"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sábado, 12 de julho de 2008

Ingrid Betancourt: “ingratidão” e interesses de Estado?

DOMINGO: 06 de julho de 2008.

Só se necessitou que a senhora Ingrid tivesse o microfone ante ela para que começasse a estender afagos ao presidente colombiano, ao ministro de Defesa e às Forças Armadas.

Hernando Calvo Ospina
Rebelión

Só se necessitou que a senhora Ingrid Betancourt tivesse o microfone ante ela para que começasse a estender a estender afagos ao presidente colombiano, ao ministro de Defesa e às Forças Armadas. Isso foi a poucos minutos de haver baixado do avião e ser apresentada ante os jornalistas, junto aos onze policiais e militares colombianos, assim como os três militares estadunidenses mercenários (leia-se bem: militares mercenários estadunidenses). Desde esse momento não se deteve em expressar lindas palavras para estes que, na história colombiana, mais encheram de sangue campos e ruas da Colômbia.

Como parece que se lhe esqueceram alguns “detalhezinhos”, é bom recordar-se-lhe com outros “detalhezinhos”.

“Em minha vida só pude odiar a uma pessoa: ao presidente Uribe Vélez”.
“Uribe só tem querido humilhar-me, aproveitando-se de minha dor como mãe”.
“Se minha filha ainda não está livre é por culpa de Uribe”.
“Me opus a que os filhos de Ingrid vivam na Colômbia por temor a que Uribe, seu exército ou seus paramilitares lhes façam mal”.
“Nunca falei mal das FARC porque entendo sua luta”.

Estas são algumas das tantas frases que me expressou a mãe de Ingrid Betancourt, Yolanda Pulecio, em Caracas, em abril último. Não posso negar que depois dos vários diálogos que sustentamos cheguei a admirá-la. Como igual me sucedeu em Paris com Astrid, sua outra filha. Ambas, ainda que burguesas, fizeram uma análise sobre a situação política colombiana mais objetiva que as realizadas por certos dirigentes que se dizem de esquerda.

E que conste: a maioria das coisas que me expressaram não só foram para minha exclusividade. Disseram-nas ante os meios de informação mais importantes do planeta. Em ocasiões, não se pouparam palavras para assinalar o caráter narco-paramilitar do Estado colombiano. “Talvez por isso – me confiou uma fonte do alto governo francês em começos deste ano – já não se as entrevista como antes. São muito anti-Uribe. Já parecem pró-FARC”.

Certo tem sido. A atenção dos meios de informação na França passou a enfocar-se quase que exclusivamente nos dois muito jovens filhos de Ingrid, para nada politizados, distanciados da realidade colombiana, influenciados por seu pai, um diplomata francês sarkozista. O mesmo que se convertera, para surpresa de muitos, quase em porta-voz do presidente Uribe durante sua última visita a Paris neste ano.

A 12 de abril, em Caracas, Yolanda disse, textualmente, em presença do presidente Chávez, quase uma centena de pessoas que assistíamos ao Encontro de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade, e muitos meios de imprensa:

“Senhor presidente, para mim, pois, é uma grande honra que você me ouça aqui [...] e aproveitar esta oportunidade para agradecer-lhe desde o fundo de minha alma tudo o que você tem feito por todos os seqüestrados e o que tem feito por minha filha.
“Então, eu já não sei que mais fazer [...], eu me sinto, em primeiro lugar, confiada em tudo o que você faz, e me sinto muito mais segura aqui que na Colômbia.
“Como você sabe, tenho tido que sofrer todas as mentiras, todos os enganos nestes seis anos em que nos enganaram permanentemente, tive que sofrer naturalmente o fato de que não há uma imprensa verdadeira. Esta manhã, quando eu ouvia que temos que recobrar a verdade da mídia, que se diga a verdade na imprensa, e que temos que ser vigilantes todos, isso me chegou à alma. Porque é que na Colômbia eu não leio senão mentiras, eu leio as páginas e digo: “Isto não é certo, isto não certo, isto não é certo”.
“Inclusive as pesquisas que fazem, Presidente, e o povo está enganado. Porém, bem, eu não quero me meter em coisas políticas [...], porém, sim, quero, Presidente, de novo agradecer-lhe infinitamente o que você tem feito e o que possa fazer por minha filha e por todos os que estão lá seqüestrados.
“A todos vocês lhes peço sua solidariedade, isto não o desejo a ninguém, tenho vivido um calvário, porém tem vivido pior minha filha esse calvário, entramos para sete anos. Lhes agradeço muito o que vocês também possam ajudar-nos, apoiando-nos neste momento, que para mim é realmente, Presidente, você sabe, muito duro. Muito obrigada”.

