Assim fomos espionados pela inteligência gringa, segundo Snowden
Fonte: El Tiempo
Os vazamentos
do ex-agente da NSA indicam que a Colômbia foi objetivo tão estratégico quanto
o Iraque
Ainda não se sabe qual tipo de dados obtidos pelos EUA, através dos seus
sistemas de espionagem, na Colômbia. Nem o volume de informação compilada ou se
atuou com o consentimento das autoridades. Mas se algo ficou claro com os
documentos revelados nesta semana pelo jornal brasileiro O Globo – de um pacote
do qual ainda se desconhece a grossura – é que, nos últimos cinco anos, a
Agência Nacional de Inteligência (NSA) vigiou-nos de perto.
O tsunami provocado pelo ex-terceirizado da NSA, Edward Snowden, em junho,
quando contou ao jornal britânico The Guardian que essa agência bisbilhotava
registros telefônicos e de Internet de milhões de usuários e organizações
dentro e fora dos EUA, atingiu de cheio à Colômbia. (Leia também: Colunista do
The Guardian diz que Snowden pode provocar mais dano ainda).
O blogueiro e colunista Gleen Greenwald, o primeiro a publicar os
vazamentos de Snowden e a quem o ex-agente teria entregado um pendrive com,
aproximadamente, 5.000 documentos confidenciais, assegurou ao O Globo que a
Colômbia é o país de maior interesse para os EUA na América Latina, depois do
Brasil e México.
Segundo Greenwald, esta espionagem sistemática ocorria utilizando pelo
menos três softwares de computador. O primeiro deles é o Prism, um software de inteligência
que permite acessar correios eletrônicos, conversas on-line e chamadas de voz
de clientes de empresas tais como Facebook, Google e Skype (com a ajuda da
Microsoft, segundo denuncia do The Guardian)
Através do Prism, os EUA teriam realizado um intenso seguimento na
Colômbia, especialmente entre os dias 2 a 8 de fevereiro. Naqueles dias,
concretamente no dia primeiro de fevereiro, o governo informou a morte de ‘Jacobo
Arango’, guerrilheiro das FARC e considerado mão direita de ‘Iván Márquez’, por
um bombardeio do Exército em Córdoba. E nessa mesma semana foram divulgados
detalhes do rascunho do novo Estatuto Nacional de Drogas que o governo tinha
previsto apresentar ao Congresso e com a que poderia dar um giro na luta contra
o narcotráfico. Entretanto, o projeto foi engavetado.
Outro programa espião utilizado pelos EUA teria sido o Boundless
Informant (Informante sem limites), que permitia monitorar massivamente
chamadas telefônicas.
De acordo com um mapa com escala de cores sobre a atividade deste
software no mundo, as interceptações na Colômbia estariam em um grau parecido
com o do Iraque.
O terceiro programa espião, X-Keyscore, servia para detectar a presença
de estrangeiros em um país através do idioma utilizado nos correios
eletrônicos. Segundo os dados obtidos pelo O Globo, este software teria sido
utilizado para espionar a Colômbia, Equador e Venezuela durante a crise diplomática
desatada pelo bombardeio aéreo ao acampamento de ‘Raúl Reyes’ em território equatoriano,
em 2008.
Entretanto, até agora, não há evidências de que as comunicações
interceptadas fossem ouvidas ou lidas, nem que tenham apontado pessoas específicas.
O que sim se acredita é que os EUA fizeram coleta em massa de informação para
acessar os chamados ‘metadados’, quer dizer, não vasculharam o conteúdo das
conversas e das mensagens interceptadas, mas características como, por exemplo,
quando se produziram essas comunicações, quem participou, onde estavam os
interlocutores, quanto durou o contato, etc. Os especialistas consideram,
entretanto, que os ‘metadados’ são peças-chave na hora de apontar as antenas
para objetivos específicos, quando as autoridades consideram justificado.
As ‘sucursais’
da NSA
O vazamento assinala também que a NSA, em colaboração com a CIA, manteve
escritórios em cidades como Brasília, Caracas, Cidade do México e Bogotá, e que
a informação destas ‘sucursais’ era compilada em uma base em Porto Rico, ainda
que nenhum dos países em questão tenha confirmado a existência de tais bases.
Greenwald foi além e numa entrevista a Caracol Rádio, na quarta feira
passada, afirmou que numa conversa com Snowden, o ex-agente confirmou que a
Colômbia era o país de maior interesse para os EUA na América Latina depois de
Brasil e que há milhares de gravações e
correios eletrônicos interceptados “com o conhecimento do próprio governo
colombiano”.
Mesmo que o governo não tenha se referido particularmente a estas declarações
e que, através de um curto comunicado, tenha solicitado explicações para o que considera
“atos de espionagem violadores do direito à intimidade das pessoas e das convenções
internacionais em matéria de telecomunicações”, não é segredo que há muitos
anos as agências dos EUA colaboram com órgãos de investigação na Colômbia.
De tato, El Tiempo estabeleceu que, mesmo a NSA não tendo uma sede
oficial na Colômbia, conta com um escritório aliado chamado ORA, que dá
assessoria às diretorias de inteligência nas investigações contra o terrorismo
e que, eventualmente, monitora atividades de grupos islâmicos na América do
Sul, através de interceptações realizadas utilizando a plataforma Esperança que
a Procuradoria possui nas suas instalações em Bogotá. Se estas atividades foram
além, é apenas uma das respostas que se esperam dos EUA nos próximos dias.
Silêncio: A embaixada ainda não dá explicações
As últimas
semanas não tem sido fáceis para o embaixador dos EUA na Colômbia, Michael
McKinley, que deixará o cargo nos próximos dias. Teve que enfrentar a trágica
morte do agente do DEA assassinado em 20 de junho em Bogotá e, na última
semana, a divulgação do escândalo pelas revelações do caso Snowden sobre a Colômbia.
Consultado sobre o assunto por El Tiempo, o diplomata insistiu no que tem
repetido durante toda a semana para os meios de comunicação: “Através dos
canais diplomáticos, os EUA darão ao governo colombiano as explicações
correspondentes”. McKinley insistiu que os EUA, “assim como outros países, coleta
informações sobre temas de segurança” e destacou também que a colaboração em
assuntos de inteligência, entre a Colômbia e os EUA, tem sido muito útil para a
luta contra o narcotráfico e o terrorismo.