"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


domingo, 5 de outubro de 2014

Saudação às vítimas do conflito em sua terceira audiência.



La Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 2 de outubro de 2014


Senhores organizadores, saudações.


De maneira especial, queremos expresar nossas boas-vindas aos países garantidores das conversações de paz, Cuba e Noruega, e aos acompanhantes Chile e Venezuela.


À terceira delegação de Vítimas que hoje nos visita, nosso afetuoso abraço pleno de esperança na paz.


Aos 6 milhões de almas que perambulam sem justiça por cidades e mais além das fronteiras, aos deslocados da Colômbia, ausentes até hoje nestas audiências de vítimas do conflito em Havana, de Los Huyentes do poeta Carlos Satizábal, o seguinte:


Caerá sobre los ojos sin lágrimas, la sal del olvido
Y sobre los labios mudos del grito, el barro de la locura.
Huiremos por los campos arrasados, sin flores ni duelo
A sepultar más hondo a nuestros muertos, con premura,
Espantando a las bestias carroñeras del cielo
Y a los perros hambrientos que devoran lo perdido
Y aúllan a la luna los huesos desolados de sus amos.
Una lluvia de arena roja quemará nuestros oídos
Y el viejo olor de la muerte ahogará las huellas que pisamos.
Ni el agua ni el viento ni la espuma de los venenos
Ni el trueno de las bombas, podrán detenernos.
Lo bello es horrible y lo horrible es bello,
A través de la niebla, por el aire impuro vagaremos.
Haremos nuevos caminos sobre la selva que se puebla.
Habrá otro suelo y buenas semillas qué cultivar.
Otro azul será el cielo y una casa nueva habitaremos,
Haremos arepas frescas y pan de maíz frente al mar
Y beberemos en las mañanas el café recién colado.
Somos los huyentes que jamás se han ido. Los que nunca se van.


A Delegação de Paz das FARC-EP estende seus braços com afeto às vítimas do conflito que hoje nos falam de seu sofrimento, no marco de uma longa confrontação política e armada, que deve terminar.


Não é justo, não é justo sigamos nos matando, quando afrontamos na Mesa de Conversações o cardeal assunto das vítimas. Porque não queremos mais vitimizações coletivas nem pessoais, mantemos em meio ao furacão da guerra que não desejamos, firme em nossas mãos, a bandeira do armistício, convertida hoje em emblema de humanidade. Não há razão política nem militar para manter a contumácia criminal que nega o anseio nacional que exige o cessar-fogo, trégua e paz. A guerra entre pobres deve terminar. Diríamos com Roque Dalton que o pobre só é função de um sonho coletivo, um uniforme repleto de suspiros recordando o arado.


Nestas circunstâncias, tampouco haveria razão para guardar silêncio frente à insensatez dos que novamente lançam ameaças contra os defensores da paz e dos direitos humanos, precisamente quando abordamos o ponto relativo a vítimas. Em menos de uma semana, no mês de setembro, um grupo paramilitar ameaçou de morte, de maneira reiterada, a 23 deles, entre os quais estão o senador do Polo Democrático Alternativo [PDA] Iván Cepeda, a senadora do partido Aliança Verde, Claudia López, e vários jornalistas. Dias depois foram declarados “objetivos militares” nove defensores e defensoras de direitos humanos.


A intransigência e intolerância dos mencionados grupos criminosos, e dos que se escondem atrás deles, vitimizou a toda a sociedade colombiana desde há décadas, acusando de guerrilheiros e assinalando como objetivos militares a todos aqueles que defendem os direitos humanos, as vítimas, a imprescindível restituição de terras, ou a paz.


Segundo informou o Sistema das Nações Unidas em Colômbia, pelo menos 40 líderes sociais foram assassinados no transcorrer deste ano, três deles nas últimas duas semanas. As vítimas são também dirigentes de processos de restituição de terras, líderes indígenas, jornalistas e representantes de movimentos e de partidos políticos. Se trata de práticas criminais que buscam intimidar aos defensores da paz e calar o clamor pela reconciliação da sociedade colombiana.


Não será possível alcançar a concórdia enquanto haja mortos ou pessoas que são ameaçadas por trabalhar contra a injustiça.


Expressamos nossa solidariedade e apoio a estas novas vítimas e a seus familiares e amigos, e reclamamos às autoridades colombianas que ponham em marcha medidas eficazes para acabar com esta situação e castigar os responsáveis.


