nos permita alcançar a "eficiência socialista”.
Se a oposição ganhar as eleições municipais de 8 de dezembro próximo, é provável que chame a um referendo revocatório em 2015. Como o senhor vê essa perspectiva?
Nicolás Maduro: Estamos preparados para todos os cenários. Sempre diremos a verdade ao povo. Se a oposição conseguisse uma boa votação no 8 de dezembro, tentará aprofundar a desestabilização para dissolver nossa pátria, acabar com a independência e acabar com a Revolução do comandante Chávez, que retomou o conceito de Republica Bolivariana. Vão impor cenários de desestabilização violenta em primeiro lugar e os EUA tentarão acabar com os níveis de independência e de união que a América Latina possui hoje.
Temos uma grande responsabilidade, porque estamos defendendo um projeto que pode tornar possível outro mundo em nossa região e pode contribuir para criar um mundo multipolar, sem hegemonias econômicas, militares, nem políticas do imperialismo estadunidense. Boa parte do nascimento de outro mundo onde se respeitam os direitos dos povos do Sul –e, inclusive, dos povos da Europa, para que a Europa livre-se do neoliberalismo-, depende de que, na América Latina, triunfem definitivamente as ideias de constituir um bloco de força e de equilíbrio para consolidar a ideia de que já não somos nenhum "pátio traseiro/quintal” dos Estados Unidos. Tudo isso depende, em boa medida, do que aconteça por aqui.
Como o senhor explica o resultado da oposição no passado 14 de abril, e como pensa ganhar o próximo 8 de dezembro?
Nicolás Maduro: Há um eleitorado que sempre votou indistintamente na oposição. Porém, no dia 14 de abril, uma boa parte dos que não votaram em nós o fizeram por descontentamento, por coisas mal feitas, problemas acumulados... No entanto, esses eleitores nunca acompanharam as aventuras golpistas e antibolivarianas da direita. A esses venezuelanos, nós, permanentemente, dizemos que estamos na rua, trabalhando para melhorar as coisas. Eles sabem que não tem sido fácil. E que a epopeia maior foi, na véspera do 14 de abril, sobrepassar a tragédia histórica da morte do comandante Chávez; superar o luto coletivo. Quando uma pessoa entra em luto, pode cair em estado de desesperança; não crer em nada. Boa parte do povo venezuelano entrou em luto profundo. E os especialistas em guerra psicológica que acossam nosso país se aproveitaram desse momento e dessa fragilidade para atacar duramente... Por isso, nossa vitória no dia 14 de abril foi realmente heroica.
O que estamos realizando –o "governo de rua”; a recuperação da economia; a atenção a temas intransferíveis, como a segurança cidadã, a corrupção...-. Isso nos dará forças para a grande vitória do 8 de dezembro. E será a garantia de que se abre um novo caminho para a construção do socialismo do século XXI.
Até onde o senhor pensa chegar em sua luta contra a corrupção?
Nicolás Maduro: Até as últimas consequências. Vamos com tudo! Enfrentamos uma direita muito corrupta, herdeira da IV República descomposta e em decadência. Porém, também estamos enfrentando a corrupção que fez ninho no campo revolucionário ou no seio do Estado. Não haverá trégua! Constitui uma equipe secreta de investigadores incorruptíveis que já estão destampando vários casos. Temos alguns detidos de mais alto nível e vamos seguir atacando forte. Serão julgados e irão para onde devem ir: para a prisão!
Como o senhor vê a situação da economia venezuelana? Vários análises alertam sobre o elevado nível da inflação.
Nicolás Maduro: A economia venezuelana está em transição para um novo modelo produtivo, diversificado e ‘socialista do século XXI’, no marco da construção de um novo quadro econômico constituído pela integração sul-americana e latino-americana. Não devemos esquecer que, agora, somos membros do Mercosul; somos membros da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América) e lideramos Petrocaribe. Toda essa massa geográfico-demográfico-econômica reúne 24 países do continente, o que poderia representar quase a quarta economia do mundo... Temos que transformar a economia venezuelana e conectá-la com o desenvolvimento desse novo marco econômico, e, ao mesmo tempo, integrar-nos, em situação vantajosa, na economia mundial. Não de dependência. Por isso digo que estamos em transição.
Sobre a inflação, lhe direi que padecemos um ataque muito forte, especulativo, contra nossa moeda, e estamos superando. Há também uma sabotagem ao abastecimento de vários produtos. Tudo isso produz inflação. Porém, já começamos a controlar, a equilibrar; e estou certo de que superaremos essa situação no que resta do segundo semestre.
