"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


domingo, 22 de junho de 2014

Discurso do Presidente Evo Morales na inauguração da Cúpula do G77 - "Por uma irmandade planetária dos povos"



POR UMA IRMANDADE PLANETÁRIA DOS POVOS


Há 50 anos, grandes líderes levantaram as bandeiras da luta anticolonialista e decidiram marchar junto a seus povos pelo caminho da soberania e da independência.
Eram tempos onde potências mundiais e transnacionais disputavam o domínio sobre territórios e recursos naturais para seguir engrandecendo-se à custa da pobreza dos povos do Sul.
Neste contexto, a 15 de junho de 1964, ao concluir a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, 77 países do Sul se reuniram [AGORA SOMOS 133 + CHINA] para melhorar sua capacidade de negociação comercial conjunta, a partir de um bloco que promova seus interesses coletivos, respeitando as decisões soberanas.
Ao longo destes 50 anos, os países transcenderam em seus planos, impulsionando resoluções nas Nações Unidas e ações comuns favoráveis ao desenvolvimento sustentado na cooperação Sul-Sul, a uma nova ordem econômica mundial, à responsabilidade sobre a mudança climática e as relações econômicas no marco de tratamentos preferenciais.
Neste caminho, destaca a luta pela descolonização do mundo, pela autodeterminação e soberania dos povos sobre os recursos naturais.
Apesar de todos os esforços e lutas pela igualdade e justiça dos povos do mundo, as hierarquias e desigualdades planetárias se incrementaram.
Hoje, 10 países do mundo controlam 40% da riqueza de todo o planeta; 15 empresas transnacionais controlam 50% da produção mundial.
Hoje, como há 100 anos, em nome do livre mercado e da democracia, um punhado de potências imperiais invade países, bloqueia o comércio, impõe preços ao resto do mundo, asfixia economias nacionais, conspira contra governos progressistas e recorre à espionagem contra os habitantes do planeta.
Uma reduzida elite de países e empresas transnacionais domina autoritariamente os destinos do mundo, de suas economias e seus recursos naturais.
A desigualdade econômica e social entre regiões do mundo, entre países, entre classes sociais, entre cidadãos, se incrementou de maneira abusiva.
0,1% da população mundial é proprietária de 20% do patrimônio da humanidade. Se em 1920, nos Estados Unidos, um gerente de empresa ganhava 20 vezes o salário de um operário, atualmente ganha 331 vezes.
Porém, esta maneira injusta de concentrar a riqueza, esta maneira depredadora de destruir a natureza, está gerando também uma crise estrutural que a torna insustentável no tempo.
Se trata de uma crise estrutural, porque afeta a todos os componentes do próprio desenvolvimento do capitalismo, isto é, é uma crise financeira, energética, climática, hídrica, alimentar, institucional e de valores, porque se retroalimentam umas às outras. Quer dizer, é uma crise da própria civilização capitalista.
A crise financeira se produziu pela cobiça do capital financeiro por maiores lucros, que gerou uma profunda especulação financeira internacional, favorecendo a alguns grupos, corporações transnacionais ou centros de poder que concentraram a riqueza.
Se trata de bolhas financeiras que geram lucros especulativos, que ao final arrebentam, e com isso arrastam para a pobreza trabalhadores que receberam créditos baratos; poupadores de classe média, que confiaram seus depósitos a gananciosos especuladores que, da noite pro dia, quebram ou levam seus capitais para outros países, provocando a bancarrota de nações inteiras.
Estamos enfrentando, também, uma crise energética marcada pelo consumo excessivo nos países desenvolvidos, pela contaminação de fontes de energia e pelo monopólio energético por parte das transnacionais.
Paralelamente, vemos uma redução de reservas em nível mundial, altos custos de extração de petróleo e gás, com uma menor capacidade de produção pelo esgotamento gradual dos combustíveis fósseis e pela mudança climática global.
A crise climática obedece a anarquia da produção capitalista, cujos níveis de consumo e industrialização descontrolada têm gerado um excesso de emissões de gases contaminantes, provocando o aquecimento global e desastres naturais que afetam o mundo inteiro.
Desde há mais de 15 mil anos até a industrialização capitalista a presença de gases com efeito estufa não ultrapassava as 250 partículas por milhão de moléculas na atmosfera.
Desde o século XIX e em particular nos séculos XX e XXI, fruto da ação do capitalismo depredador, passamos para 400 partículas, levando a um irreversível aquecimento da atmosfera, com suas sequelas de catástrofes climáticas que afetam, em primeiro lugar, aos povos mais pobres e vulneráveis do Sul, particularmente aos países insulares, produto do degelo das geleiras.