Durante anos, as FARC-EP aspiramos à construção de um Estado alternativo, para o qual nos impusemos estritas normas de funcionamento e de comportamento interno. E se estritas são estas, mais ainda são aquelas que regulam nossa relação com a população, com nosso povo. O fim altruísta que distingue nossa rebelião, reconhecida como o direito universal dos povos a opor-se às injustiças provocadas por um mau governo, nos obriga a priorizar os interesses das comunidades. Apesar das dificuldades e da dureza de uma guerra que se prolonga por mais de 50 anos, nos dotamos de uma jurisdicidade guerrilheira mediante normas que guardam profunda identidade com aquelas que configuram o Direito Internacional Humanitário e os Direitos Humanos; isto no entendido de que, mais além de qualquer erro ou falha no comportamento insurgente, nossa luta está inspirada em reivindicar os interesses dos setores mais desfavorecidos. Desta circunstância se desprende que nossas normas nos obrigam a privilegiar o cuidado das comunidades, evitando qualquer ação ou omissão que as deixasse a mercê do terrorismo de Estado e de seus paramilitares, incluindo aos determinadores destes.


Dentro da mesma perspectiva, as FARC-EP se obrigaram a denunciar e combater as atuações do exército e dos paramilitares que agrediram a população ou destruíram seus bens, o que nos obrigou a atuar contra tais grupos, seus financiadores e seus instigadores, afirmando que durante anos a única perseguição e castigo efetivo que contra o paramilitarismo houve em Colômbia foi a que a insurgência promoveu.


Por todo o acima exposto, em seu momento, a Coordenadora Guerrilheira Simón Bolívar nos deixou o legado do estudo e da observância do Direito Internacional Humanitário como parâmetro a ter em conta, sempre em forma de acordo com as condições nas quais se desenvolve nossa guerra revolucionária.


No entanto, mais além de todas as medidas que implementamos para não replicar e evitar a barbárie da contraparte, as vitimizações em Colômbia não ficaram somente no plano individual e subjetivo, senão que têm uma estruturação que configurou vitimizações coletivas na medida em que foram coletivos específicos, identificados perfeitamente, os que foram convertidos em objeto de eliminação e extermínio pelas forças do Estado, seus agentes e os grupos a seu serviço. É imprescindível um reconhecimento expresso a todos eles: ao Movimento Gaitanista dos anos ’40, à União Nacional de Oposição [UNO], à Frente Democrática, ao Partido Comunista, ao movimento A Lutar, e à Frente Popular. Menção à parte merece o genocídio político de que foi vítima a União Patriótica, único caso no mundo em que uma Corte, neste caso a Interamericana, declarou que uma organização política e seus integrantes foram vítimas de uma perseguição sistemática até sua total eliminação.


Justo e necessário é que se faça o reconhecimento em sua condição de vítimas coletivas a organizações políticas, sociais e sindicais, de comunidades campesinas, indígenas e afrodescendentes, de direitos humanos, e de mulheres, que sofreram o rigor do terrorismo de Estado.


Nestes casos, tal vitimização coletiva não somente foi porque exerceram oposição política, senão que também e especialmente porque, durante anos, em exercício de uma doutrina de segurança apátrida, o estabelecimento colombiano assinalou como inimigo a todos aqueles que se atreveram a reivindicar ou a lutar por uns mínimos direitos, para eles ou para seus semelhantes, porque os poderosos sempre se negaram a reconhecer a quem não formasse parte da casta dirigente privilegiada.


Nesta cidadela, ao lado do busto do herói e pai da Pátria cubana, José Martí, há uma frase de seu pensamento, que é necessário reivindicar:La verdad no es más que una, y quien la dice cuando los demás tienen miedo de decirla, impera”. [“A verdade não é mais que uma, e quem a diz quando os demais têm medo de dizê-la, impera”]. Esse deve ser o compromisso de todos, e dentro de tal linha a contextualização e a explicação de conjunto da relação vítima-vitimário deve arrancar-nos da falácia de ocultação que a subjetivização do problema entranha.


O que está em jogo, então, é dar realce à conotação social e política da vitimização assinalando a responsabilidade de seus geradores e beneficiários primitivos; devemos, entre todos os que fomos obrigados a resistir e a sofrer as consequências da confrontação imposta, pôr em claro a responsabilidade sistêmica que derivou em desigualdade, miséria e luto para as maiorias, o qual conduz a que as vitimizações por conceito da violação dos direitos econômicos, sociais e culturais, que gerou a aplicação insensata das políticas neoliberais, que, sem dúvida, produzem mais mortes que as ações bélicas, não podem passar-se por alto, como até agora tem sucedido.


Ante estas injustiças é que permanecemos em rebeldia e temos que visibilizá-las, pondo casos concretos como, por exemplo, o abandono total que padecem regiões como o Chocó e a Guajira, entre muitas outras. Onde estão os doloridos de milhares de crianças que morrem por inanição e por doenças curáveis, onde estão os doloridos de todos aqueles que padecem a falta de soluções às necessidades básicas insatisfeitas? Hoje, mais do que nunca, temos a convicção de que o verdadeiro ressarcimento para as vítimas só será com a conquista da paz, e a paz só será se a construímos dando em abundância o que os despossuídos de sempre merecem.


DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP

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Equipe ANNCOL - Brasil
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