"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Venezuela: Entre eleição e eleição, quê?





Por Aram Aharonian*

Tradução: Joaquim Lisboa Neto

ALAI AMLATINA, 3/9/2013.- Entre denúncias de tentativas de magnicídio e sabotagens, debates sobre as formas de combate à corrupção, falta de discussão sobre modelos de desenvolvimento ou planejamento econômico-financeiro, transcorrerão os três meses que restam até as eleições municipais de dezembro, em meio a campanhas midiáticas destinadas não a informar ou orientar a cidadania, mas sim a confundi-la.
Para a agrupação chavista Marea Socialista, a Revolução Bolivariana atravessa seu momento mais crítico, já que a morte de Hugo Chávez abriu uma nova disputa pela hegemonia política no país. As eleições de 14 de abril não foram um momento de continuidade, mas sim de ruptura, mostraram em toda sua dimensão que se abriu uma nova etapa no Processo, afirmam. E assinalam que, para mudar o rumo, é imprescindível defender as conquistas sociais e políticas dos últimos 14 anos.
Pareceria que Venezuela, um país que ainda não consegue definir seu modelo de desenvolvimento e subsiste com uma economia baseada na monocultura e na renda do petróleo, vive de uns comícios a outros. A defasagem do tipo de câmbio faz, por exemplo, com que um tanque de gasolina de 50 litros custe 1,5 dólares, o mesmo que um só litro em qualquer país da região.
E enquanto setores de oposição, com a liderança aparente de Henrique Capriles Radonsky –que continua buscando apoio político e financeiro nos setores ultra direitistas do exterior-, veem próximo o apocalipse, dirigentes do chavismo insistem que, seja qual for o resultado, este não incidirá em absoluto no rumo da Revolução Bolivariana.
Os dados mostram que Nicolás Maduro se assentou na sucessão presidencial. E mais, a pesquisadora Hinterlaces indicou que 90% dos venezuelanos desejam que ele vá bem em sua gestão, enquanto 56% consideram que sua atuação como chefe de Estado tem sido positiva.
E nesta ocasião –outra vez- um setor opositor atribui caráter plebiscitário ao ato de 8 de dezembro, concebendo que, se os resultados favorecem ao antichavismo, deveriam realizar-se novamente os comícios presidenciais de abril deste ano nos quais Maduro Maduro se impôs apertadamente a Capriles Radonsky.
Há aqueles, algo mais apocalípticos e apegados a uma linguagem petulante e escatológica, que chegam a expressar que um triunfo municipal justificaria qualquer tentativa violenta [em abril foram responsáveis por 14 mortes e quase uma centena de feridos] e inclusive golpista [se encontrarem quadros castrenses dispostos a isso].
Se prepara a opinião pública para a já costumeira denúncia de “fraude” nas eleições. Este setor da oposição não aceita uma derrota eleitoral, repetindo o mesmo roteiro desde há quase quinze anos. E, para explicar isso, tem desenvolvido um bombardeio constante, já não só na imprensa comercial [rádios, televisão, diários], como também tem inundado as chamadas redes sociais. Se ganham, vem a violência... e se perdem, também. A opção para eles é retomar pelas forças as prebendas que perderam há 14 anos, sonhando com um renascer do neoliberalismo.
Em Venezuela, a mídia procura a regulação democrática dos conflitos ou exacerbam a confrontação? Existe uma pressão da cidadania contra a mentira política ou prevalece a tolerância nas audiências politizadas? Há meias verdades que matam... as boas práticas jornalísticas, assinala a socióloga Maryclén Stelling.
Porém, também existe um setor da oposição que crê na democracia, ainda que a experiência venezuelana demonstre que estes “moderados” ficam sempre sepultados pela arremetida dos setores desestabilizadores e golpistas, seduzidos pelo desconhecimento permanente da ordem constitucional, como ocorre desde 2002: golpe, vandalismos, sabotagem petroleira, tentativas de desobediência civil, chamados ao desconhecimento da realidade [chame-se derrotas sucessivas].
Novamente se insiste, por parte da oposição, da convocatória a uma Assembleia Constituinte. Alguns o fazem dentro da busca de um mecanismo que permite votações antes das presidenciais de 2018. Outros [setores poderosos] querem mudar a definição atual de economia mista por uma visão neoliberal, onde não se consagrem os direitos a saúde, educação e moradia.
E, em geral, a nenhum lhe agrada o modelo de participação popular, e há os que sustentam que, ainda que ganhem as eleições presidenciais, o poder público não estará em suas mãos.