O aquecimento global, por sua vez, gera uma crise hídrica, aprofundada pela privatização, esgotamento de fontes e mercantilização da água doce, incrementando progressivamente a quantidade de população que não pode ter acesso à água potável.
A escassez de água em diversas regiões do planeta está conduzindo a conflitos armados e guerras que agravam ainda mais a disponibilidade deste recurso considerado como não renovável.
Como tendência se observa um crescimento da população e uma redução na produção de alimentos, o que deriva numa crise alimentar.
A isto se soma a diminuição de terras produtoras de alimentos, os desequilíbrios entre o campo e a cidade, o monopólio de empresas transnacionais na comercialização de sementes e insumos agrícolas e a especulação no preço dos alimentos.
O modelo imperial concentrador e especulador gerou, por sua vez, uma crise institucional marcada por uma desigual e injusta estrutura de poder mundial, em especial no Sistema das Nações Unidas, no Fundo Monetário Internacional, na Organização Mundial do Comércio, entre outros.
Fruto de tudo isso, os direitos sociais dos povos estão em perigo. A promessa de igualdade e justiça planetária é cada vez mais distante e a existência da própria natureza está ameaçada de extinção.
Chegamos a um limite e há que tomar ações mundiais urgentes para salvar a sociedade, a humanidade e a Mãe Terra.
Na Bolívia, começamos a dar passos neste sentido. Até 2005, na Bolívia se aplicava a política neoliberal que gerou concentração da riqueza, desigualdade social e pobreza, incrementando a marginalização, discriminação e exclusão social.
Na Bolívia, a luta histórica dos movimentos sociais, especialmente do movimento indígena originário campesino, nos permitiu iniciar pacificamente, mediante o voto e sem utilizar a violência, uma Revolução Democrática e Cultural que desterre a exclusão, a exploração, a fome, o ódio, para reconstruir o caminho do equilíbrio, da complementaridade, do consenso com identidade própria, do Viver Bem.
A partir de 2006, o Governo Boliviano aplicou uma nova política econômica e social, expressada num novo Modelo Econômico Social Comunitário e Produtivo, cujos eixos fundamentais são: a nacionalização dos recursos naturais, a recuperação para benefício de todos os bolivianos do excedente econômico, a redistribuição da riqueza e a participação ativa do Estado na economia.
Em 2006, o Estado e o povo tomamos a decisão política, econômica e social mais relevante: a nacionalização dos hidrocarbonetos, que se constitui no eixo central de nossa revolução. Com esta medida, o Estado participa e controla a propriedade dos hidrocarbonetos e industrializa o gás natural.
Contrariamente à palavra de ordem neoliberal do crescimento econômico com base na demanda externa [“exportar ou morrer”], o novo modelo apostou por combinar as exportações com o crescimento do mercado interno, impulsionadas principalmente pelas políticas redistributivas da renda, descongelamento e incrementos sucessivos do salário mínimo nacional, aumentos salariais anuais superiores à taxa de inflação, subvenções cruzadas e bônus de transferências aos mais necessitados.
Tudo isto permitiu que a economia boliviana incrementasse seu Produto Interno Bruto de 9 mil para mais de 30 bilhões de dólares, nos últimos anos.
A nacionalização dos hidrocarbonetos, o crescimento da economia boliviana e a política de austeridade de gastos permitiram que tenhamos superávit fiscal durante oito anos consecutivos, que contrastam com os déficits fiscais recorrentes que a Bolívia registrou durante mais de 66 anos.
Quando assumimos o governo, a diferença entre a população mais rica e a mais pobre era de 128 vezes. Agora, essa diferença se reduziu para somente 46 vezes. Atualmente, a Bolívia está entre os 6 países com melhor distribuição de renda na região.
Isto mostra que os povos temos opções e que podemos derrotar os destinos impostos pelo colonialismo e pelo neoliberalismo.
Todas estas conquistas em tão pouco tempo devemos à consciência social e política do povo boliviano.
RECUPERAMOS A PÁTRIA PARA TODOS, UMA PÁTRIA QUE FOI VENDIDA PELO MODELO NEOLIBERAL, QUE VIVEU VILIPENDIADA PELO VELHO SISTEMA DE PARTIDOS POLÍTICOS E QUE FOI GOVERNADA A PARTIR DE FORA COMO SE FÔSSEMOS UMA COLÔNIA.
