"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


domingo, 22 de março de 2015

Alerta: A águia imperial vem por América Latina e Caribe


Por Fernando Vicente Prieto, desde Caracas


A América Latina vive uma situação inusual e extraordinária. A contínua, sistemática e crescente agressão contra Venezuela não se detém. Para quem queira ver, a sucessão de fatos destes últimos meses é evidente. É a antessala de uma intervenção militar ou paramilitar em nossa região.
Um decreto de Barack Obama declara os EUA em emergência nacional, ante a inusual e extraordinária ameaça que suporá Venezuela para aquele país. Isto obriga a uma profunda reflexão. Que significa esta ação política dos EUA? Em termos técnicos, implica uma clara ingerência sobre os poderes do Estado venezuelano: o Poder Executivo e o Poder Moral, sancionando a seis funcionários encarregados da segurança e a uma promotora encarregada de promover ações judiciais ante fatos de violência e golpismo. Se isto já é grave, em termos políticos globais é muito pior.


Quem é a ameaça?
Baseados numa –intencionalmente- errônea caracterização da situação em Venezuela, o governo dos EUA se manifesta alarmado pelos direitos humanos e pela democracia neste país e põe em funcionamento sua maquinaria bélica para torcer o braço e processar ao governo bolivariano. Tremendo cinismo.
Inclusive alguns dirigentes de esquerda caem no jogo deste discurso perverso, convertendo-se –voluntariamente ou não- em cúmplices dos planos imperialistas. Para expor só um par de exemplos: em poucos dias, Pablo Iglesias, -dirigente do Podemos-, manifestou que não lhe agradava que o golpista prefeito Ledezma estivesse preso; o novo vice-presidente do Uruguai, Raúl Sendic, declarou que não tem elementos para afirmar sobre a ingerência norte-americana e um candidato presidencial da esquerda na Argentina –Jorge Altamira, do FIT- chegou ao extremo de defender a ex-deputada de direita María Machado e acusar de golpista ao governo bolivariano.
O fato de que estas infelizes manifestações surjam do desconhecimento e/ou dos cálculos políticos –curiosos cálculos- não exime de responsabilidade aqueles que se somam ao coro imperial, dialogando dentro dos marcos permitidos pelo discurso golpista e justificando a agressão.
Por isso, faz falta repetir uma vez mais: em Venezuela há plena liberdade de expressão, de associação política e de respeito aos direitos humanos. A oposição de direita não tem representação parlamentar e postos executivos de acordo com sua força eleitoral, senão que até pode se dar ao luxo de propor golpes de Estado –e inclusive promovê-los, como em abril de 2002-, exigir impunidade por esses fatos e ao mesmo tempo rotular de antidemocrático ao governo que convocou 19 eleições [e ganhou 18].
Se hoje os setores direitistas praticamente abandonaram as mobilizações pacíficas, se deve a sua falta de convocatória. Entre fevereiro e junho de 2014, como em 23 de janeiro, 12 de fevereiro e 28 de fevereiro de 2015, ficou evidente que há muito mais venezuelanas e venezuelanos que respaldam a vigência da Constituição que os que marcham pela saída do governo.
Se, de verdade, a estes dirigentes políticos lhes importa a situação de direitos humanos e democracia em Venezuela, por que não se informam? Como esquivar, por exemplo, a posição da Comissão de Vítimas das Guarimbas e do Golpe continuado, que reúne aos familiares das pessoas assassinadas e feridas pela violência direitista de 2013-2014? Como fugir do que dizem as organizações populares de Venezuela, os milhões de habitantes organizados em comunas, movimentos sociais, coletivos ecologistas, sindicatos e agrupações de mulheres, que se expressam uma e outra vez nas ruas?
O discurso colonizado repete, ou pelo menos dá por certo, que em Venezuela se persegue aos estudantes e aos opositores políticos, obscurecendo os graves delitos pelos quais estas pessoas foram detidas. Se justifica em algum lugar do mundo a derrocada de um governo constitucional através de atos violentos –o ataque a edifícios públicos, a queima de universidades e unidades de transporte, o assassinato de guardas nacionais com francoatiradores, o intento de golpe de Estado comprando efetivos militares- e a invisibilização e negação da vontade popular?
Que passaria, por exemplo, se sucedesse esta situação nos Estados Unidos, ou no Estado espanhol ou na Argentina? Alguém no mundo defenderá que os responsáveis por estes atos ficarão impunes? Por que em Venezuela só estaria bem que exista impunidade para as pessoas que organizaram e participaram destes ataques? A batalha de ideias é urgente.
Venezuela é América Latina
O ataque ao governo de Nicolás Maduro é um indissimulável intento por abortar o processo de democratização mais amplo da história venezuelana. Um povo que estava afundado na miséria e na repressão durante décadas, a partir de 1998, começa a protagonizar um despertar da participação em todos os planos.
Para citar só um aspecto: nos últimos dois anos se registraram mil comunas onde o povo começa a exercer o autogoverno, se propondo superar a democracia liberal burguesa, que estabelece que o povo não delibera nem governa. O faz, para maiores dados, na nação que possui a maior reserva petroleira do mundo e ostenta uma posição geopolítica privilegiada, como enlace com o Caribe e porta de entrada para a América do Sul.
Se entende que a principal potência militar do mundo, hoje em declive político e econômico relativo ante a emergência de outros atores geopolíticos, tente recuperar posições a sangue e fogo. O que não se compreende é que haja milhões de pessoas de boa vontade que assistam com cumplicidade ou indiferença a esta encruzilhada.
Venezuela é América Latina por história comum e por solidariedade com nossos irmãos e irmãs do continente. Porém, ademais, porque este passo dos EUA é uma das táticas mais decisivas, no marco de uma estratégia que aponta para a Amazônia, para o Aquífero Guarani, para as geleiras continentais, as reservas de petróleo e minerais, a biodiversidade e as condições para a reprodução da vida que nosso continente mestiço tem.
Vale a pena ouvir detidamente o discurso pronunciado pelo presidente Nicolás Maduro na segunda-feira 9 de março, que reitera muitos elementos que vêm se adiantando há tempo, sistematicamente eludidos à direita e à esquerda. É Bolívar versus Monroe, uma vez mais.
A CELAC declarou a América Latina e o Caribe como território de paz. Queremos, os latino-americanos e as latino-americanas, que seja uma região de guerra? Os EUA estão propondo isso, nestes momentos.
A grande consciência dos povos surge da batalha, expressou Maduro em sua intervenção em cadeia nacional. Não é tempo de covardia nem de vacilações. Ou somos América Latina livre ou não somos! E também: faço um chamado aos governos e povos de América Latina e Caribe para defender a democracia e a soberania ante as cobiças imperiais.
O povo e o governo venezuelano estão decididos a resistir. Os países da ALBA, encabeçados por Evo, Correa e Fidel, manifestaram sua posição. Resta saber o que farão os demais atores políticos do continente: não somente seus governos, como também suas organizações populares. É tempo de libertar-nos de misérias e oportunismos. É hora de sermos coerentes entre as palavras e os atos, para prestar nossa contribuição, modesta porém imprescindível, à construção de uma humanidade melhor.
Tradução de Joaquim Lisboa Neto


_______________________________________________
Lista de correo diariodeurgencia de Resumen Latinoamericano