Locomotivas mineiro-energéticas de Santos não são mais que uma metáfora anacrônica de despojo e devastação social e ecológica Análise do antropólogo Arturo Escobar sobre o modelo neoliberal na Colômbia
As
denominadas locomotivas mineiro-energéticas que o governo de Juan
Manuel Santos impulsiona devem ser entendidas como parte do sistema
de globalização neoliberal que requer matérias-primas para que o
capitalismo possa expandir-se, explica o antropólogo, pesquisador e
catedrático universitário colombiano Arturo Escobar.
Em
entrevista para o portal de Internet www.palabrasalmargen.com,
esse cientista social, atualmente residente nos Estados Unidos e
docente da Universidade de Carolina do Norte em Chapel Hill, faz uma
detalhada análise do modelo econômico na Colômbia sustentado no
aproveitamento ao máximo da terra e dos recursos naturais, porém em
benefício do grande capital financeiro internacional.
Escobar
considera que as “locomotivas” que o governo de Santos impulsiona
com o costumero
e mentiroso discurso de que elas vão contribuir para o
desenvolvimento do país, constituem “uma metáfora anacrônica do
século XIX”, pois essas máquinas foram inventadas nessa época,
ao tempo em que, desde o ponto de vista ambiental e da vida dos
povos, somente trarão destruição e despojo.
“A história da Colômbia,
desde a conquista, tem sido uma história de devastação ecológica
e social. Cada geração da elite política e econômica colombiana
reinventa um próprio modelo de despojo e destruição”, e a isso
lhe chamam “locomotiva do desenvolvimento”, afirma Escobar.
Felizmente, acrescenta o
pesquisador, há amplos setores sociais e comunidades campesinas,
indígenas e afros na Colômbia que se opõem a esta concepção de
“desenvolvimento” e, pelo contrário, propõem a necessidade de
um novo modelo econômico.
Nesse sentido, assinala
Escobar, em países da América Latina como Equador e Bolívia, vem
se abrindo passagem a uma nova concepção de desenvolvimento como o
Bem Viver [Sumak Kawsay], que propende pelo bem-estar coletivo em
harmonia com a natureza que contrasta com a visão das “locomotivas”
santistas, que buscam meter as comunidades originárias dentro do
projeto de aproveitamento empresarial, o qual “é uma armadilha”.
As pesquisas e reflexões
desse antropólogo colombiano estão reunidas em vários livros e
ensaios. Entre suas obras mais destacadas, podemos mencionar: Una
minga para el postdesarrollo [Um
trabalho coletivo para o pós desenvolvimento]; Más
Allá del tercer mundo: globalización y diferencia
[Mais além do terceiro mundo: globalização e diferença]; El
final salvaje. Naturaleza,
cultura y política en la antropología contemporánea [O
final selvagem. Natureza, cultura e política na antropologia
contemporânea]; e La
invención del tercer mundo, construcción y deconstrucción del
desarrollo
[A invenção do terceiro mundo, construção e desconstrução do
desenvolvimento].