Vamos estabilizar a moeda. Já começamos a estabilizar o abastecimento; porém, a chave fundamental para que saiamos desse modelo rentista, dependente, é a diversificação de nossa produção. Estamos realizando grandes investimentos em setores chave da produção de alimentos, da agroindústria e da indústria pesada. Estamos atraindo capital internacional que traga divisas e tecnologia. Recentemente, fizemos um giro pela Europa e estamos otimistas de que venham capitais da França, da Itália, de Portugal... Desejamos que venha capital do Brasil, da Índia, da China, com sua tecnologia para desenvolver a indústria intermediária na Venezuela, diversificando-a. Para que a Venezuela tenha motores próprios e variados e não dependa somente do petróleo que, claro, constitui um motor poderosíssimo para os próximos 50, 80 anos. Poderosíssimo. Não esqueçamos que a Venezuela dispõe de mais importantes resevas de petróleo do planeta e possui a quarta reserva de gás. A Venezuela é uma economia com muito poder financeiro e econômico. O que veremos, sobretudo a partir de 2014, é uma recuperação do nível de estímulo e crescimento da economia venezuelana.
Como se explicam os problemas de desabastecimento, que têm sido muito criticados pela imprensa internacional?
Nicolás Maduro: O desabastecimento faz parte de uma estratégia de "guerra silenciosa”, onde atores políticos, acompanhados por atores econômicos nacionais e internacionais, vendo o estado de gravidade do comandante Chávez, entre dezembro de 2012 e março desse ano, começaram a atacar pontos chave dos processos econômicos venezuelanos. Alentados também por alguns erros cometidos no sistema de câmbio de divisas na Venezuela, que já foram corrigidos. Essas forças antibolivarianas, pouco a pouco, começaram a golpear o abastecimento dos produtos que importamos. Além disso, para explicar a escassez de alguns produtos, devemos levar em consideração que o poder aquisitivo dos venezuelanos não para de aumentar. Temos apenas 6% de desemprego e o salário mínimo urbano aqui é o mais alto da América Latina. Outro ponto importante, reconhecido pela FAO (Organização das nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, siglas em inglês), somos o país do mundo que mais tem feito para combater a fome. Tudo isso -é muito importante considerar- gerou uma capacidade de consumo da população que está crescendo a cada ano acima de 10%. O consumo cresce em um ritmo superior à capacidade de produção do país e à capacidade dos mecanismos que tínhamos para abastecê-lo com importações.
O comandante Chávez, na última vez que falei com ele pessoalmente, no dia 22 de fevereiro passado, quando avaliamos a situação econômica e falamos sobre o desabastecimento, me disse: "Desatou-se uma ‘guerra econômica’ para aproveitar minha doença e a gravidade de minha situação e a possibilidade de chegarmos às eleições presidenciais. Nesse caso, a burguesia tentaria criar circunstâncias econômicas difíceis para, com o apoio imperial, dar o golpe final na Revolução Bolivariana”.
Nós já estamos saindo dessas circunstâncias. Ao povo venezuelano jamais faltou o alimento. Nunca. Pode ir em qualquer bairro popular, desses que eu conheci nos anos 80, onde as crianças eram famélicas, onde as pessoas comiam uma vez ao dia e, às vezes, comida para cachorro... O bairro mais humilde que encontrem no país, onde quiser, pode abrir a despensa e verá carne, arroz, óleo, leite... O povo tem garantido o alimento e isso nas piores circunstâncias da ‘guerra econômica’ que nos fizeram.
Por isso, temos estabilidade social e política. Agora, essa guerra é muito diferente daquela de onze anos atrás. Saía o chefe da patronal, Carmona Estanga, e chamava a paralisação geral. Saía o chefe da velha burocracia sindical, Carlos Ortega, e chamava à paralisação. Eles davam a cara, assumiam a sabotagem da economia e houve grandes desabastecimentos que quase provocam uma explosão social em 2002-2003. Agora, não. Agora é a ‘guerra silenciosa’, uma ‘guerra suave’, ‘diplomacia suave’, segundo consignas de Washington. Em 2002-2003, governava George W. Bush, que era brutal e dizia: "Vou invadir!” e invadia; "Vamos derrocar tal governo” e o derrocava. Agora, é o suave, o escondido, e aparece a direita fascitoide que vai sorrindo e dizendo: "Esse governo é incapaz porque não pode abastecer as cidades”. Quando são eles os que estão por detrás de um plano, com agentes internacionais no campo econômico para causar dano ao país. Porém, vamos superando e vamos nos vacinando. No futuro, lhes será impossível arremeter com esses mesmos mecanismos.
