Alerta: A águia imperial vem por América Latina e Caribe
Por
Fernando Vicente Prieto, desde Caracas.
A
América Latina vive uma situação inusual e extraordinária. A
contínua, sistemática e crescente agressão contra Venezuela não
se detém. Para quem queira ver, a sucessão de fatos destes últimos
meses é evidente. É a antessala de uma intervenção militar ou
paramilitar em nossa região.
Um
decreto de Barack Obama declara os EUA em emergência nacional, ante
a inusual e extraordinária ameaça que suporá Venezuela para aquele
país.
Isto obriga a uma profunda reflexão. Que significa esta ação
política dos EUA? Em termos técnicos, implica uma clara ingerência
sobre os poderes do Estado venezuelano: o Poder Executivo e o Poder
Moral, sancionando a seis funcionários encarregados da segurança e
a uma promotora encarregada de promover ações judiciais ante fatos
de violência e golpismo. Se isto já é grave, em termos políticos
globais é muito pior.
Quem
é a ameaça?
Baseados
numa –intencionalmente- errônea caracterização da situação em
Venezuela, o governo dos EUA se manifesta alarmado pelos direitos
humanos e pela democracia neste país e põe em funcionamento sua
maquinaria bélica para torcer o braço e processar ao governo
bolivariano. Tremendo cinismo.
Inclusive
alguns dirigentes de esquerda caem no jogo deste discurso perverso,
convertendo-se –voluntariamente ou não- em cúmplices dos planos
imperialistas. Para expor só um par de exemplos: em poucos dias,
Pablo Iglesias, -dirigente do Podemos-, manifestou que não lhe
agradava que o
golpista prefeito Ledezma estivesse preso;
o novo vice-presidente do Uruguai, Raúl Sendic, declarou que não
tem elementos para afirmar sobre a ingerência norte-americana e um
candidato presidencial da esquerda na Argentina –Jorge Altamira, do
FIT- chegou ao extremo de defender a ex-deputada de direita María
Machado e acusar de golpista ao governo bolivariano.
O
fato de que estas infelizes manifestações surjam do desconhecimento
e/ou dos cálculos políticos –curiosos cálculos- não exime de
responsabilidade aqueles que se somam ao coro imperial, dialogando
dentro dos marcos permitidos pelo discurso golpista e justificando a
agressão.
Por
isso, faz falta repetir uma vez mais: em Venezuela há plena
liberdade de expressão, de associação política e de respeito aos
direitos humanos. A oposição de direita não tem representação
parlamentar e postos executivos de acordo com sua força eleitoral,
senão que até pode se dar ao luxo de propor golpes de Estado –e
inclusive promovê-los, como em abril de 2002-, exigir impunidade por
esses fatos e ao mesmo tempo rotular de antidemocrático ao governo
que convocou 19 eleições [e ganhou 18].
Se
hoje os setores direitistas praticamente abandonaram as mobilizações
pacíficas, se deve a sua falta de convocatória. Entre fevereiro e
junho de 2014, como em 23 de janeiro, 12 de fevereiro e 28 de
fevereiro de 2015, ficou evidente que há muito mais venezuelanas e
venezuelanos que respaldam a vigência da Constituição que os que
marcham pela saída do governo.
Se,
de verdade, a estes dirigentes políticos lhes importa a situação
de direitos humanos e democracia em Venezuela, por que não se
informam? Como esquivar, por exemplo, a posição da Comissão de
Vítimas das Guarimbas e do Golpe continuado, que reúne aos
familiares das pessoas assassinadas e feridas pela violência
direitista de 2013-2014? Como fugir do que dizem as organizações
populares de Venezuela, os milhões de habitantes organizados em
comunas, movimentos sociais, coletivos ecologistas, sindicatos e
agrupações de mulheres, que se expressam uma e outra vez nas ruas?
O
discurso colonizado repete, ou pelo menos dá por certo, que em
Venezuela se persegue aos estudantes e aos opositores políticos,
obscurecendo os graves delitos pelos quais estas pessoas foram
detidas. Se justifica em algum lugar do mundo a derrocada de um
governo constitucional através de atos violentos –o ataque a
edifícios públicos, a queima de universidades e unidades de
transporte, o assassinato de guardas nacionais com francoatiradores,
o intento de golpe de Estado comprando efetivos militares- e a
invisibilização e negação da vontade popular?
Que
passaria, por exemplo, se sucedesse esta situação nos Estados
Unidos, ou no Estado espanhol ou na Argentina? Alguém no mundo
defenderá que os responsáveis por estes atos ficarão impunes? Por
que em Venezuela só estaria bem que exista impunidade para as
pessoas que organizaram e participaram destes ataques? A batalha de
ideias é urgente.
Venezuela
é América Latina
O
ataque ao governo de Nicolás Maduro é um indissimulável intento
por abortar o processo de democratização mais amplo da história
venezuelana. Um povo que estava afundado na miséria e na repressão
durante décadas, a partir de 1998, começa a protagonizar um
despertar da participação em todos os planos.
Para
citar só um aspecto: nos últimos dois anos se registraram mil
comunas onde o povo começa a exercer o autogoverno, se propondo
superar a democracia liberal burguesa, que estabelece que o povo não
delibera nem governa. O faz, para maiores dados, na nação que
possui a maior reserva petroleira do mundo e ostenta uma posição
geopolítica privilegiada, como enlace com o Caribe e porta de
entrada para a América do Sul.
Se
entende que a principal potência militar do mundo, hoje em declive
político e econômico relativo ante a emergência de outros atores
geopolíticos, tente recuperar posições a sangue e fogo. O que não
se compreende é que haja milhões de pessoas de boa vontade que
assistam com cumplicidade ou indiferença a esta encruzilhada.
Venezuela
é América Latina por história comum e por solidariedade com nossos
irmãos e irmãs do continente. Porém, ademais, porque este passo
dos EUA é uma das táticas mais decisivas, no marco de uma
estratégia que aponta para a Amazônia, para o Aquífero Guarani,
para as geleiras continentais, as reservas de petróleo e minerais, a
biodiversidade e as condições para a reprodução da vida que nosso
continente mestiço tem.
Vale
a pena ouvir detidamente o discurso pronunciado pelo presidente
Nicolás Maduro na segunda-feira 9 de março, que reitera muitos
elementos que vêm se adiantando há tempo, sistematicamente eludidos
à direita e à esquerda. É Bolívar versus Monroe, uma vez mais.
A
CELAC declarou a América Latina e o Caribe como território de paz.
Queremos, os latino-americanos e as latino-americanas, que seja uma
região de guerra? Os EUA estão propondo isso, nestes momentos.
A
grande consciência dos povos surge da batalha, expressou Maduro em
sua intervenção em cadeia nacional. Não é tempo de covardia nem
de vacilações. Ou somos América Latina livre ou não somos! E
também: faço um chamado aos governos e povos de América Latina e
Caribe para defender a democracia e a soberania ante as cobiças
imperiais.
O
povo e o governo venezuelano estão decididos a resistir. Os países
da ALBA, encabeçados por Evo, Correa e Fidel, manifestaram sua
posição. Resta saber o que farão os demais atores políticos do
continente: não somente seus governos, como também suas
organizações populares. É tempo de libertar-nos de misérias e
oportunismos. É hora de sermos coerentes entre as palavras e os
atos, para prestar nossa contribuição, modesta porém
imprescindível, à construção de uma humanidade melhor.
Tradução
de Joaquim Lisboa Neto
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