Feudalismo século XXI, ou governo democrático de coalizão popular
Por Alberto Pinzón
Sánchez
UMA DAS TORPEZAS MAIS NOTÓRIAS de JM Santos e que
demonstra seu talante ambíguo e embaraçado, tem sido a de impor como condição sine qua non para adiantar o processo de
paz em Havana, um “esquema de negociar em meio à guerra” e, simultaneamente ou
paralelamente, buscar, por todos os meios possíveis, que se faça realidade a
velha obstinação do militarismo oligárquico colombiano de impedir que a
insurgência não combine [segundo a orientação leninista] todas as formas de luta
de massas. De massas, repito.
Pois bem, a
paralisação Agrária e Popular iniciada em 19 de agosto e que não terminou
ainda, pôs a descoberto como critério prático de verdade a existência das mais
variadas formas de luta de massas, praticadas pelo povo colombiano em sua luta
contra a oligarquia consular que domina e governa na Colômbia:
1. Há luta armada, com todas
as suas implicações deletérias, com a que se está enfrentando o plano
estadunidense “Espada de Honra”, sucedâneo do desprestigiado Plano Colômbia. O
enorme número diário de mortos e feridos das partes enfrentadas, apesar dos
ocultamentos midiáticos, assim o demonstra.
2. Presenciamos todos os
dias a intensa luta diplomática que se desenvolve [rodeada de água por todas as
partes] na ilha de Cuba entre as partes enfrentadas, Estado Colombiano e
Insurgência das FARC, para concluir o enfrentamento armado e avançar numa
Solução Política ao velho e histórico conflito social e armado colombiano.
3. A Paralisação Agrária e
Popular do povo Comum em sua marcha definitiva tem mostrado principalmente a
infinita criatividade do povo colombiano, longamente massacrado pela “espada
exterminadora do Estado”, como costumava dizer Francisco Mosquera, contra a
qual se tem enfrentado mediante a maior mobilização legítima [não armada] de
massas dos últimos cem anos na Colômbia. Mobilização Social e Popular da gente
Comum que, como primeira conclusão superficial, na qual tírios e troianos
estamos de acordo, é a de que MUDARAM TODAS AS REALIDADES POLÍTICAS DO PAÍS E
SUA PERCEPÇÃO GERAL.
4. Porém, ademais do
anterior, também ficou em evidência a intensa e variadíssima luta Política e
Ideológica e até Cultural [aberta e clandestina] com que se está travando a confrontação
de classes na Colômbia: os ponchos, as saias coloridas e sombreiros rústicos,
os chapéus de palha, próprios dos moradores de estado de Antioquia, os bastões indígenas, as cachuchas
operárias, os grafites juvenis, as faixas dos professores, os manifestos,
análises de opinião e, sobretudo, as declarações políticas das organizações
mobilizadas, assim o deixam ver, apesar de seu silêncio oficial.
Quer dizer que o que o militarismo oligárquico de JM
Santos e do regime que representa conseguiu ao tratar de impedir a utilização
de todas as formas de luta populares e de massas é exatamente o contrário. É o bumerangue que, vacilante e embaraçado, está recolhendo.
PORÉM,
TAMBÉM É DEVER RECONHECÊ-LO, o peso do extermínio por parte do Estado da
ferramenta política legal alternativa e popular é muito grande e tem deixado
ver o espaço vazio que se abriu, e que é PRECISO preencher rapidamente,
mediante uma avaliação objetiva e coletiva da conjuntura que se está dando e as
mudanças aceleradas, especialmente na conjuntura eleitoral, pois é dever nosso
interpretar as modificações para atuar rapidamente frente a elas,
principalmente quando a Oligarquia Consular, que tem todos os meios para a
medição da opinião pública, já percebeu e se dispôs ou se dispõe a manipular a
situação a seu favor.
Com
isto, e contrariando pela primeira vez minha “inclinação profissional”, me
aventurarei a dar alguns elementos HIPOTÉTICOS e tendenciais da tal conjuntura
eleitoral, que afloram desde já:
1. Santos não se reelegerá.
Ele sabe, porém manterá o blefe de sua reeleição como forma de incerteza
eleitoreira da qual são mestres o cacique Iragorri Hormaza e seu Filho.
2. Se não remontam as
pesquisas [daqui a novembro, coisa bastante difícil], Santos e sua unidade
eleitoreira lançarão o autoritário, inimigo jurado da paz Vargas Lleras. A
reativação do projeto Bom Governo e as figuras de proa que ali se
meteram assim o demonstra.
3. O Partido Liberal não acompanhará Vargas Lleras
e lançará seu candidato presidencial próprio.
4. O Partido Conservador se dividirá em três: Os
que vão com Vargas Lleras e a geleia, os poucos que vão com o Cacique do
Ubérrimo com seu programa do “Feudalismo Século XXI”, e os “contapropristas” de
Pastrana que irão por conta própria.
5. A intercessão de Navarro, ao não chegar a
acordos com outras forças, se farão contar sós.
6. O Polo-Moir que, através
do senador Robledo, recolheu algumas simpatias nas classes médias citadinas por
seu apoio à Paralisação Cafeeira e soube transferi-las para a candidatura da
senhora Clara López [quem, entre outros, tem um excelente slogan presidencial
de paz, justiça social, democracia e soberania], o mais provável é que trate de
consolidar sua tendência dominante de converter-se num partido parlamentar.
7. “O Feudalismo Século XXI”
de Uribe com seus poderes fáticos, como já se sabe, lançará algum de seus
pajens conhecidos.
8. Os demais partidos
pequenos dividirão suas lealdades entre as alternativas com mais possibilidades
de ganhar.
9. E no campo alternativo
popular [essa é a expectativa] se fará um debate interno que está em Marcha
para esclarecer sua participação na conjuntura eleitoral aberta através da
composição de uma ampla frente de convergência sobre os quatro pontos
programáticos expostos no debate interno:
a) Apoio irrestrito à
Solução Política ao conflito armado Colombiano e ao processo de paz de Havana,
b) Referenda do acordado e
saída da crise mediante uma Assembleia Nacional Constituinte,
c) Promoção de um modelo
econômico novo e alternativo de desenvolvimento para a Colômbia e
d) Composição de um Governo
Democrático, Pluralista de Coalizão Popular.
No entanto, a pergunta é: Em meio à utilização de todas as formas de luta de
massas que se estão dando atualmente na realidade colombiana, quais dois
candidatos presidenciais passarão ao segundo turno? ... Em qualquer
caso, ficar em segundo lugar é perder.
Então, conscientes da importância
histórica da brecha que se abriu na muralha oligárquico-Imperial da Colômbia,
onde pela primeira vez, em muitos anos, se pode avançar realmente sem que se
nos torne a passar o que sucedeu com Jorge Eliécer Gaitán, é indispensável que,
como costumava nos dizer nosso professor na Faculdade de Ciências Humanas da
Universidade Nacional de Bogotá, o sacerdote Camilo Torres, “Comecemos já A Unidade Popular na
Colômbia é possível”.