Comunicado das FARC-EP
La
Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 28 de julho de 2013
O
otimismo dos colombianos na possibilidade real de conquistar a
reconciliação nacional, sobre bases de justiça social, não pode
ser atropelado pelos que, enquanto lançam ao mundo discursos de paz,
persistem em manter e aprofundar as causas da confrontação, uma das
quais é, sem dúvida, o problema da posse e uso da terra.
De
nada serviria falar em Havana da limitação da propriedade da terra,
do freio a sua estrangeirização, de sua formalização a favor dos
pobres e da soberania nacional, se o governo converte o acordado em
palavras vazias que são levadas pelo vento.
A
inadiável reforma agrária ligada ao anseio de paz não pode ficar
reduzida a uma zombaria de poderosos grupos econômicos, banqueiros e
proprietários de empórios açucareiros que posam de “novos
campinos”, com “repentinos” desejos de terra, que avançam
pondo adiante a advogados trapaceiros e mafiosos que operam sob o
manto da mais descarada impunidade e proteção governamental.
Como
se deduz do tratamento infame que se está dando aos justos protestos
dos moradores do Catatumbo, ao governo não lhe interessa defender o
campesino pobre, mas sim os sacrossantos direitos do capital. Até se
inventou um novo projeto de lei, como suposta solução salomônica,
para que os foragidos mascarados que ostentam um grande músculo
financeiro e têm atuado com comprovado engenho delituoso em suas
empreitadas de monopolização de terras e Unidades Agrícolas
Familiares não venham a perder seu investimento.
Acaso
vamos permitir que a sentença da Corte Constitucional que derrubou
os artigos 60, 61 e 62 do Plano Nacional de Desenvolvimento, que
pretendia abrir passagem à monopolização das terras por parte de
grandes empresários, seja escamoteada pelo escritório de advogados
da firma Brigard e Urrutia, que trabalha para Riopaila Castilla S.
A., Cargill, Fazenda e Sarmiento Ângulo?
Vamos
permitir que, por atalhos e com subterfúgios, empresários apátridas
e transnacionais representados em Poligrow, Cementos Argos, Mónica
Semillas ou Inversiones Manuelita, montados na chamada “locomotiva
da prosperidade” violem todas as proibições que existem para
acumular propriedades incultiváveis e atropelem impunemente as
poucas normas decentes da legislação colombiana, fazendo-se a
propriedades situadas em zonas onde se produziram massacres e
deslocamentos forçados, como se não passasse nada?
O
país necessita saber quem são esses “campesinos” suspeitos que
venderam suas UAFs de 1.100 hectares às transnacionais, a bilhões
de pesos cada uma. Urge conhecer a verdade, porque a maioria dessas
terras foi despojada violentamente pelo paramilitarismo de Estado.
O
governo, em vez de inventar truques para mercadejar a Altiplanura e
legalizar as monopolizações produzidas antes de 1994, ou as
posteriores, em vez de reeditar sua tentativa de tornar as UAFs com a
mentira da “flexibilização necessária” e o argumento de que se
exigem os “favores” do investimento estrangeiro ou do músculo
financeiro de “inocentes empresários” que não sabiam que
violavam a lei, deveria tirar a máscara destes negociantes, de seus
testas de ferro e de seus tabeliães e juízes de bolso, para
demonstrar com fatos que não está disposto a permitir que se
acrescente a injustiça que afoga o campo e a ilegalidade que
capturou o Estado.
O
governo está obrigado a defender a diafanidade de seu compromisso
com a paz, propiciando que se devolvam urgentemente as terras
monopolizadas, como os subsídios e isenções tributárias que
fluíram também para estes fraudadores. A justiça exemplarizante
contra estes sujeitos e a reivindicação dos direitos do povo do
campo, que clama para que se formalize a terra e suas zonas de
reserva, fazem parte fundamental da construção de paz.
Recordemos
que o acordo parcial sobre terras alcançado em Havana ordena
textualmente que: “O governo nacional em combinação com as
comunidades, e tendo em conta o exposto nos princípios do presente
acordo, promoverá o acesso a terra e a planificação de seu uso nas
Zonas de Reserva Campesina, tornando efetivo o apoio aos planos de
desenvolvimento das zonas constituídas e das que se constituam em
resposta as iniciativas das comunidades e organizações agrárias
que estas considerem representativas, de maneira que cumpram com o
propósito de promover a economia campesina... Se promoverá a
participação ativa das comunidades que habitam nas Zonas de Reserva
Campesina na execução de seus planos de desenvolvimento”.
E
mais adiante expõe que: “A constituição das zonas estará
acompanhada de processos de formalização da propriedade... Com o
propósito de regularizar e proteger os direitos da pequena e média
propriedade rural, isto é, garantir os direitos dos legítimos donos
e possuidores da terra..., e como garantia contra o despojo de
qualquer tipo, o governo nacional formalizará progressivamente, com
sujeição ao ordenamento constitucional e legal, todas as
propriedades que ocupam ou possuem os campesinos na Colômbia”.
É
hora de começar a cumprir e deixar de reprimir. É estranho que este
assunto seja manejado pelo Ministério de Defesa – que só vê com
o olho da consolidação militar – e não o Ministério de
Agricultura. É hora de abandonar o argumento rebuscado de que não
se dará passagem à Zona de Reserva Campesina do Catatumbo, por
[causa de] sua localização geográfica fronteiriça com a República
Bolivariana de Venezuela.
Delegação
de paz das FARC-EP