DEIXAMOS DE SER O PAÍS INVIÁVEL, COMO NOS DIZIAM OS ORGANISMOS FINANCEIROS INTERNACIONAIS, E DEIXAMOS DE SER UM PAÍS INGOVERNÁVEL, COMO NOS FAZIA CRER O IMPÉRIO NORTE-AMERICANO.
HOJE EM DIA, OS BOLIVIANOS RECUPERAMOS A DIGNIDADE E O ORGULHO E ACREDITAMOS EM NÓS MESMOS, EM NOSSA FORÇA E EM NOSSO DESTINO. QUERO DIZER AO MUNDO INTEIRO, COM A MAIOR HUMILDADE, QUE OS ÚNICOS ARQUITETOS SÁBIOS E CAPAZES DE MUDAR SEU FUTURO SÃO OS PRÓPRIOS POVOS.
PORTANTO, PROPOMOS CONSTRUIR OUTRO MUNDO: TAREFAS PARA CONSTRUIR A SOCIEDADE DO VIVER BEM.
PRIMEIRO: DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL AO DESENVOLVIMENTO INTEGRAL PARA VIVER BEM, EM HARMONIA E EQUILÍBRIO COM A MÃE TERRA.
Necessitamos construir uma visão diferente do desenvolvimento ocidental capitalista, transitando do paradigma do Desenvolvimento Sustentável para o paradigma do Desenvolvimento Integral para Viver Bem, que busca não só o equilíbrio entre os seres humanos, mas também o equilíbrio e a harmonia com nossa Mãe Terra.
Nenhum desenvolvimento é sustentável se a produção destrói a Mãe Terra, já que é a fonte da vida e nossa existência. Nenhuma economia é duradoura se produz desigualdades e exclusões.
Nenhum progresso é justo e desejável se o bem-estar de uns é à custa da exploração e da miséria de outros.
O Desenvolvimento Integral para Viver Bem significa gerar bem-estar para todos, sem exclusões; significa respeitar a diversidade de economias de nossas sociedades; respeitar os conhecimentos locais e respeitar a Mãe Terra e sua diversidade biológica, que alimentará as gerações vindouras.
Desenvolvimento Integral para Viver Bem é produzir para satisfazer necessidades reais e não para ampliar infinitamente os lucros.
É distribuir as riquezas, fechando a ferida da desigualdade, e não ampliar as injustiças.
É combinar a ciência contemporânea com a sabedoria tecnológica ancestral dos povos indígenas, campesinos e originários que dialoga com respeito à natureza.
É pensar nos povos e não nos mercados financeiros.
É colocar a natureza como centro da vida e o ser humano como mais uma criatura dessa natureza.
O Desenvolvimento Integral para Viver Bem com respeito à Mãe Terra não é uma economia ecologista para os países pobres, enquanto os países ricos aumentam a desigualdade e a destruição da natureza.
O desenvolvimento integral só é viável em nível planetário se existe controle dos Estados junto a seus povos sobre todos os seus recursos energéticos.
Necessitamos tecnologias, investimentos, produção, créditos, empresas e mercados, não para subordinar-nos à ditadura do lucro e do luxo, mas sim para colocá-los a serviço e necessidades dos povos e da ampliação dos bens e serviços comuns.
SEGUNDO: SOBERANIA SOBRE OS RECURSOS NATURAIS E ÁREAS ESTRATÉGICAS
Os países donos de matérias-primas devemos e podemos assumir o controle soberano da produção e também da industrialização de nossas matérias-primas.
A nacionalização de empresas e áreas estratégicas permite que o Estado assuma a condução da produção, do controle soberano da riqueza e iniciar a planificação para industrializar as matérias-primas e distribuir o lucro entre a população.
Exercer a soberania sobre os recursos naturais e áreas estratégicas não significa isolar-se dos mercados mundiais, é vincular-se a estes mercados para benefício de nossos países e não de uns quantos proprietários privados. Soberania sobre os recursos naturais e áreas estratégicas não é impedir a participação de capitais e tecnologia estrangeira; é subordinar esse investimento e essa tecnologia às necessidades de cada país.
TERCEIRO: BEM-ESTAR PARA TODOS CONVERTENDO OS SERVIÇOS BÁSICOS COMO DIREITO HUMANO
A PIOR TIRANIA QUE A HUMANIDADE ENFRENTA É PERMITIR QUE OS SERVIÇOS BÁSICOS ESTEJAM SOB CONTROLE DAS EMPRESAS TRANSNACIONAIS. ISTO SIGNIFICA CONDENAR A HUMANIDADE AO INTERESSE PARTICULAR E AOS OBJETIVOS MERCANTIS DE UMA MINORIA QUE SE TORNA RICA E PODEROSA COM A VIDA E SEGURANÇA DAS PESSOAS.
