As vitórias éticas
A revista Semana, fiel ao seu “patrão”, dedicou a maior parte da sua última edição à tentativa de convencer os seus leitores de que o exército colombiano estaria em vias de legitimação definitiva. Fez-se uma espuma midiática com os últimos três golpes militares contra as Farc que, segundo a publicação, são demolidores e definitivos. E conclui que são “os triunfos Éticos (com maiúsculas) os que lhe dão o triunfo ao Estado colombiano” (M.T. Ronderos 14.07.08)
Alberto Pinzón Sánchez
Mas analisemos qual é essa “Ética” do Estado e de seu comandante superior, o “patrão”, que a exerce como presidente da Colômbia e da qual ufana-se, a seu serviço, a revista em seu trabalho propagandístico e desinformativo:
1- A operação mista americo-colombiana para bombardear com foguetes inteligentes ultra-sofisticados o acampamento de Raúl Reyes em território equatoriano e matá-lo junto com seus companheiros de outros países enquanto dormiam, e depois matar prisioneiros feridos, como o tem denunciado oficialmente muitas vezes o presidente Rafael Correa, do Equador - independentemente do resultado da morte do veterano negociador das Farc e membro do Secretariado - foi realizada MENTINDO imoral e cinicamente ao Presidente Correa, violando a “ÉTICA nacional e internacional” do respeito à Soberania das nações que rege as relações Internacionais e mundiais e causando uma profunda ferida à dignidade do Povo irmão equatoriano.
A rejeição unânime de todos os países latino-americanos e caribenhos na OEA e depois em Santodomingo, que constituiu uma grande derrota diplomática para os governos dos Estados Unidos e da Colômbia, é uma realidade que não podem negar nem a revista Semana nem as falsas relações públicas do regime, por mais que tentem desinformar com seu palavreado sofista, assim como também não poderão mudar nem omitir as reclamações diplomáticas do presidente do Equador ao governo colombiano, que ainda seguem de pé.
2- A escabrosa morte de Iván Ríos, outro membro de Secretariado das Farc e da equipe de negociadores em Caguán, também foi alcançada mediante os mais repugnantes e desumanos meios dos que praticam diuturnamente o Terrorismo de Estado da forma mais massacrante em toda a longa história da Colômbia. Ordenar que um infiltrado do Exército oficial dentro das filas guerrilheiras dê um balaço na cabeça de uma pessoa indefesa, para depois esquartejá-lo e trazer um braço como prova de sua grande vitória para que pudesse cobrar os milhões de dólares da recompensa oficial oferecida não é nenhuma obra de “Ética” nem de Moral. Ao contrário, é a prova mais amoral e imoral que na Colômbia existe uma verdadeira “guerra sem regras” cujo único princípio é que “o fim justifica os meios” O padre predica (Maquiavel é um demônio!), mas ninguém o aplica.
E agora, no recente episódio da afortunada fuga de Ingrid Betancourt, dos três norte-americanos e dos demais retidos pela Farc, à medida que a opinião pública sabe mais detalhes vai percebendo como é visível a “marca” imoral e cínica que impregna a cúpula militarista que governa a Colômbia. Primeiro convencem ao mundo através de seu aparelho de propaganda, detalhe por detalhe, que foi um trabalho longo e dispendioso de Inteligência Militar resgatá-los “humanitariamente” de seus captores, para depois ter que sair a desmentir cada uma das versões, complicando as relações Internacionais agora já não com o Equador, mas, com a Suíça, e como um gato a tratar de tapar suas fezes, diz com a maior cara-de-pau: – “Sabe do que mais? Melhor deixar assim como está”.
Mas tudo já ficou evidente demais. Tratou-se de uma vulgar fuga comprando traições, amparada por 20 milhões de dólares. O próprio Uribe Vélez o já havia dito 20 dias antes, em 13 de junho, no fórum Insegurança, Dor Inevitável: “A um guerrilheiro que está oferecendo entregar Ingrid Betancourt e outros seqüestrados enviou-se uma carta, enviada pela diretora do DAS com a MINHA autorização, dizendo que se isso fosse feito ele não seria extraditado”. (Rebelión.org. Pascual Serrano 15.07.08).
Mas, além disso, hoje se confirmou que a tão alardeada operação de “resgate humanitário” se usaram maneira “imoral e pérfida” os símbolos universais da Cruz Vermelha Internacional, e se disfarçaram altos militares como jornalistas com sotaque venezuelano do canal Telesur; o que constitui um Delito de Guerra claramente estabelecido na Convenção de Genebra e em outras leis Humanitárias, ao ponto de que até a maior agência jornalística a dar ressonância mundial à “operação humanitária” do exército colombiano, a CNN, confirmou o engano. (O Espectador 16 Julho 2008 - 12:19 am. CNN confirma que foram usados símbolos do CICV na Operação Xeque).
Por conseguinte, Senhores da revista Semana e demais do aparelho de propaganda do regime: são esses “os triunfos Éticos que lhe dão o triunfo ao Estado democrático” (sic)? Ou será que a profunda decomposição moral e ilegitimidade (suborno, narcopolítica, corrupção oficial etc) em que se debatem o regime e a cúpula militarista do atual Governo da Colômbia não lhes permitem sair do atoleiro crítico em que se encontram, ao mesmo tempo em que também não lhes deixam ganhar a guerra imposta pela administração Bush tão rapidamente como desejam, enchendo-se a cada dia de mais ilegitimidade, violando todos os princípios ético-morais civilizados e todas as leis Humanitárias universais?