En la economía ¿qué papel le ve usted al sector privado?
Nicolás Maduro: Históricamente, el sector privado en Venezuela tiene poco desarrollo. Nunca hubo burguesía nacional. El sector privado, en lo fundamental, se desarrolló cuando surge el petróleo, como un factor más bien vinculado a la apropiación de la renta petrolera. Casi todas las grandes riquezas de la burguesía venezolana están vinculadas a la manipulación del dólar, sea para importar productos (la burguesía comercial) o sea para apropiarse de la renta y colocarla en cuentas de grandes bancos en el exterior. Así que, en cien años, no tuvimos una burguesía productiva como la tuvo Brasil por ejemplo, o Argentina. Ahora es cuando estamos viendo resurgir sectores privados con proyectos vinculados a la verdadera producción de riquezas para el país.
En el modelo socialista venezolano, el sector privado tiene un papel que jugar en la diversificación de la economía. Desde siempre, el Comandante Hugo Chávez favoreció las relaciones con el sector privado, tanto en la pequeña, como en la mediana o la gran empresa, favoreció el desarrollo de empresas mixtas y la venida de capital privado internacional. Hay un pensamiento económico que, en Venezuela, se ha desarrollado para seleccionar en qué área es necesaria la inversión extranjera. Qué capital puede venir y en qué condiciones. Por ejemplo: aunque nuestro petróleo está nacionalizado, existen modalidades diversas que permiten inversiones, en la Franja del Orinoco, de todo el capital mundial; allá hay empresas de todo el planeta, empresas mixtas: 40% capital internacional, 60% Venezuela. Les cobramos los impuestos debidos –antes se cobraba el 1%, ahora se les cobra el 33%. Venezuela ofrece todas las garantías constitucionales para recibir capital internacional.
¿Se mantendrá el control de cambio?
Nicolás Maduro: El control de cambio es un sistema exitoso. En febrero pasado, para defendernos de un ataque brutal contra la economía y contra la moneda, tuvimos que adecuar, digamos, el bolívar. Venezuela puede manejarse con este tipo de cambio que tenemos, perfeccionándolo. Debemos fortalecer nuestra moneda, vacunarla contra los ataques especulativos y perfeccionar el sistema de manejo de las divisas convertibles.
Usted me habló antes de ‘eficiencia’ ¿Qué progresos ha constatado en materia de ‘eficiencia’, en particular en el campo de la economía?
Nicolás Maduro: En primer lugar, una mejora sustantiva del sistema del Cadivi [Comisión de Administración de Divisas], el organismo que maneja el control de cambio en Venezuela. Realmente ha mejorado mucho en los controles previos, los controles posteriores y la asignación de las divisas necesarias para los agentes económicos. Otro elemento muy importante ha sido la creación del Sicad [Sistema Complementario de Administración de Divisas], un mecanismo de subastas que está funcionando de manera perfecta, pero al que, además, tiene ahora acceso el público en general. Cualquiera puede ir al Sicad. La gente común y corriente puede obtener divisas para su vida normal, sin necesidad de pasar por ninguna alcabala. Esos son progresos concretos.
Pero también hemos constituido un Estado Mayor para la dirección de la economía, dirigido por Nelson Merentes, el vicepresidente de Finanzas. Allí están todos los ministros de los sectores económicos. Cada ministro tiene que supervisar, apoyar y dirigir cada rubro que se produce en Venezuela. Hemos seleccionado 58 rubros fundamentales. Tenemos un seguimiento permanente -pudiera ser hasta diario, ahora es semanal- de cómo va la producción de cada uno de esos productos, qué inversiones hacen falta, qué trabas tienen para su comercialización interna... O sea, vamos logrando un mecanismo clave para gobernar la economía. De igual modo que se gobierna, a nivel político, un país, hay que gobernar la economía. Sobre todo si nos estamos planteando construir el socialismo.
El capitalismo es el reino de la anarquía, y cuando hay anarquía en lo económico gobierna quien tiene más poder: el capital financiero. Hoy ¿quién gobierna realmente Europa? El capital financiero. En Europa, este capital financiero está desmontando el Estado de bienestar que se constituyó después de la Segunda Guerra Mundial. En Venezuela no, estamos construyendo un gobierno económico para edificar el socialismo ¿Para qué debe servir la economía? Para garantizarle a la ciudadanía la salud, la alimentación, la vivienda digna, la educación gratuita... ¿A quién le debemos estos derechos universales? A la Revolución Francesa y a la Ilustración que llegaron a nuestra tierras, traducidas al mestizaje latinoamericano, de la mano de Simón Rodríguez, y que defendió Bolívar. Es parte del patrimonio más grande de la humanidad. Pero el capital financiero niega todo eso.
