É possível a atração de setores militares para o campo popular?
Por
Ricardo Téllez
Integrante
do Secretariado Nacional das FARC-EP
Uma
das discussões mais antigas no seio da esquerda, nos acadêmicos e
no movimento democrático e popular se dá sobre o papel das Forças
Militares em momentos nos quais a crise geral se aprofunda a tal
ponto que as coisas não podem seguir sendo como estavam. Para lá
ruma a Colômbia, sem importar o resultado eleitoral, por isso o tema
volta à tona.
As
experiências conhecidas nesse campo são variadas, algumas
positivas, outras desastrosas. O irrefutável é que as classes
dominantes aperfeiçoam os mecanismos de controle sobre as Forças
Militares porque sabem que elas constituem o pilar fundamental na
dominação de classe e são as garantidoras da preservação de seus
centenários privilégios.
Não
só as burguesias nativas se preocupam pelo controle delas.
Conhecedores da importância dos exércitos como fatores
determinantes do poder real, os governantes dos Estados Unidos
desenvolvem um trabalho de longo alcance para os militares de nossas
nações.
Vários
são os métodos empregados: bolsas para estudos em academias
militares, colégios ou universidades; convites para conhecer o país
do norte, intercâmbios, cursos na Escola das Américas, manobras
militares conjuntas, assessoria permanente, convivências, doações,
canonicatos, manejo de egos e até a chantagem, em caso necessário.
O
acima exposto permite aos estadunidenses monitorar a formação
acadêmica, política e ideológica de alunos dos exércitos dos
países latino-americanos e caribenhos, para fazer-se a informação
classificada por eles, a qual pode ser utilizada convenientemente, em
momentos oportunos.
Isso
explica, em grande medida, a facilidade que possuem para organizar,
promover e executar golpes militares reacionários, como os
realizados em quase todos os países de nosso continente nas décadas
dos anos 60 e 70. As recentes intentonas de golpes em Venezuela,
Bolívia, Equador e o relativo êxito obtido em Honduras e Paraguai
nos mostram que tais práticas não foram abandonadas pelo império.
Em
Colômbia a situação com os militares tem sido muito complicada. Em
aplicação da Doutrina da Segurança Nacional, o Exército tem sido
utilizado em tarefas que não lhe são próprias. A função de
proteger as fronteiras pátrias foi modificada a instâncias do
Pentágono pela de voltar suas armas contra seu próprio povo em
busca de um inexistente “inimigo interno”.
Essa
grosseira distorção do quefazer propiciou que alguns oficiais,
suboficiais e soldados se convertessem em violadores sistemáticos
dos Direitos Humanos.
Hoje,
estão respondendo por casos de desaparição forçada de pessoas,
tortura, execuções extrajudiciais [falsos positivos], abuso sexual
e corrupção, entre outros delitos.
O
problema é de tal magnitude que vão quatro mil sentenças
condenatórias e existem quatorze mil investigações em curso contra
pessoal das Forças Armadas. Recentemente, o Tribunal Superior de
Cundinamarca ratificou a sentença de 37 anos de prisão para o
General Jaime Uzcátegui pelo massacre de Mapiripán.
Outro
caso repudiável é o do Coronel Robinson González del Río, quem
reconhece sua participação direta em mais de 190 falsos positivos,
vínculos com o paramilitarismo, negociatas e corrupção. Esse
sujeito cometeu suas arbitrariedades com a anuência de empoleirados
Generais e a cumplicidade de personagens como Santiago Uribe, irmão
do ex-presidente.
Apesar
do acima exposto, é possível a atração de militares para o campo
popular?
Sem
dúvida alguma, sim; porque a grande maioria deles provém dos
setores populares e porque existem militares honestos, oficiais de
valor que, ao mesmo tempo em que propendem pela solução política
do conflito, repudiam o fato de que alguns generais utilizem seus
altos cargos na comandância do Exército para enriquecer-se através
de negociatas e práticas corruptas. Estou certo de que muitos
militares honestos veem claro que há um nexo entre essa corrupção
e o interesse por prolongar o conflito.
A nova
oficialidade deveria inspirar-se nos exemplos de honestidade e
patriotismo de generais latino-americanos como Juan José Torres, da
Bolívia; Velasco Alvarado, do Peru; Omar Torrijos, do Panamá, e
Hugo Chávez, de Venezuela, que trabalharam denodadamente por
melhorar as condições de vida de seus povos e reforçar a soberania
frente às pretensões neocoloniais do império. Têm em suas mãos o
exemplo de Bolívar e o arsenal de seu pensamento libertador. Aos
militares colombianos, chamamos-lhes a fundir sua prática e ação
com os sonhos das maiorias nacionais que, desde há muito tempo,
reclamam um novo país em democracia plena, paz com justiça social e
soberania.
--Equipe
ANNCOL - Brasil