Posso assegurar-lhes que se me engasgou a garganta vendo-a e escutando-a. Não fui o único. Observei que algumas e alguns dos presentes se enxugaram os olhos.
Dentro do mesmo evento, o presidente Chávez contou que, quando o presidente Uribe lhe proibiu seguir mediando na liberação dos reféns pois estava logrando tudo a passos agigantados:

“[...] depois desse duro golpe ao acordo, ao intercâmbio, se retomou por outra via. E, apesar de que já era sem a aprovação do governo da Colômbia, começou a funcionar, logrando-se as primeiras liberações: Clara, Consuelo, e o aparecimento do menino Emmanuel [...]
“Logo se deu uma segunda liberação. E estávamos trabalhando a terceira. Para essa terceira, e isto só o digo agora, porque já ocorreu o que ocorreu [...], um pouco para mover-nos taticamente, ou estrategicamente, lhe pedi a Rafael Correa que a fôssemos orientando por Equador para não seguir o mesmo caminho, pois andavam nos caçando. Sabiam? Os gringos estão na Colômbia e têm qualquer quantidade de recursos tecnológicos que alguém nem se imagina, aviões inteligentes, invisíveis, bombas inteligentes etc [...].
“Estávamos trabalhando [com a direção das FARC] o tema de liberação do terceiro grupo. E nesse terceiro grupo havíamos pedido que viesse Ingrid Betancourt [...]
“E essa foi a razão principal para que Raúl Reyes se movesse para o Equador, assim como se moveu Iván Márquez para cá. E, inclusive, como se disse também, o governo francês estava a par dessa intenção e tinha uma comissão orientada pelo Equador para essa região colombiana.
“Lamentavelmente nos caçaram. Caçaram alguma chamada telefônica. Por aí diz alguém que foi por uma chamada que lhe fiz a Raúl Reyes. Mentiras, porém, cada qual é livre de inventar qualquer coisa. [*] E já sabemos o que ocorreu [o assassinato de Reyes].
“Era um gesto importante das FARC. Eles haviam chegado a um convênio conosco: liberar grupos sem condições [...]”

Devido a problemas intestinais de Ingrid Betancourt, que sempre sofreu, segundo me contou sua irmã Astrid, e à alimentação pouco balanceada, como as que ingerem os demais guerrilheiros, ela começou a perder peso. A isso se lhe somaram problemas hepáticos, também regulares nela, segundo Astrid. Ingrid emagreceu muito mais do que poderia estar devido às condições próprias de sobreviver entre a selva e como refém. É nesses momentos que as FARC enviam um vídeo e cartas para demonstrar que estava viva. Ingrid necessitava um complemento vitamínico. A resposta do governo colombiano, ante o pedido de sua mãe para que se permitisse que, por algum meio, se lhe pudesse fazer chegar, foi redobrar a militarização e os bombardeios na zona onde se encontrava.

Os únicos que a escutavam e se ofereceram ao instante para fazer-lhe chegar o complemento Ensured ®, “como fosse”, seriam o comandante guerrilheiro capturado Martín Caballero, e o presidente venezuelano Hugo Rafael Chávez Frías.
Yolanda me contou. Nunca contei a ninguém. E se hoje o faço é porque sua filha está livre.

Nem [completados] três meses depois de fazer-lhe chegar a vitamina, Ingrid ficou livre e demonstrando uma vitalidade física e clareza mental que milhões de mulheres e crianças pobres na Colômbia não têm devido às políticas ultraliberais impostas pelo Estado que hoje ela aplaude.
Esses milhões que não têm quem lhes envie nenhum medicamento.

E as quase únicas palavras que se lhe ocorreram a Ingrid Betancourt para o presidente Chávez, assim como para o presidente equatoriano Rafael Correa Delgado, quem também meteu as mãos no fogo por sua liberação e, como Chávez, quase sai queimado, foi que não se metessem com a democracia colombiana!

A senhora Ingrid apenas mencionou a senadora Piedad Córdoba. A mesma, que está a ponto de ir para o cárcere – se é que antes não a matam pelos contatos que teve com as FARC para insistir-lhes que deixassem em liberdade a... Ingrid Betancourt!

Oxalá a senhora Ingrid aprenda de Yolanda e Astrid. Não creio, espero não equivocar-me, que agora elas mudem de discurso e digam que tudo o que disseram em tantos meios de informação e tribunas foi por não ter nada mais que dizer.


Hernando Calvo Ospina. Jornalista e escritor colombiano residente na França. Nomeado ao Prêmio Lorenzo Natali de Direitos Humanos, 2005, da Comissão Européia. Colaborador no Le Monde Diplomatique. Autor, entre outros: “Colombia, laboratorio de embrujos. Democracia y terrorismo de Estado”. Akal-Foca, Madrid 2008.

(*) Segundo o mensário francês Le Monde Diplomatique, edição julho 2008, quatro dias antes do assassinato de Raúl Reyes e demais pessoas, o Alto Comissariado para a Paz de Colômbia, Luis Carlos Restrepo, insistia a uma comissão francesa para que desde Panamá se comunicasse permanentemente com Reyes por telefone satelital.

Isto coincide com a informação obtida, extraoficialmente, de fontes governamentais francesas pelo autor da presente nota, Calvo Ospina, as quais lhe asseguraram que foi assim como se logrou localizar com exatidão o acampamento de Reyes e bombardeá-lo.

http://www.rebelion.org/noticia.php?id=69876