POR ISSO, DIZEMOS QUE OS SERVIÇOS BÁSICOS SÃO INERENTES À CONDIÇÃO HUMANA. COMO PODE UM SER HUMANO VIVER SEM ÁGUA POTÁVEL, SEM ENERGIA ELÉTRICA OU SEM COMUNICAÇÕES? SE OS DIREITOS HUMANOS NOS FAZEM IGUAIS ENTRE TODOS, O QUE MATERIALIZA A IGUALDADE É O ACESSO UNIVERSAL AOS SERVIÇOS BÁSICOS. A ÁGUA NOS TORNA IGUAIS, ASSIM COMO A LUZ OU AS COMUNICAÇÕES.
Para resolver as iniquidades sociais é necessário incorporar na legislação internacional e na normativa nacional de todos os países que os serviços básicos [a água, eletricidade, comunicações e o saneamento básico] são um direito humano fundamental das pessoas.
Isto significa que é uma obrigação legal de estados o garantir a universalidade dos serviços básicos, acima de custos ou de lucros.
QUARTO: EMANCIPAÇÃO DO ATUAL SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL E CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ARQUITETURA FINANCEIRA
Propomos libertar-nos do jugo financeiro internacional, construindo um novo sistema financeiro que priorize as demandas das atividades produtivas dos países do Sul, no marco do desenvolvimento integral.
Temos que criar e fortalecer bancos do Sul que impulsionem projetos industriais, que reforcem os mercados internos regionais, que fomentem os intercâmbios comerciais entre nossos países, porém com base na complementaridade, na solidariedade.
Necessitamos, ademais, impulsionar a regulação soberana das atividades financeiras mundiais que ameaçam a estabilidade das economias nacionais.
Devemos desenvolver um mecanismo internacional de reestruturação da dívida, que aprofunda a dependência dos povos do Sul, estrangulando suas possibilidades de desenvolvimento.
Devemos substituir as instituições financeiras, como o FMI, por outras que permitam uma melhor e maior participação dos países do Sul em suas estruturas de decisão, hoje capturadas por potências imperiais.
É preciso estabelecer limites aos lucros especulativos e à excessiva acumulação de riqueza.
QUINTO: CONSTRUIR A GRANDE ALIANÇA ECONÔMICA, CIENTÍFICA, TECNOLÓGICA E CULTURAL DOS PAÍSES DO G77 + CHINA
Depois de séculos de colonialismo, de transferências de riqueza para as metrópoles imperiais e de empobrecimento de nossas economias, os países do Sul começaram a retomar uma importância decisiva no desenvolvimento da economia mundial.
Ásia, África e América Latina não são somente 77% da população mundial, senão que também representam aproximadamente 43% da economia mundial; e esta importância segue em crescimento. Os povos do Sul somos o futuro do mundo.
Para reforçar e planificar esta inevitável tendência mundial, necessitamos tomar medidas imediatas.
Necessitamos intensificar os intercâmbios comerciais entre os países do Sul e orientar nossas atividades produtivas em função das demandas de outras economias do Sul, com base na complementaridade de necessidades e capacidades.
Necessitamos programas de transferência tecnológica entre os países do Sul. A soberania e a liderança tecnológica imprescindível para uma nova economia mundial com justiça não poderá cada país conquistar por si mesmo.
A ciência tem que ser um patrimônio de toda a humanidade e a serviço do bem-estar de todos; sem exclusões nem hegemonismos. Para um futuro digno de todos os povos do mundo, necessitamos uma integração para a libertação. Não uma cooperação para a dominação.
Para levar adiante estas dignas tarefas a serviço dos povos do mundo, convidamos a Rússia e outros países a integrarem-se ao G77, países esses que são nossos irmãos em necessidades e compromissos.
Nossa aliança do G77 não conta com uma instituição própria que efetive as propostas, declarações e planos de ação de nossos países. Por isso, a Bolívia propõe a constituição do INSTITUTO DE DESCOLONIZAÇÃO E COOPERAÇÃO SUL-SUL.
Este instituto estará encarregado de proporcionar assistência técnica aos países do Sul, para aprofundar a implementação das propostas do G77 + CHINA.
Também outorgará assistência técnica e fortalecimento institucional para o desenvolvimento e a autodeterminação; para levar a cabo pesquisas; e propomos que a sede do Instituto de Descolonização se localize na Bolívia.
SEXTO: ERRADICAR A FOME DOS POVOS DO MUNDO
É um imperativo no mundo erradicar a fome e promover que se aplique e se exerça plenamente o direito humano à alimentação.
