Pondo as coisas a limpo
La
Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 23 de Março de 2015
Somos
otimistas, pois é certo que avançamos, abordamos três pontos da
Agenda do Acordo Geral em matéria de desenvolvimento rural, de
participação cidadã e de nova política antidrogas e estamos
andando a passos rápidos sobre o ponto referente a vítimas, com
iniciativas inovadoras, e ao mesmo tempo adiantamos critérios sobre
assuntos cruciais como o cessar-fogo, e inclusive pusemos sobre a
Mesa visões sobre temas não menos transcendentais como o da
deixação de armas, o qual entranha compromissos de ambas as partes
em torno à decisão de retirá-las da atividade política. Porém é
lamentável e preocupante que, paralelamente a esses avanços, está
andando uma intensa campanha midiática oriunda de diversos flancos
institucionais que dá a sensação de que o acordo está na volta da
esquina.
Montar
a matriz de irreversibilidade não é conveniente se se considera que
elevar as expectativas para o cume do irreal poderia levar-nos ao
terreno das frustrações, pior ainda quando se pretende impor
fórmulas jurídicas de submissão à guerrilha, de tal maneira que,
se não as admite, se lhe possa acusar de ser intransigente e de
obstruir o avanço do processo.
Nestes
assuntos da guerra e da paz, que congregam tantas complicações e
sensibilidades, porém também tantas ilusões, é válido desejar e
sonhar; sobretudo ser criativos na busca de soluções aos problemas
da miséria, desigualdade e a falta de democracia que causaram e
mantêm o conflito. Tudo isto, há que fazê-lo com os pés bem
postos sobre a terra.
Em
resumo, há muito por transitar e muito mais vontades que somar,
antes de expressar que QUASE TUDO JÁ ESTÁ PRONTO. Faltam por
abordar temas sumamente complexos como a definição da comissão do
esclarecimento da verdade e não repetição, o cessar-fogo
bilateral, a já mencionada deixação de armas, o esclarecimento do
fenômeno do paramilitarismo e da guerra suja, a urgência de que as
Forças Armadas se afastem da criminal Doutrina da Segurança
Nacional e da concepção do inimigo interno; ou está o caso de que,
se não se resolve o problema do latifúndio, e se não se freia a
estrangeirização da terra, que viola os interesses dos campesinos e
lesa a soberania nacional, simplesmente demoraríamos mais na
concretização do acordo.
De todas
as maneiras, o dever dos que anseiam por uma Colômbia sem mais
conflito e vitimizações não pode ser outro que persistir e
empenhar todos os esforços em derrotar aos guerrereistas para levar
adiante cada um dos mencionados propósitos, que é a forma de levar
juntos até bom porto o processo de diálogos. Por isso as FARC-EP
insistimos em convocar a todo o país para que apoie cada iniciativa
e dê impulso a uma Constituinte que abra caminho à justiça social
como base sobre a qual possamos fundar a Nova Colômbia em que impere
o bem viver e a esperança.
Outro
assunto é que o acordo de limpeza de explosivos dos campos
colombianos é apresentado pela imprensa como se houvesse somente o
compromisso exclusivo da insurgência; é tema que compromete também
ao governo como responsável pela contaminação do território com
estes letais artefatos de guerra que constituem perigo para as
comunidades. Este é um acordo bilateral, de recíprocas obrigações,
o qual aspiramos a que, dentro de um cessar bilateral de fogos, se
possa estender a todo o país.
DELEGAÇÃO
DE PAZ DAS FARC-EP.
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Equipe
ANNCOL - Brasil