Chávez, o grande fazedor
por
CARLOS AZNÁREZ
Diretor
de Resumen Latinoamericano
5
MARÇO 2015
Contundente
na hora de tomar decisões, sobretudo aquelas que tinham a ver com os
interesses de sua querida Venezuela. Apaixonado e entusiasta na
defesa dos mais humildes, aos quais dedicou todos e cada um dos dias
de seu mandato. Procurador da unidade para golpear, todos juntos, ao
Império, algo que demonstrou não só na política interna como
também na doutrina que assentou em nível de América Latina e do
mundo. Cerebral e com os pés na terra quando se tratava de abrir as
portas ao debate –inclusive com seus inimigos mais ferozes- e na
hora de formular ideias que permitissem aproximar posições que
estavam nas antípodas. Se trata de Hugo Chávez, de quem neste
segundo aniversário de sua passagem para eternidade tanta saudade
sentimos.
Forjador
das armas mais potentes para enfrentar os embates dos Bush ou dos
Obama, essas que não se carregam com balas e sim com o
desenvolvimento de uma consciência sólida e vital, recolhida da
história de luta de nossos povos. Só ele e ninguém mais que ele
teve a lucidez para dar-se conta de que tinha chegado a hora de rumar
o continente para a Segunda Independência que tanto nos foi negada e
que ainda continua sendo uma matéria pendente. Resgatador de nossos
próceres e fazedores de gestas, aos quais extraiu do mármore ou do
bronze e os converteu em atores de inusitada vigência. Bolívar, San
Martín, Sucre, Manuelita Sáenz, O’Higgins, Guacaipuro, Túpac
Amaru, Simón Rodríguez, Sandino, Evita Perón e, evidentemente, o
Che Guevara. Com eles na mochila, convocou a resgatar a Pátria
Grande das mãos transformadas em garras do Norte brutal. Denunciou o
enxofre derramado por Bush na tribuna da ONU em quem desferiu uma
soberana super patada naqueles dias gloriosos em que a ALCA foi
demolida por ele e um grupo de presidentes que o ampararam. Falamos
de Chávez. De quem outro, se não [ele]?
Pensando
nos meninos e nas meninas, nos velhos e nas velhas, nos condenados da
terra [este Comandante feminista e anti patriarcal introduziu a
linguagem de gênero na política, como ninguém antes o havia
feito], deu força às Missões e as converteu em imprescindíveis na
hora de desenvolver sua gestão. Descartou as burocracias
ministeriais e, como se fosse um coelho que o mago saca da cartola,
entregou a seu povo a possibilidade de alfabetizar-se plenamente, de
obter atenção médica gratuita com a Missão Milagre, de mãos
dadas com a Cuba solidária. Possibilitou que os pobres tivessem
acesso, pela primeira vez em décadas [ou em séculos], as
Universidades. As Missões se converteram em rio correntoso e em
bandeira de incorporação das grandes maiorias: casas para todos e
todas, o Mercal alimentar para romper com as cadeias dos
atravessadores [intermediários], a Missão Música, o Banco da
Mulher, a prática desportiva nos bairros, a Missão Ciência, ou a
Che Guevara [de formação socialista], a Missão Negra Hipólita, ou
a das Mães do Bairro. Os dias do ano não seriam suficientes para
enumerá-las, e em todas elas o Comandante imprimiu seu impulso
pessoal, sua sapiência e suas horas sem dormir para que se tornassem
realidade. A Chávez Frías, o neto de Maisanta, guerrilheiro
indomável, recordamos nestas apertadas e insuficientes linhas.
Filho
proclamado de Fidel, junto a ele plasmaram um furacão que percorreu
o continente derramando ideias, força, sabedoria e essa particular
forma de recriar a política sem especulações de nenhum tipo. Ao
som de semelhante duo nasceu a ALBA, dotando a América Latina
Caribenha de uma ferramenta eficaz para impregnar-se de
solidariedade, ombro a ombro. Porém, não só isso, senão que soube
mostrar ao mundo que com os gringos se lhes podia falar de igual para
igual, sem tibubeios nem submissões, como vinha ocorrendo até que
as nações afroindo-americanas recuperaram sua autoestima e se
lançaram a andar. Essa foi sua primeira façanha, porém logo foi
adiante, e ajudou [com uma paciência inestimável] a construir a
CELAC e a UNASUL, juntando a todos –de direita a esquerda- porém
sem a tutela norte-americana que lhes ditasse o roteiro. Chávez o
fez, e sua pegada foi percorrida por outros como ele, nascidos das
lutas em Bolívia, Nicarágua, Equador e tantos outros lugares.
Impecável
na hora de falar ao povo com a verdade. Maldizendo a tutela ianque,
ou sacudindo-se de cima contra os diplomatas sionistas, agressores da
Palestina ocupada. Com uma linguagem didática, foi explicando a sua
própria gente que havia que manter-se alerta contra os golpistas de
dentro e de fora. Expressou, relembrando sua própria experiência
naquele fatídico 2002, da matança de Puente Llaguno, seu sequestro
em La Orchila, o resgate por parte dos que baixaram dos cerros a
demonstrar-lhe seu amor e lealdade, o golpe petroleiro e sua própria
decisão de radicalizar-se ao máximo para não dar a outra bochecha
a seus inimigos. Em verdadeiras assembleias populares de quase dois
milhões de almas, soube dar as indicações precisas para que as
milícias começassem a ocupar um espaço necessário, porém também
louvou o papel meritório que no processo revolucionário vêm as
Forças Armadas jogando, as quais sob seu comando apostaram todas as
fichas nos bolivarianos humildes. Hugo Chávez foi o motor
fundamental de tais façanhas.
Agora,
que seu legado foi recolhido por milhões no mundo, e que seu
companheiro de tantas lutas, Nicolás Maduro, preside o país com
coragem e uma lealdade indiscutível, é hora de redobrarmos a
homenagem a quem, indubitavelmente, caiu combatendo, num patriotismo
de “vitória ou morte”. Que outra coisa foram esses dias de luta
a braço partido com esse câncer que lhe queimava o corpo, porém
não lhe fazia retroceder em sua força ideológica e discursiva?
Quem não recorda, sem que se lhe arrepie a pele, daquela tarde
caraquenha de 4 de outubro de 2012, quando, sob um verdadeiro
dilúvio, o Comandante subiu no palco e, ante uma multidão incrível,
gritou Viva a Revolução!, e convocou a fazer um esforço final para
obter o triunfo nas eleições próximas? O pé-d’água que caía
sobre sua enorme figura não conseguiu arredá-lo, tampouco pôde com
ele a brutalidade da dor que lhe provocava a maldita enfermidade que
lhe nos arrebatou meses depois. Arrancando forças de seu amor por
aquela maré vermelha que o escutava extasiada, agitando bandeiras e
cantando palavras de ordem, Chávez falou para a posteridade e
proclamou o triunfo contra a oligarquia e o Império. Esse era seu
estilo e sua prática. Pôr o corpo até as últimas consequências.
Neste
novo 5 de março, a figura do Comandante eterno Hugo Chávez e o
exemplo que nos soube dar reforçam a necessidade de redobrar a
solidariedade com a Venezuela Bolivariana, ameaçada pela guerra
econômica e em clima de golpe latente por parte da oposição
sórdida e da ingerência estadunidense. Hoje, Chávez convoca outra
vez a dar batalha; Maduro e o povo que não esquece nem perdoa a seus
inimigos de classe serão os executores de uma nova gesta
anti-imperialista, na qual o continente joga seu futuro.
Tradução:
Joaquim Lisboa Neto