"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 23 de julho de 2013

Inflitrados


Por Antonio Caballero
Fonte: Revista Semana
Toda reivindicação, todo protesto, todo clamor cidadão é assinalado – macartizado, se dizia em outros tempos – como manifestação maligna das FARC.
As FARC estão infiltradas na paralisação do Catatumbo, certamente. Como não iam estar, se lá levam 40 anos? É como se se denunciasse com alegria escandalosa que Juan Manuel Santos está infiltrado em Anapoima, quando o que passa é que lá tem sua fazenda. Pense o leitor: se não estivessem as FARC no Catatumbo, por que diabos se lhe haveria ocorrido a um de seus chefes pôr-se o pseudônimo de Pablo Catatumbo?
Bem: também há outro que se pôs [o pseudônimo de] Andrés París. Porém é que, como revelou urbi et orbi o ministro de Defesa, as FARC também estão infiltradas na Europa. E na paralisação mineira recém começada, e nas que se anunciam para meados de agosto. E nos protestos dos universitários, e na paralisação judicial, e no dos cafeicultores, e no dos cacauicultores, e no dos plantadores de batata. Em tudo, em todas as partes.
O ex-presidente Uribe acaba de denunciar, sem tremor na voz, o Parlamento Europeu, que o critica: está infiltrado pelos terroristas das FARC. Toda reivindicação, todo protesto, todo clamor cidadão é assinalado – macartizado, se dizia em outros tempos – como manifestação maligna das FARC. Para desacreditá-las, para desqualificá-las, e com a esperança de desativá-las. Que o povo não peça: que agradeça!
Nisso consiste a “prosperidade para todos” de Santos, como a “segurança democrática” de Uribe, como a já não recordo que coisa de Pastrana nem qual outra de Samper, e assim de para atrás, até os benefícios da Coroa espanhola, que nos deu a religião e a língua. Ou assim me ensinaram no colégio.
Assim que: sem dúvida, as FARC estão infiltradas nos protestos do Catatumbo, como assinalou lucidamente – desde a Suíça, onde se encontrava infiltrado no Comitê Olímpico Internacional – o presidente Santos. Porém, o que importa é saber por que estão lá.
Nessa região de colonização da fronteira agrícola, que agora a imprensa e até os funcionários chamam de “esquecida pelo Estado”, quando a coisa não é exatamente assim: há que dizer, mais precisamente, que tem sido saqueada pelo Estado – pelos agentes do Estado, dos prefeitos para cima -, ou entregue pelo Estado ao saqueio das grandes empresas petroleiras, mineradoras, madeireiras, palmeiras, cocaleiras, e ao poder militar das guerrilhas ou das autodefesas.
Uma região sem fazer e já desfeita, sem saúde, sem escolas, sem estradas. Não é por prazer masoquista que foram viver lá seus atuais moradores [os antigos, os índios motilones ou Bari, foram quase exterminados]. Chegaram lá fugindo, deslocados e perseguidos pelas violências anteriores, a mal viver de precárias colheitas de hortas comunitárias, da ilusão petroleira e, ultimamente, da coca: único cultivo congruente rentável em nossa cada vez mais remota fronteira agrícola.
E então, aí sim, chega o Estado colombiano a marcar presença: a fumigar. A envenenar pela força os plantios com glifosato importado dos Estados Unidos para que sua colheita não chegue aos narizes dos consumidores norte-americanos, aos quais seu governo é incapaz de fazer cumprir suas próprias leis.
A situação foi resumida há uns dias no El Tiempo pelo caricaturista Papeto. Um de seus senhores gordos diz ao outro: “O grupo guerrilheiro está infiltrado por campesinos que protestam”.
Agora, bem: não já os que protestam, nem por que, senão como protestam? Esta revista o mostrou em sua capa na semana passada, com o título, mais que escandalizado, escandaloso, ‘Que há por detrás?’.
Protestam com seringueiras. E também com batatas bomba e coquetéis molotov. Porém sem armas verdadeiras. Não protestam com votos, porém tampouco com fuzis. E, tal como os votos, as marchas e os apedrejamentos são argumentos democráticos tão válidos como as barreiras publicitárias. Até agora [escrevo isto na noite da quinta-feira, e sairá publicado na -edição- do sábado], os únicos mortos foram quatro campesinos [ou infiltrados] do lado dos que protestam, por bala de fuzil.
Por tê-lo dito, preocupado pelos possíveis excessos da força pública na repressão, ao representante do Escritório de Direitos Humanos que a ONU tem na Colômbia, os ministros do governo o acusaram de inoportuno, irresponsável e temerário.
Como se pode, então, e como se deve protestar contra um Estado em que, governo após governo, ignora suas obrigações e descumpre suas promessas? Com o silêncio? Só com a pétala de uma rosa?
Ministro Carrillo, ministro Pinzón, vice-presidente Garzón, presidente Santos: sejam sérios. Isto da paz não vai ser fácil enquanto, de um lado, se considere ilegítimo que, em meio ao conflito armado, as FARC impulsionem paralisações no Catatumbo, e que, do outro lado, se considere ilegítimo que o presidente Santos tenha fazenda em Anapoima.