"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sábado, 7 de junho de 2014

A esquerda colombiana deve votar em Juan Manuel Santos?


Andrés Felipe Parra Ayala


Os resultados do primeiro turno das eleições presidenciais na Colômbia não são uma surpresa. A maioria das pesquisas que usam como amostra as pessoas que não vivem em Bogotá, e não passam seu tempo nas redes sociais, davam como eleito o candidato apoiado pelo ex-presidente Álvaro Uribe, Óscar Iván Zuluaga, ou garantiam um empate técnico. As eleições parlamentárias já tinham demonstrado que o uribismo, ainda que tenha perdido sua força eleitoral, segue na disputa pelo posto de principal força política do país.

Os setores progressistas da sociedade sempre esperam uma derrota do uribismo nas eleições e sempre ficam surpresos com o balde de água fria. O motivo é que fazem um mal diagnóstico do fenômeno uribista. Os que não gostam de Uribe garantem que ele e seus partidários são uma seita que faz lavagem cerebral nas pessoas e que compra consciências com tamales (prato tradicional à base de milho) ou que engana os bobos com propaganda. Não há dúvida de que o governo de Uribe esteve permeado do começo ao fim por práticas desonestas, por violações da lei nacional e internacional e por uma política de vale-tudo. Mas isso não faz com que o uribismo seja uma tendência política carente de ideias e de argumentos que compra tudo com subsídios de famílias em ação. Pelo contrário: o sentido e a força que o uribismo tem em nosso país está no fato de ter razões para justificar suas atitudes e no fato de que aqueles que são adeptos dessa causa entendem essas razões e são capazes de argumentar com elas.


Isso permite entender porque o escândalo do vídeo do hacker Andrés Sepúlveda não afetou Zuluaga como muitos esperávamos, desejando mais que raciocinando. O argumento uribista é que a ameaça terrorista é uma situação na qual não é possível estabelecer distinções éticas entre o bom e o mau nem legais entre legal e ilegal. O terrorismo é uma situação sem lei e, como não há lei, pode-se e deve-se fazer o que for necessário para estabelecê-la, para levar o Estado de Direito à selva, como sonha nosso espírito nacional com a sentença de Santander, que ligou para sempre a lei e a liberdade.


Enquanto durou a arremetida midiática contra Zuluaga pela difusão do vídeo, perguntei com curiosidade a um conhecido uribista sua opinião sobre o acontecido. Sua reação não foi a ira, nem o desespero, mas com serenidade comparou Sepúlveda e Zuluaga a Julian Assange, o fundador do wikileaks, que por meio da espionagem ilegal filtra informação sobre as ações do governo dos Estados Unidos em nome da expressão e da democracia. A comparação é absolutamente odiosa, a começar porque Assange atua contra a guerra e Zuluaga em prol dela, mas permite mostrar que, para os uribistas, um escândalo não é realmente considerado como tal porque todas as ações de seus dirigentes são perdoáveis em comparação ao escândalo gerado pela situação terrorista e pela existência das FARC. Também mostra que o uribismo aproveita inteligentemente a distância que existe entre os diálogos de paz e as pessoas comuns.


Se os escândalos com sua veemente reprodução midiática em grande escala não podem derrotar o uribismo, o que pode fazê-lo? A resposta parece ser simples e previsível: a paz é a derrota do uribismo. No entanto, isso não é uma resposta. É, na verdade, uma pergunta pelo sentido e o significado da paz.


É neste ponto que o projeto democrático da esquerda e dos movimentos sociais se diferencia da direita. Para Santos, a paz é a subordinação dos atores armados ilegais à lei e ao Estado de Direito por meio de concessões punitivas e de participação política. Neste ponto, Santos não é muito diferente de Uribe: muda apenas a forma (derrota militar ou negociação), mas nunca o fim nem a ideia que ambos têm da paz. Para os movimentos sociais, em troca, a paz é sinônimo de transformação e de mudanças profundas. Para a esquerda e para os movimentos sociais, não se trata de convidar a insurgência a ser parte da legalidade vigente, já que o estado das coisas atuais faz parte do conflito.


Por isso, e à primeira vista, parecem estar certos os que, depois da publicação dos resultados eleitorais, convocam o voto em branco ou a abstenção. A ideia de votar em Santos como voto pela paz é uma frase sem conteúdo já que “paz” significa coisas diferentes: a paz de Santos é apenas uma chance e uma oportunidade para ampliar o repertório de venda dos territórios colombianos para as grandes mineradoras e para o modelo de extração. A conexão entre votar na paz e votar em Santos é, como consequência, nula e inexistente.


Mas o argumento que reprova a falta de consequência política de quem vota em Santos no segundo turno, ainda que se baseie em algo correto, em si mesmo é absolutamente superficial e profundamente equívoco. Aqueles que o formularam assumem, assim como os uribistas que tanto criticam, e que tanto acusam de estupidez e ignorância, que o processo de paz e os diálogos de Havana são santistas. Isso não é verdade porque a existência do processo de paz não tem como consequência a paz santista: o processo de paz não é santista, mas é um cenário onde há duas ideias de paz em disputa e em conflito, no qual a esquerda deve recolher a aprendizagem da campanha da candidata do Polo Democrático Alternativo, Clara López, e aprender a mostrar ao país que a paz passa por superar os grandes problemas de segregação social e de falta de oportunidades e, também, que essas grandes mudanças não podem acontecer sem uma solução política do conflito armado.


É verdade que Santos não é garantia para a paz. De fato, sua ideia de pós-conflito confunde paz com silêncio e com consenso. Mas a permanência do processo de paz e dos diálogos de Havana sim depende de que Zuluaga não seja eleito e de um plebiscito contra o uribismo que demonstre que a grande maioria não quer a guerra. Sobretudo quando, com ânimo triunfalista, o candidato vencedor do primeiro turno das eleições garantiu que, se for presidente, suspenderá os diálogos no dia de sua possessão, o que está autorizado a fazer jurídica e politicamente, se não acontecer de as Farc se retirarem da mesa no dia 16 de junho, o dia seguinte ao segundo turno das eleições.


A questão entre votar ou não em Santos no segundo turno não deve ser resolvida defendendo ou atacando a ideia menos pior. O que está em jogo não são duas pessoas, suas ideias e qualidades morais, mas duas situações: uma, do processo de paz e do acumulado que pouco a pouco a esquerda vem construído para confrontá-lo e enfrentar Santos e sua ideia de paz, derrotando-o por meio das urnas, da mobilização social e, se for o caso, de uma assembleia nacional constituinte. Outra, do fim do processo de paz e da ascensão de um projeto uribista encorajado, que faria da solução militar um ponto sem volta. Por isso, ainda que as pessoas sejam iguais, as situações que derivam da sua eleição são sim diferentes. Uma, é a aposta por manter uma situação próxima da solução política, a outra é o enterro de tal possibilidade.


Por essas razões, eu votarei contra Uribe no segundo turno, o que significa que marcarei o nome de Santos na cédula. Não sou capaz de antepor de forma egoísta minha “dignidade”, minha “memória” ou minha satisfação em me sentir consciente e consequente politicamente contra a abertura das portas da vitória definitiva da direita para a minha geração.