SANTOS ESTÁ BRINCANDO COM A PAZ
Por
Matías Aldecoa
“Avançamos
como nunca, porém ainda há muito pano por cortar”,
foi a expressão “coloquial” do Comandante Pablo Catatumbo, ao
chamar a atenção sobre o mal-intencionado manejo midiático que o
governo faz do processo de paz, dizendo meias verdades ou falsidades,
com o que semeia expectativas que não correspondem à realidade.
Um
imenso dano está causando ao processo a “intensa
campanha midiática oriunda de diversos flancos institucionais que dá
a sensação de que o acordo está na volta da esquina”.
A realidade é que o Presidente Santos instrumentalizou o processo de
paz como estratégia de campanha para que obtenha um bom resultado
nas urnas em outubro, sacrificando o avanço das conversações e
brincando com o desejo de paz dos colombianos.
Em
Havana apraza
e apraça, cada vez mais, a retomada das
ressalvas e se mostra intransigente para concertar o tema de justiça,
para combinar o cessar-fogo bilateral e se nega a desmantelar o
paramilitarismo com o argumento mentiroso de que este “já
não existe”.
Qual
será o efeito sobre a população iludida com umas expectativas
desproporcionais, se chegarem a apresentar-se no desenvolvimento das
Conversações obstáculos intransponíveis? De quem será a
responsabilidade de uma nova frustração do povo, construída de
forma maquiavélica com mentiras do governo?
Nós,
as FARC-EP, estamos comprometidos com a paz, uma paz edificada sobre
firmes alicerces para que possa ser duradoura. Nisto se fundamenta
nossa preocupação pelo pouco interesse que Juan Manuel Santos tem
em avançar nos pontos 3 e 5 da Agenda Geral –dos quais se ocupa a
Mesa na atualidade-, e em retomar os “temas
cruciais”
que compõem as 28 ressalvas sobre política agrária, participação
política e cultivos ilícitos.
O
povo colombiano que tem sofrido a guerra durante 50 anos, e mais,
deve relembrar a Santos que o elegeu foi para que ponha fim ao
conflito e não para que se perpetue no poder mediante a reprodução
dos males que têm impedido finalizar a guerra.
“Vergonha
da Nação”
O
sistema judicial colombiano se encontra submerso numa profunda crise
motivada pelos recentes escândalos de corrupção, tráfico de
influências e vínculos com o paramilitarismo que envolve ao
presidente da Corte Institucional.
Como
o país sabe, o magistrado Jorge Inacio Pretelt Chaljub se nega a
renunciar a seu cargo apesar de que a Promotoria Geral da Nação o
investiga pelos delitos de tráfico de influências, gestão para
delinquir exacerbada, deslocamento forçado de população civil,
lavagem de ativos e destruição e apropriação de bens protegidos.
O
argumento de Pretelt para ficar no posto é que os outros oito
magistrados que lhe estão pedindo a renúncia também têm motivos
para serem investigados –afirmou que as práticas corruptas que lhe
impingem são usuais no alto mundo judicial-, o que nos mostra o
nível de degradação moral em todos os órgãos do poder público e
que o caso Pretelt é só um sintoma da enfermidade crônica da qual
a esfera judicial padece.
“A
Colômbia necessita de urgentes mudanças institucionais que não
poderão vir senão de uma Assembleia Nacional Constituinte [...]
devemos honrar a justiça no sentido mais amplo, como aspiração
suprema dos povos”,
é o que disseram as FARC-EP em Cuba, na voz do integrante do
Secretariado, Pastor Alape, ao ocupar-se do tema.
Faz-se
necessário iniciar na Mesa de conversações uma profunda reflexão
sobre as mudanças fundamentais que a justiça requer e todo o país
indignado clama. Isso requer o envolvimento de pesquisadores e
jornalistas comprometidos com a restauração moral da nação, da
participação da academia e dos líderes e movimentos sociais; para
produzir umas elaborações substanciais que sirvam de insumos ao
cenário dos Diálogos, no qual buscamos configurar uma nova
institucionalidade, que garanta a paz democrática.
O
desminado é humanitário!
Outro
tema mencionado pela Delegação de paz das FARC-EP na jornada de 21
a 23 de março, no marco dos Diálogos de Havana, foi o relacionado
com o Acordo sobre limpeza e descontaminação do território.
O
Comandante Ricardo Téllez, numa rodada de imprensa, esclareceu que o
caráter do desminado é humanitário, se realiza exclusivamente em
algumas zonas onde a população civil corre risco e é bilateral,
isto é, tem como propósito remover dos lugares também as cargas
explosivas que foram lançadas pela aviação e a artilharia do
exército e que não explodiram. Ler: Pondo
as cosas a limpo
O
desminado militar, remoção e limpeza de explosivos não se realiza
ainda, posto que a guerra não terminou; este começará a ser feito
quando se comece a implementar o acordo final depois de que o
subscrevam as partes.
Em
correspondência
com
esse
tema, a Subcomissão
Técnica das FARC realizou
duas reuniões com representantes
da organização
Ajuda
Popular Noruega (APN) –encarregada
de cordenar
o
desminado- e
com
delegados do
Exército,
chefiados
pelo General
Javier Flores, para definir os detalhes
operativos do
desminado humanitário
em
três
pontos
do
territorio nacional.
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Equipe
ANNCOL - Brasil