Entre denúncias e sabotagens, o futuro
O sociólogo opositor Leopoldo Puchi assinala que a estratégia opositora de uma “primavera árabe” se desinflou após o 14 de abril e sua esteira de falecidos e feridos. Porém, na realidade, esse não é o perigo principal para o governo: o desafio são os votos, ante um descontentamento pela ineficiência e o burocratismo, que não é fácil reverter. “E já se sabe, sem votos não há paraíso”, assinala, após remarcar que as expectativas que se haviam criado nas bases do PSUV sobre a celebração de eleições primárias foram frustradas.
Maduro denunciou publicamente novas operações paramilitares com o objetivo de atentar contra sua vida e a do presidente da Assembleia Nacional Diosdado Cabello, parte de um plano organizado a partir da Colômbia, entre setores vinculados ao ex-mandatário Álvaro Uribe, ao ex-funcionário estadunidense Roger Noriega e ao terrorista de origem cubana Luis Posada Carriles.
Estes setores, denunciou, recrutaram mercenários e paramilitares colombianos, planejando uma operação encoberta com uniformes do exército venezuelano, para criar a imagem de uma ação militar contra o governo bolivariano. A estas denúncias de projetos de magnicídio se somam as sabotagens em refinarias e estações geradoras de energia.
Reinaldo Iturriza, ministro das Comunas, indica que “sucede com frequência que umas certas lógicas de raciocínio nos governam, e estas lógicas induzem práticas que nos governam igualmente, e um belo dia despertamos sendo governados por forças que não são as nossas”.
Toby Valderrama, colunista chavista, assinala que a luta interna é sinal da saúde da Revolução: “já sabemos que o silêncio, a não discussão, a unanimidade, é suicida. O trabalho principalíssimo da direção é manter o terreno, o equilíbrio, para que a luta interna de classes não se transborde, para que se realize no corpo a corpo dos argumentos e não das baionetas caladas. Do êxito na discussão dependerá que a Revolução encontre seu rumo”.
E com o marco da designação pela cúpula do PSUV dos candidatos a prefeitos e vereadores, assinala que a tarefa dos revolucionários é discutir acima de qualquer dificuldade e incompreensão, é criticar, prestigiar as ideias que dirigem a prática, combater os desvios com vigor. Ademais, entre os aliados do Grande Polo Patriótico o mal-estar é [causado] pelo “sectarismo”.
Neste intervalo entre eleição e eleição, continuam as dúvidas: se há que reativar ou transformar a economia. O economista e ex-ministro Victor Álvarez assinala que a reativação econômica é um processo que deve estar sincronizado com a transformação estrutural em função de substituir a velha ordem, exploradora do ser humano e depredadora da natureza, por outra ordem capaz de erradicar as causas estruturais do desemprego, da pobreza e da exclusão social.

Acrescenta que, desde que entrou em vigência a reconversão monetária, a inflação acumulada é de 311,3%. Isso significa que, hoje em dia, um Bolívar equivale a somente 0,2431 centavos do bolívar forte que começou a circular em janeiro de 2008. A inflação acumulada ao mês de julho chegou a 29% e a anualizada alcançou 42,6%.
O nível de corrupção e ineficiência é um fator que não somente incide no desgaste do modelo político atual e que conspira contra as esperanças de milhões que creem numa sociedade socialista justa. A prática generalizada da corrupção por grupos ou castas enquistadas no aparelho do Estado é, ademais, um dos principais obstáculos para construir um modelo econômico socialista, assinala o economista Simón Zúñiga.
A tolerância para a corrupção se converteu numa cultura que tem diversas expressões no peculato, no desvio de fundos, na negociação de recursos naturais [como o ouro e o coltán -conhecido como ouro azul, mistura dos minerais columbita e tantalita –n.t.] e a prática do nepotismo. E muitas vezes, para apagar os incêndios, se chama aos piromaníacos...
A difícil conjuntura econômica e as contínuas vacilações no mais alto [escalão do] governo têm impedido que até o momento se ponham em vigor uma série de medidas graduais, porém urgentes, para enfrentar os principais problemas econômicos e financeiros de curto prazo, assinalava Zúñiga. As reais urgências econômicas da cidadania também fazem pôr em dúvida os resultados dezembrinos.
O preocupante é que se queira interpretar esta dança de eleições como uma expressão de democracia. Num processo, onde converter o cidadão em sujeito de política [e não em mero objeto dela] tem sido uma de suas principais conquistas, confundir a participação passiva nuns comícios com democracia participativa e protagônica popular, pareceria ser uma piada de mau gosto.


*- Aram Aharonian é jornalista e docente uruguaio-venezuelano, diretor da revista Question, fundador de Telesur, diretor do Observatorio Latinoamericano en Comunicación y Democracia (ULAC).
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