Paz e divisão das Forças Armadas.
Por
Horacio Duque Giraldo
Se
torna estúpido desconhecer a enorme incidência das conversações
de paz entre o governo de Santos e as FARC em Havana sobre o
funcionamento do Estado e da sociedade colombiana. Amplos setores da
nação dão seu apoio crescente aos diálogos, como o confirmam
recentes pesquisas. No entanto, grupos retrógrados de natureza
fascista fazem até o impossível para sabotar a Mesa de concertação
cujo objetivo é a superação da cruenta guerra civil colombiana.
Sobre
essa fratura matriz se projetam outras divisões em diversos âmbitos
do país.
As
Forças Armadas não são alheias a dita circunstância e as tensões
e antagonismos em seu interior são um fato notório.
Há
militares guerreireistas de ultra direita, seguidores das fantasias
ultramontanas e assassinas de Uribe Vélez, inimigos radicais da paz
e adeptos da violência que os clãs oligárquicos do bloco de poder
promovem.
Há
outros, mais civilizados, respeitosos da constituição e da
legalidade, propensos ao diálogo e à solução política do
conflito nacional [Herrera Berbel, Padilla, Samudio, Bonet, García
Flores, entre outros].
Se
trata de um fato saudável, positivo e estimulante, pois é nos
aparelhos armados do governo onde elementos tão inescrupulosos e
corruptos como o senhor Uribe pescam em águas turbulentas com as
mais repugnantes especulações, diatribes e discursos promovidos
para induzir à conspiração, ao golpismo e ao bloqueio aos
processos de democratização do Estado. Desde que está funcionando
a Mesa de conversações em Havana, instalada em outubro de 2012, se
conheceram diferentes episódios orquestrados por generais e oficiais
para travar e prejudicar seu normal funcionamento. Torturas,
seguimentos, provocações, filtração de coordenadas, violação da
trégua das FARC, assalto a acampamentos guerrilheiros, assassinatos
de chefes das FARC, mentiras e demagogia barata de Pinzón o Min
defesa e vinculação descarada com as campanhas da ultra direita têm
sido condutas e ações permanentes e abundantes para bloquear a
estratégia de diálogos e consensos ao redor da agenda pactuada
entre as partes.
O
certo é que nas Forças Armadas da oligarquia colombiana, dada a
enorme influência que nelas têm as teorias anticomunistas e
fascistas da Segurança Nacional, a paz de Havana não é de bom
recibo. Muitos generais e outros oficiais vivem da guerra, fazem
fortunas e acumulam privilégios com planos bélicos de violência e
extermínio dos campesinos, indígenas, grupos populares e militantes
da Esquerda. São muitos os militares envolvidos nos “falsos
positivos”, em massacres, em desaparecimentos e violações dos
direitos humanos. Nada disso tem a ver com a defesa de uma fementida
democracia, nada disso tem a ver com o bem-estar da sociedade, nada
disso tem a ver com o progresso e a proteção da cidadania, nada
disso tem a ver com a defesa da soberania nacional como falsamente o
proclama o cavaleiro paramilitar do Ubérrimo e seus medíocres
senadores, parlamentários e parlamentárias.
Sendo
que nos quartéis, nas brigadas, nos comandos policiais, nos
aparelhos de inteligência, na cúpula militar, ferve um ambiente
contrário à paz para aniquilá-la, não me parece nada mau que se
dê a divisão nas Forças Armadas. É conveniente para o país que
venham à luz pública essas divisões. Para os revolucionários e
marxistas essa deve ser uma consequência normal da luta por
transformar a sociedade num sentido democrático e socialista. Pois,
desde sempre, no capitalismo há um impedimento militarista,
reacionário e corrupto que envolve milhares de membros do exército,
que existem e atuam em função dos grupos oligárquicos minoritários
que controlam o regime político e suas instituições. São seus
testas de ferro, são os guardiães de suas riquezas e poderes.
Evidentemente
que, a estas alturas do processo de paz, já há um núcleo de altos
oficiais civilistas, respeitosos da Constituição e do governo que
não engolem a manipulação e a grotesca diatribe uribista. São
militares profissionais, com um sentido adequado da política, que
entenderam que a Colômbia deve sair do campo obscuro da guerra e da
destruição violenta da sociedade. São patriotas com outra visão
do mundo, tolerantes e pluralistas, partidários das reformas
sociais, partidários de uma democracia ampliada e diversa como a que
se pactuou, sem esquecer as ressalvas, no documento consensuado sobre
a participação política e as garantias aos integrantes das FARC e
da resistência campesina revolucionária que se propõem ingressar
na vida política normal.
É
bom que a Colômbia inteira identifique os inimigos da paz nos
institutos armados e escondidos, como diz Otto Morales.
É
bom que todos saibamos que há soldados democratas comprometidos com
a paz e a superação da guerra e do conflito social armado.
Oxalá
que, ao abordar o tema do fim do conflito, a depuração das Forças
Armadas permita limpar as instituições militares destas forças
retrógradas associadas com a violência e a vulneração permanente
dos direitos humanos de milhões de colombianos.
Nota.
A podridão da Justiça Pretel é a mesma de todo o Estado liberal
oligárquico. Com essa cloaca fedorenta que transpira corrupção por
todos os poros, é impossível a paz. Oxalá, ao abordar os ajustes
institucionais e as reformas do Estado no ponto do fim do conflito
que se tem previsto nos diálogos de Havana, se coloquem as bases de
mudanças profundas que ratifique uma Assembleia Constituinte
soberana e popular, cuja convocatória e reunião é a cada dia mais
urgente. É que o colapso do Estado neoliberal aprofunda a crise
orgânica de todo o sistema político das elites encarnadas no senhor
Santos e seu contraditor de ocasião, o chefe da parapolítica.
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Equipe
ANNCOL - Brasil