As propostas do camarada Timo a Santos
Autor: Comandante Miguel Ángel.
«De repente os meios vêm
nos apresentar o uribismo como o abandeirado da paz e da
solução política, e
Uribe como o divino menino rechaçado pelas FARC»
Não se trata de que, por
buscar a paz e a solução política ao conflito colombiano, os
guerrilheiros e mandos das FARC-EP deixemos de ser revolucionários,
isto é, de sonhar com a tomada do poder para o povo e trabalhar por
ela. E, desde logo, tampouco se trata de que os reacionários e
militaristas até à morte, os patrocinadores do paramilitarismo e do
terror, da noite para o dia se transformem em anjos piedosos sem
obsessões pelo lucro.
Em Colômbia, como no
resto do mundo, têm existido talvez desde quanto tempo atrás os
que, movidos pelo ânimo do enriquecimento e da dominação social,
empregaram os mais grosseiros métodos para aumentar suas
propriedades, sem importar-lhes para nada o despojo produzido a
outros, nem o sofrimento causado com suas condutas. Se trata de
setores que invocam uma suposta superioridade fundada em seu talento
natural para os negócios, sua inteligência, sua cor de pele, sua fé
religiosa e até em sua bravura. De maus ou estúpidos os demais, e
nasceram para viver no andar de baixo.
Porém, também em
Colômbia e no resto do mundo têm existido os que creem e cultivam
outro tipo de valores, os que pensam nos interesses gerais, em que o
da comunidade em seu conjunto tem prioridade sobre o individual e
egoísta. Os que pensam que o mais pobre e insignificante dos seres
humanos é também um ser digno, que merece todo o respeito e a
solidariedade dos demais com o objetivo de contribuir com ele para
superar seu estado. Este setor da sociedade é amigo do diálogo, se
opõe ao emprego da violência e da guerra, sobretudo quando se
propõem a expropriação e a vassalagem. Nesses casos, não teve
outro remédio senão rebelar-se.
Os que põem de presente
os diálogos de Havana é essa profunda contradição de interesses
entre os que estão pelo caminho da guerra, da mão dura, da
repressão e da intolerância, e os que estão pela via da
democratização, do debate político aberto, da paz e da tolerância.
Que a poderosa e venenosa propaganda dos primeiros desespere por
todos os meios para apresentar as coisas ao revés não muda seu real
significado.
O camarada Timo acaba de
pôr o dedo na ferida. O urubismo e seu aparato político cinicamente
denominado Centro Democrático representa a mais raivosa expressão
da ultra direita de corte fascista, ainda que por seu estilo
respeitoso nosso chefe não o expresse assim. São demasiados e
contundentes os fatos históricos que provam os procedimentos desse
setor político, ligado por nexos muito poderosos à cúpula militar
e policial do país, que vão desde o desterro e o assassinato
individual de compatriotas até as hordas do paramilitarismo e do
deslocamento massivo de milhões de colombianos, passando por sua
vinculação com as máfias do narcotráfico, sua humilhação ante
as posições abertamente dominantes do imperialismo no mundo, sua
intolerância total à crítica do sistema econômico e do regime
político vigentes, sua hipócrita religiosidade cristã e suas
presunções de superioridade, entre tantas outras condutas
desprezáveis.
Assim que não nos digamos
mentiras, o uribismo é um inimigo declarado da paz, da solução
política e da reconciliação entre os colombianos. É o principal
incitador e fazedor da guerra, do terror de Estado e da lei do mais
forte. É a fonte da qual emana toda a podridão da qual a Colômbia
padece. E está demonstrando o descaradamente com sua doentia posição
ante os diálogos de Havana e o acordado até agora. Jamais se havia
visto tanta construção mentirosa, suja e canalha como a exibida em
suas 52 objeções aos acordos alcançados. Uma autêntica latrina de
fantasiosas porcarias.
O que o camarada Timo está
dizendo a Santos e por seu conduto a toda a nação colombiana é que
é urgente, prioritário, vital para a paz da Colômbia que o governo
nacional faça a um lado e contribua para isolar essas perturbadas
posições extremas.
Que, se na realidade o
Presidente Santos pensa passar à história como o Presidente da paz,
se encontra na obrigação de definir de uma vez por todas se se soma
ao clamor da imensa maioria dos colombianos que se inclinam pela
solução política, ou permanece atado às cadeias do uribismo
fascista, preocupado como o primeiro por não desagradar a seu
mentor. Quer dizer, se aposta na paz ou na guerra.
Por isso Timo acompanha
sua respeitosa cominação com a proposta pública de um armistício,
de um cessar bilateral de hostilidades que reforce e legitime os
diálogos que se desenvolvam em Havana. Inclusive sugere ao
Presidente que as gestões que se prepara a adiantar pela Europa na
próxima semana, que, segundo seu dito, apontam a promover a paz no
exterior, cumpra-as acompanhado de uma delegação das FARC. Isto é,
em resumo, que se case definitivamente com a aposta da verdadeira
reconciliação e dê as costas a seus inimigos declarados.
O manejo que os grandes
meios de comunicação deram à carta do camarada Timo põe de
presente que em realidade se encontram alinhados com a ultra direita
uribista, ainda que se mostrem timidamente solidários com os
esforços de paz do Presidente Santos e o conseguido em Havana. De
outra maneira não se explica que saiam a dizer que Timoshenko está
exigindo a Santos que arranque Uribe dos diálogos, inclusive até
ironizando porque não se pode tirar a quem não está dentro. De
repente, da noite para o dia, vêm nos apresentar o uribismo como o
abandeirado da paz e da solução política e a Uribe como o divino
menino rechaçado, apesar de sua declarada vocação pela paz. Não
há direito. Que maneira tão miserável de manipular tudo.
Para Uribe e seu séquito
é uma questão de fé o extermínio total das FARC-EP e, de
passagem, dos que de um ou outro modo coincidem com nossas posturas
políticas. A paz para eles consiste em que não exista ninguém que
possa confrontar sua avareza assassina. É algo que os colombianos
devemos ter a cada dia mais claro. Por isso é necessário
rechaçá-los e isolá-los.
Montanhas de Colômbia,
outubro de 2014.
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Equipe ANNCOL - Brasil
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