En estos cien días de gobierno, nuestra impresión es que la principal crisis de política exterior que conoció Venezuela fue con Colombia. ¿Cómo están actualmente las relaciones con Bogotá?
Nicolás Maduro: En estos cien días, hemos logrado consolidar todo el eje de relaciones estratégicas, ante la construcción de una nueva geopolítica regional y de un nuevo sistema de fuerzas para garantizar la nueva independencia del continente. Las diferencias con Colombia han sido tratadas, evidentemente, a través del diálogo. Hemos trazado las líneas de conducta para su superación. Yo confío en la palabra del presidente Juan Manuel Santos, y espero que logremos lo que conversamos. Yo confío en que vamos a tener una relación de coexistencia pacífica y positiva entre dos modelos: un modelo socialista, de revolución cristiana del siglo XXI, igualitario, de democracia popular como el venezolano, y otro modelo que no voy a calificar, pero que es distinto al nuestro. Estamos obligados a coexistir como hermanos siameses. Hemos demostrado que se puede coexistir y ojalá los sectores políticos y económicos dominantes en Colombia y el presidente Santos al mando del gobierno, entiendan que la coexistencia y el respeto son básicos para el desarrollo de nuestros dos países.
¿Cómo van las relaciones con Washington?
Nicolás Maduro: Quisiera decir, primero, que Barack Obama es un presidente circunstancial. Es una circunstancia en el seno de la élite que gobierna Estados Unidos ¿Por qué llega Obama a la presidencia? Porque convenía a los intereses del complejo industrial militar-financiero-comunicacional que dirige Estados Unidos con un proyecto imperial. Quien conozca en profundidad la historia de la fundación de Estados Unidos y de su expansionismo, reconocerá que es el imperio más poderoso que ha existido, con un proyecto de dominación mundial. Sus élites eligieron a Obama en función de sus intereses, y han logrado parte del objetivo que se plantearon: hacer que el país aislado, desprestigiado que era Estados Unidos en la época de George W. Bush, se convirtiera, gracias a Obama, en una potencia que posee de nuevo capacidad de influencia y de dominación. Si no, veamos el caso de Europa, sometida a los dictámenes de Washington como nunca antes.
Lo que pasó con el presidente de Bolivia Evo Morales, cuando cuatro Estados europeos le negaron el acceso a su espacio aéreo, es una demostración gravísima de cómo, desde Washington, se dirige a los gobiernos de Europa. Es muy desconcertante realmente. Yo no sé si los pueblos de Europa saben eso, porque a veces, con el control comunicacional que hay, estas noticias se van banalizando y se van dejando de lado. Pero es muy grave. Obama ha logrado que el Imperio crezca en influencia política.
Los Estados Unidos van preparándose hacia una nueva etapa que es crecer en dominación militar y económica. En América Latina, su proyecto es revertir los procesos progresistas de cambio para volver a convertirnos en su patio trasero. Por eso están retomando –con otro nombre– el proyecto del ALCA [Área de Libre Comercio de las Américas], para dominarnos económicamente y retomar los mismos métodos del pasado. Fíjese, bajo el mandato de Obama: golpe de Estado en Honduras dirigido desde el Pentágono; intento de golpe de Estado contra el presidente de Ecuador Rafael Correa, teleguiado por la CIA; golpe de Estado en Paraguay operado por Washington para sacar al presidente Fernando Lugo... Que nadie se llame a engaño, si los Estados Unidos viesen que hay condiciones favorables, vendrían de nuevo a llenar de oscuridad y de muerte América Latina.
Por eso la relación del gobierno de Obama con nosotros es esquizofrénica. Ellos piensan que nos pueden engañar con la ‘diplomacia blanda’; que nos vamos a dejar dar el ‘abrazo de la muerte’. Nosotros lo hemos planteado muy claro: ustedes allá con su proyecto imperialista y nosotros acá con nuestro proyecto de liberación. La única forma de que haya una relación estable y permanente es que nos respeten. Por eso he dicho: "Tolerancia cero con el irrespeto gringo y de sus élites. No lo vamos a tolerar más”.
