Carta para o Comandante Daniel Ortega, Presidente da Nicarágua Sandinista
26 de Junho de 2008
Comandante
DANIEL ORTEGA
Presidente de Nicarágua
Manágua
“Eu sou filho de Bolívar”
Augusto Cesar Sandino
Desde estas montanhas, onde lutamos pela Nova Colômbia, a Pátria Grande e o Socialismo, nossa saudação fraternal e o abraço de milhares de guerrilheiros das FARC, transfigurado no abraço do sempiterno de Bolívar e Sandino. Esse sentimento extende-se à militância revolucionária da Frente Sandinista de Libertação Nacional e ao povo heróico do comandante Carlos Fonseca Amador.
Obrigado por sua firme solidariedade.
Nesses tempos em que se pretende relegar a planos intranscendentes este princípio distintivo dos revolucionários, temos sentido com força sua aproximação e voz acolhedora. Obrigado Comandante Daniel por sua companhia em momentos tão difíceis para nossa organização como os assassinatos de Raúl e Iván Rios, e a morte de nosso Comandante em Chefe, Manuel Marulanda Vélez, ante quem juramos vencer, e venceremos.
Muito valente sua decisão de conceder asilo político às guerrilheiras Susana e Diana, sobreviventes do ataque furtivo de Bogotá e Washington ao acampamento transitório de Raúl, quando a hipócrita política anti-terrorista do império tenta chantagear o decoro de governos independentes e satanizar as lutas dos povos.
Nossa insurreição está tutelada pelo direito universal e plenamente justificado como resposta legítima à violência do Estado. O Libertador Simon Bolívar nos mostrou que “a insurreição se anuncia com o espírito de paz, se resiste contra o depotismo porque este destrói a paz, e não usa armas senão para obrigar a seus inimigos a paz”. E também nos disse que “ainda que sejam alarmantes as conseqüências da resistência ao poder, não é menos certo que existe na natureza do homem social um direito inalienável que legitima a insurreição”.
Bem sabem nossos irmãos sandinistas que enfrentaram a barbárie de Somoza, que os revolucionários não escolhem a forma de luta, mas sim que esta é imposta pelo inimigo. O Estado colombiano é filho de Santander, o falso herói nacional que confabulou com a Secretaria de Estado dos Estados Unidos e matou Bolívar, destruindo seu projeto de formação nesse hemisfério de uma grande nação de repúblicas. Descende de Santander o atual regume das oligarquias que massacrou mais de 1500 trabalhadores bananeiros em 1928, em defesa dos interesses econômicos da United Fruit Company. Esta oligarquia liberal conservadora desatou, na década de 50, a violência partidária que assolou campos e cidades, produzindo a morte de 300 mil colombianos; aniquilou toda uma geração de revolucionários, varrendo à tiros a União Patriótica, movimento político alternativo que teve cerca de 5 mil de seus dirigentes e militantes assassinados nos anos 80; disparou sistematicamente contra dirigentes sindicais e populares, e adotou o paramilitarismo como estratégia contra-insurgente do Estado, executando espantosos massacres de cidadãos e provocando, mediante o terror, os deslocamentos forçados de mais de 4 milhões de colombianos.
As FARC, que surgiram do ataque militar à Marquetalia em 1964, são uma resposta popular legítima a todas as violências do Estado. Enquanto se mantenham as causas políticas, econômicas e sociais que a geraram, a luta armada nunca perderá vigência. Nos alçamos em armas pela paz com justiça social, e triunfaremos. Haverá um novo poder, Nova Colômbia, Pátria Grande e Socialismo.
Sempre entendemos a concretização do acordo humanitário como um passo inicial rumo à geração de um ambiente propício para falar de paz, mas ficou demonstrado diversas vezes que Uribe não está programado pelos gringos nem para a troca, nem para a paz. Apenas um governo, verdadeiramente democrático, surgido de um Grande Acordo Nacional, poderia retomar o caminho da busca por uma solução política ao conflito social e armado que a Colômbia vive.
Sobre estes assuntos da guerra e da paz, desejaríamos falar pessoalmente com você, ou seu delegado.
Com sentimentos de consideração e apreço, compatriotas,
Secretariado do Estado-Maior Central das FARC-EP