Paralisações e greves debilitam o regime santista
Fonte: Rebelión
A Colômbia vive uma das conjunturas mais álgidas em matéria de
mobilização social de amplos grupos da população com paralisações, greves,
bloqueios de estradas e manifestações públicas.
A ação social popular engloba os camponeses da região do Catatumbo, os
mineiros artesanais, os pequenos cafeicultores, o setor da saúde e os operários
da mineração de carvão da Drumond, que declararam a paralisação das atividades.
No mesmo sentido, há expressões de inconformismo contra elementos
recalcitantes do sistema político hegemônico, como o Procurador Alejandro
Ordoñez, que bloqueia a vigência de direitos para segmentos sociais excluídos por
normas vetustas como as que afetam casais do mesmo sexo e mulheres a favor do
aborto. Da mesma forma, o programa social do governo da cidade de Bogotá por
uma cidade mais humana, é bloqueado pelas máfias criminosas de ultra direita,
ocasionando um movimento cidadão de inconformismo que se estende por toda a
cidade.
Existe indignação pelos escândalos de corrupção nas altas esferas
governamentais, pois proeminentes figuras oficiais, como o embaixador em
Washington, aparecem envolvidas em vergonhosas manobras para apropriação de
extensos territórios com jogadas “jurídicas” que transferem títulos para
reconhecidas multinacionais da alimentação.
Ainda que ocorram conversações de paz em Havana, a violência não para
porque o acordo que se projeta é uma “pax oligarchica neoliberal” que deixa o
sistema econômico, social e político intacto, tal como funciona desde a herança
colonial que temporalmente interrompeu a campanha pela independência que se
iniciou em 1810.
Muitos se perguntam o que está acontecendo com o governo e com o atual
Presidente.
As questões que surgem são varias. Qual é o comportamento das
autoridades estatais nas atuais circunstâncias? Será derrubada a administração
diante da força das revoltas? O que acontecerá com o processo em Havana? A reeleição
de Santos para outro mandato presidencial é certeza? A coalizão governamental
se debilitou? Surgirão outros candidatos do campo governista? A ultra direita
uribista paramilitar vai recuperar espaço político?
Santos e sua equipe de governo tem demonstrado uma descomunal incompetência
para atender adequadamente as demandas populares. Desde o chefe da Casa de
Nariño para baixo, todos os burocratas (uns mais e outros menos) tem sido um
desastre na negociação com as lideranças das greves. Nenhum mostrou a mais
elementar das competências para dar um tratamento político aos camponeses, aos
trabalhadores, aos mineiros e às lideranças da oposição que tem expressado com
firmeza suas denuncias.
O que tem prevalecido é a violência como função central do governo,
executada por estruturas sanguinárias como o Esquadrão Móvel Antidistúrbios da
polícia/ ESMAD, que assassina, atropela, tortura e aprisiona cidadãos humildes,
camponeses desvalidos, que diante do desespero pela situação social saem às
ruas para exigir soluções do Estado que reage com balas, cadeia e tortura.
Violência que tem o acompanhamento óbvio do linchamento e manipulação midiática
dos grades meios de comunicação, concentrados em mentir e fazer guerra psicológica
contra as manifestações sociais. São uma vergonha. O ocorrido com Cesar Jerez é
um ato de maldade miserável.
Mesmo que Santos tenha dito através dos meios de comunicação favoráveis
ao governo que sua resposta é diferente pois o seu temperamento é o de um
democrata, na prática o que tem se dado é a velha política de violência de um
regime oligárquico que mantém sua essência autoritária.
Há uma sensação de tremendo vazio de poder. A sociedade sente que o Estado
e seu governo ficaram no ar, que as instituições do regime não funcionam e que
as mesmas são os instrumentos de diversas facções nacionais e territoriais que
o capturaram para o beneficio particular e dinástico.
Há uma derrubada e paralisia no conjunto das instituições formais que
supostamente representam o senhor Santos. O seu debilitamento é muito intenso e
qualquer coisa pode acontecer.
Disso, os altos funcionários, não ficam sabendo, pois seu autismo é crônico.
Vivem em outra realidade. A das suas fantasias e elucubrações.
É por essa razão que crescem as preocupações pelo que possa acontecer
com as conversações de paz entre o governo e as Farc. Se bem que há avanços
importantes, a guerra mantém o seu rigor com as vitimas correspondentes no
campo de batalha. Isso é o real do conflito, sem querer dizer que o discurso
acumulado nas rodadas de diálogo e fóruns públicos seja irrelevante.
A reeleição de Santos, por mais quatro anos, não é uma opção viável
diante do seu desgaste geral. Santos não consegue ser levantado nem pelo poder
do orçamento público, nem a imposição ianque que prepara outras formulas para a
continuidade do domínio burguês, com outros nomes e marcas eleitorais. Santos é
um cadáver do qual as pessoas devem se desprender já.
A coalizão governamental é apenas um nome e as tendências centrifugas
estão em curso com muita velocidade. Tanto que um dos principais sócios, Vargas
Lleras, já decolou para formalizar sua oferta presidencial, trincando em três partes
o bloco dominante da elite colombiana. Vargas Lleras já abandonou o barco dos náufragos
governistas, em ato de oportunismo político que custará caro, pois seu cálculo
esquece o que foi o desastre da sua passada campanha nacional na que obteve
escassos 150 mil votos. É um pedante e um boneco de papel sem maiores opções. Assim
será visto pelas imobiliárias que o financiam de mãos cheias.
É um momento de tremenda desordem e confusão para a ultra burguesia que
por muitos anos tem exercido o controle do Estado e do sistema de poder.
É claro que a facção mais recalcitante, a ultra direita fascista de
Uribe Vélez, enche o peito e aposta pelo seu triunfo. Movimenta peões e espalha
a ofensiva com todo o poder acumulado. Entretanto, não é uma tarefa fácil, dada
a sua tremenda responsabilidade nos desatinos e abusos durante o longo período
de domínio paramilitar de oito anos da presidência do senhor Uribe como cabeça
dos grupos assassinos das autodefesas e narcotraficantes. Uribe tem centenas de
litígios penais em andamento em diferentes níveis judiciais, nacionais e
estrangeiros.
Assim sendo, ainda não se configurou uma alternativa política
consistente desde a esquerda e o campo progressista. O que não quer dizer que
não existam enormes potenciais.
As reformas
substanciais de toda a sociedade colombiana e das mudanças revolucionárias são
uma prioridade e uma necessidade que demandam maior lucidez dentre as
lideranças e da multidão que pressiona o salto excepcional na história da
Colômbia.