Si nos siguen agrediendo, responderemos a cada agresión con mayor fortaleza. Ha llegado la hora de la tolerancia cero.
En la reciente Cumbre del ALBA, usted ha propuesto una articulación ALBA-Mercosur-Petrocaribe. ¿Es una respuesta a la Alianza del Pacífico (1)?
Nicolás Maduro: No. Es una necesidad histórica. Tenemos que consolidar los espacios económicos logrados. Mercosur ha venido viviendo una transformación muy positiva y ahora, con la incorporación de Venezuela, la próxima incorporación de Bolivia y la posible incorporación de Ecuador, comienza Mercosur a ocupar un espacio vital en Suramérica.
Petrocaribe es una realidad maravillosa que ha permitido la estabilidad energética, económica, financiera y social de 18 países del Caribe. Y el ALBA es una vanguardia donde ha habido ensayos económicos como el SUCRE [Sistema Único de Compensación Regional], una unidad de cambio latinoamericana, o como el Banco del ALBA y otros ensayos como las ‘empresas grannacionales’ que han ido adquiriendo experiencia y espacios.
Ha llegado el momento de acercar todos los espacios ya conquistados para definir un nuevo modelo económico. Ha llegado la hora de unir ese inmenso espacio Mercosur-ALBA-Petrocaribe que representaría, repito, casi la cuarta economía del mundo, en un espacio nuestro, y no de falso libre comercio ¡Porque el libre comercio es falso! ¿Cree usted posible la libre circulación, en los mares, de un tiburón y una sardina sin que el tiburón se coma a la sardina? Imposible. El libre comercio es como cambiar pepitas de oro por espejitos, sistema con el cual nos colonizaron hace 500 años. Tenemos que consolidar una zona económica complementaria, diversa, desarrollada, con sus mecanismos financieros, monetarios, y convertirnos en un poderoso bloque económico. Y, a partir de ahí, tener relaciones con Rusia, la India, China, Sudáfrica; redefinir nuestras relaciones comerciales y económicas con Europa, con Estados Unidos, donde nosotros no volvamos a ocupar el papel de colonia.
¿Cómo ve usted las relaciones con la Unión Europea?
Nicolás Maduro: La Unión Europea ha perdido la oportunidad de convertirse en una gran potencia equilibradora del mundo. Todos los pueblos del planeta aspirábamos a que la Unión Europea fuera la fuerza de equilibrio del mundo. Pero parece que no. El capital financiero y los viejos complejos colonialistas de las élites que dirigieron Europa durante 300 años, parece que se van a imponer a la conciencia democrática y democratizadora de la mayoría de los pueblos de Europa. ¿Qué deseamos de la Unión Europea? Que cambie su política, que deje de estar de rodillas ante Washington, que se abra al mundo y que vea a América Latina como una gran oportunidad para volver a restablecer el Estado de bienestar social y para establecer relaciones con nosotros de igualdad, de prosperidad, de crecimiento. De manera natural, podemos desarrollar una alianza Unión Europea-América Latina y el Caribe para el desarrollo conjunto. Estamos preparados para eso. Entendemos perfectamente la cultura occidental, somos parte de ella, aunque tenemos nuestras particularidades mestizas. Pero las élites europeas no nos entienden. Ojalá eso se supere.
El Presidente Chávez quería hacer de Venezuela un "país potencia” en un "mundo multipolar” ¿sigue siendo esa la línea, en materia de política exterior?
Nicolás Maduro: Claro. En su corta vida, Chávez logró no sólo rescatar a Bolívar como idea, inspiración y símbolo, sino que lo convirtió en una estrategia. Logró hacer que, en el mundo, coexistan dos modelos: el capitalista-neoliberal, y el modelo bolivariano-independentista-chavista, de justicia, de socialismo. En todo el planeta hoy se están debatiendo esos dos proyectos: el del regreso de la hegemonía unipolar del imperialismo estadounidense; o el modelo de un mundo multipolar y multicéntrico.
El Comandante Chávez configuró una política de desarrollo de ejes de fuerza, de núcleos de fuerza, de anillos de fuerza para desmontar el mundo controlado por el imperialismo. Y sobre todo para construir un nuevo sistema de relaciones internacionales. La humanidad no podrá existir si no se desarrolla esa política internacional. Lo otro es cruzarse de brazos y rendirse a que el Imperio reconquiste el mundo, lo vuelva a dominar y nos esclavice más temprano que tarde. No lo vamos a permitir.
Nota:
(1) Bloque comercial constituido por Chile, Colombia, México y Perú.