A
Colômbia leva adiante há quase dois anos, em Havana, um diálogo de
paz promissor entre o governo e as guerrilhas FARC (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia). Enquanto isso, em Bogotá, o
presidente Juan Manuel Santos – que conseguiu se reeleger para um
segundo período com o apoio da esquerda, algo inimaginável quando
chegou ao poder pela primeira vez – dá declarações como a que vê
“com bons olhos” o uso medicinal da maconha. E duas ministras
saem a público contando que são um casal.
Para
muitos, todas essas notícias que andam rondando a imprensa
brasileira e mundial dão a sensação de uma Colômbia 2.0. É
verdade que há muitas conquistas a se comemorar no país, mas essa
imagem renovada de estabilidade, ainda por cima com uma tinta
progressista, não corresponde 100% à realidade. Os colombianos
continuam às voltas com sua guerra interna, que dura mais de 60 anos
e tem profunda ligação com tudo o que acontece no país ainda hoje,
desde a opinião de um cidadão em particular até as macro questões
sociais, políticas e econômicas.
Sendo assim, para quem quer conhecer
mais profundamente este país – que tantas semelhanças guarda com
o Brasil, mesmo existindo distâncias concretas –, aqui vai uma
lista de cinco livros em espanhol, considerados essenciais por
intelectuais colombianos para que se entenda o conflito da Colômbia
e as bases da violência que se instalou por lá, à direita, à
esquerda e ao centro. São sugestões de cientistas políticos como
Maria Emma Wills Obregon e Nicolás Morales, jornalistas como Marta
Ruiz e Vicente Torrijos, antropólogos como María Victoria Uribe,
advogados como Manuel Hernández Benavides, analistas como Claudia
López e ex-combatentes das Farc, como Yezid Arteta Dávila.
Todos eles foram convidados pela
revista colombiana Arcadia
a dar sua opinião sobre as obras essenciais para desatar esse nó –
ao menos, na cabeça de alguns leitores.
"¡Basta ya! Colombia:
memorias de guerra y dignidad, de Gonzalo Sánchez e Ricardo
Peñaranda". La Carreta Editores. Tercera edición, 2007. Bogotá
Mais do que um material crítico, é
um informe. Recompila meio século de história de avanços e
retrocessos na guerra colombiana e, para muitos, é o que há de mais
que sério sobre o tema. Fala da origem dos partidos que polarizaram
a política da Colômbia na primeira metade do século XX, da Guerra
dos Mil Dias, da violência nos anos 40, de guerrilhas, narcotráfico
e paramilitarismo.
"El
orangutan con sacoleva, cien años de democracia y represión en
Colombia (1910-2010)", de Francisco Gutierrez. Editorial: Debate
(2014)
O autor faz uma rigorosa análise
conceitual, metodológica e histórica para explicar porque violência
política e democracia formal não só conviveram durante anos na
Colômbia entre 1910 e 2010, mas que se reproduziram e
retroalimentaram nesse período.
"Cuadernos de Campaña",
de Manuel Marulanda; "Diario de la Resistencia de Marquetalia",
de Jacobo Arenas; e "Páginas de mi Vida", de Ciro Trujillo
São três textos narrativos,
informalmente chamados de “A trilogia das FARC”. Quem indica essa
leitura defende que são textos que, sem serem pedantes ou
academicistas, descrevem os preâmbulos, o desenrolar e as
consequências da mítica “Operação Marquetália”, de 1964, que
para a maioria dos historiadores transformou um punhado de camponeses
em rebeldes – que, desde então, optaram por tomar o poder pela via
da revolução.
"Antología",
de Jesús Antonio Bejarano (1946-1999) – Vol. 2, Estudios de Paz,
Bogotá, Universidad Nacional de Colombia, 2011.
Neste livro, o professor Bejarano
mostra que o fracasso dos processos de paz com as guerrilhas (FARC e
ELN) até hoje se deveu a incompatibilidades básicas nas
negociações. Enquanto para o governo, negociar é uma maneira de
superar o conflito armado, para as guerrilhas é um processo que deve
conduzir à superação dos problemas do país.
"La Paz en Colombia"
(2008), de Fidel Castro Ruz. Editora Política. La Habana.
Segundo quem recomenda este título,
a interpretação de um conflito irregular como o colombiano pode ser
mais bem feita por olhares externos e confissões de personagens como
Fidel Castro, quem, de Cuba, sempre interveio nele apoiando a luta
guerrilheira, criticando a conduta de alguns de seus chefes, fazendo
sugestões aos governantes do país e chegando a conclusões
reveladoras – que até hoje continuam orientando grupos insurgentes
e governos bolivarianos no hemisfério sul.