Importância da publicação dos avanços dos diálogos de Paz de Havana
Por
Nelson Lombana Silva
A
notícia principal para a Colômbia na semana que se encerra é, sem
lugar a dúvidas, a publicação
dos avanços ou acordos que até agora se cristalizaram no marco dos
diálogos de Havana (Cuba)
entre a insurgência das FARC-EP e o governo do presidente Santos.
Desde
um princípio, o movimento fariano havia insistido no desenvolvimento
dos diálogos de frente para o país, porém o governo nacional, em
posição por demais torpe, tinha se oposto, até que certamente se
deu conta de que estava dando toda a gavela aos inimigos da paz para
especular e desinformar em forma aberrante com a cumplicidade
pusilânime dos grandes meios de comunicação.
O
movimento fariano foi claro desde um momento em dizer que nem Santos
nem eles tinham a chave da paz, que a chave da paz, realmente, o povo
a tem. A afirmação é correta. No heroico povo cubano se está
definindo o futuro do povo colombiano em seu conjunto, portanto é
elementar, óbvio, que esteja informado devidamente sobre o que se
está discutindo e o alcance deste.
O
governo nacional deve garantir que estes acordos parciais cheguem
diretamente ao povo e proporcione as garantias mínimas para que se
faça uma discussão e interpretação dos referidos acordos, de tal
maneira que se tenha os suficientes elementos para dimensionar os
avanços, o caráter e a importância destes, logicamente, no
entendido que nada está acordado até que tudo esteja acordado.
De
igual maneira, as forças revolucionárias e democráticas devem se
prodigalizar a fundo na tarefa de socialização dos referidos
avanços, porquanto certamente o governo tentará por todos os meios
impedir que o povo possa ter acesso a esses acordos e assim poder
estudá-los com base em sua própria realidade.
O
comandante Pablo Catatumbo qualifica os avanços de “acordos
modestos”, sobretudo se se entende que numa democracia medianamente
decente estes seriam óbvios, o qual indica com suma clareza e
crueldade que a democracia em Colômbia é de papel, imaginária,
virtual.
Não é
gratuito que o comandante Pablo Catatumbo chame o governo nacional de
Santos a assumir uma posição clara e consequente com a paz, posição
que deve estar acompanhada mais de fatos que de palavras: “O
governo deve ir mais além da retórica”, disse.
Esta
afirmação do comandante guerrilheiro tampouco é gratuita. Enquanto
Santos fala de paz, se empenha na Organização do Tratado do
Atlântico Norte [OTAN], no comando sul e guarda absoluto silêncio
frente às numerosas bases militares norte-americanas em território
colombiano. Como diriam as avós: “Acende uma vela a deus e outra
ao diabo”.
O
governo deve começar a expor como vai se desmontar a terrível
doutrina da segurança nacional, como vai se desmilitarizar o país,
qual será o verdadeiro estatuto da oposição e com que garantias
vai se desenvolver esta difícil, complexa e arriscada atividade de
fazer oposição em Colômbia.
Dentro
dos acordos vale destacar a caracterização do conflito, o qual não
deriva do narcotráfico, senão que deriva das terríveis condições
socioeconômicas do povo colombiano. Se poderia dizer que o
narcotráfico não é uma causa, senão uma consequência dessa
terrível desigualdade social e decomposição da classe dirigente de
nosso país. O povo não é narcotraficante, narcotraficante é a
classe dirigente desta putrefata oligarquia.
Com
todas essas contradições, o processo avança. Se faz necessário
que o governo entenda a necessidade do cessar bilateral do fogo o
mais rápido possível. Há aqueles que afirmam que o processo de paz
entrou numa etapa irreversível e que a discussão radica nas duas
concepções que se tem acerca da paz: Para a burguesia, não é mais
que uma simples vitória total, enquanto que para o povo é o
resultado de mudanças estruturais importantes. Quer dizer: Santos
propõe uma paz sem reformas e o povo deseja a paz com reformas.
O
debate não é de pouca monta, porque são duas posições
diametralmente opostas. Eis aqui por que é importante que se tenha
socializado esses avanços, porque corresponderá ao povo digerir as
iniciativas e incidir de alguma maneira em sua formulação como
disse o comandante Pablo Catatumbo.
O povo
deve se apoderar plenamente destes avanços e participar ativamente
em sua consolidação e condensação. Há que exigir do
estabelecimento as garantias mínimas para que o povo possa
desenvolver estas atividades com liberdade e democracia e sem medo de
ser estigmatizado e acusado de terrorista. Não é segredo para
ninguém que pensar em Colômbia é um delito.
Terceiro
ponto: Projeto conjunto - Participação
política