A priorização da produção de alimentos deve contar com a participação dos pequenos produtores e comunidades indígenas campesinas, que são as que preservam um conhecimento ancestral no que se refere à produção de alimentos.
Para conquistar a erradicação da fome, os países do Sul devemos gerar condições para o acesso democrático e equitativo à propriedade da terra, que não permita o monopólio deste recurso através do latifúndio, porém que tampouco fomente a fragmentação minifundiária e improdutiva.
Consolidar a soberania e segurança alimentar, mediante o acesso aos alimentos sadios e saudáveis para o bem-estar da população.
Eliminar os monopólios transnacionais na provisão de insumos agrícolas para garantir a segurança alimentar com soberania.
Que cada um de nossos países garanta os alimentos básicos e próprios que sua população consome a partir do fortalecimento de suas práticas produtivas, culturais, ecológicas, assim como o intercâmbio solidário entre povos. Por sua vez, os Estados temos que responsabilizar-nos de garantir a energia elétrica, a integração viatória, o acesso a água, e fertilizantes orgânicos.
SÉTIMO: FORTALECER A SOBERANIA DOS ESTADOS SEM INTERVENCIONISMO, INGERÊNCIA NEM ESPIONAGEM
Propiciar, no marco das Nações Unidas, uma nova institucionalidade para a Nova Ordem Planetária para o Viver Bem.
As instituições que emergiram depois da Segunda Guerra Mundial, como as Nações Unidas, hoje necessitam de uma profunda transformação.
Faz-se necessário organismos internacionais que fomentem a paz, que eliminem as hierarquias mundiais e que promovam a igualdade entre os Estados.
Por isso, o Conselho de Segurança da ONU tem que desaparecer, porque, em vez de assegurar a Paz entre as nações, tem promovido guerra e invasões [por parte de] de potências imperiais para apoderarem-se dos recursos naturais dos países invadidos. Hoje, em vez de Conselho de Segurança, há um Conselho de Insegurança e de Invasão Imperial.
Nenhum país, nenhuma instituição ou interesse pode justificar a invasão de um país por outro. A soberania dos Estados e a resolução interna dos conflitos de cada país é a base fundamental da paz e das Nações Unidas.
Denuncio aqui o bloqueio econômico injusto contra Cuba, as agressivas e ilegais políticas do governo dos Estados Unidos contra Venezuela, incluindo a iniciativa legislativa do Comitê de Relações Exteriores do Senado dirigida a impor sanções a este país, afetando sua soberania e independência política, em clara violação dos princípios e propósitos da Carta das Nações Unidas.
Essa é a perseguição e o golpismo internacional que constitui o colonialismo moderno, o colonialismo desta nova época.
Neste novo tempo, nestes tempos do Sul, devemos ser capazes de superar e sanar as feridas herdadas por guerras fratricidas estimuladas por interesses capitalistas forâneos, devemos consolidar esquemas de integração que facilitem nossa convivência pacífica, nosso desenvolvimento e nossa fé em valores compartilhados como a justiça.
Somente juntos poderemos conquistar uma vida digna para nossas nações.
OITAVO: RENOVAÇÃO DEMOCRÁTICA DOS ESTADOS
O tempo dos impérios, das hierarquias coloniais e das oligarquias financeiras se está terminando. Por todas as partes vemos os povos do mundo reivindicar seu protagonismo na história.
O século XXI tem que ser o século dos povos, dos operários, dos campesinos, dos indígenas, dos jovens, das mulheres; quer dizer, dos oprimidos.
O protagonismo dos povos significa a renovação e o aprofundamento da democracia. Temos que complementar a democracia eleitoral com a democracia participativa e com a democracia comunitária.
Da limitada governabilidade partidária e parlamentar, temos que passar para a governabilidade social da democracia.
Isso significa que, para tomar decisões estatais, se deve levar em conta a deliberação dos parlamentos, porém também a deliberação dos movimentos sociais que permitem fluir a energia viva de nossos povos.
A renovação da democracia neste novo século também requer que a ação política se constitua num completo e permanente serviço à vida, que é, por sua vez, um compromisso ético, humano e moral com nossos povos, com os mais humildes.
E, para isso, devemos recuperar os códigos de nossos ancestrais: não roubar, não mentir, não ser covarde e não ser puxa-saco.
Democracia é também distribuição da riqueza e ampliação dos bens comuns que a sociedade tem.
Democracia é subordinação dos governantes às decisões dos governados.
Democracia não é benefício pessoal dos governantes, nem muito menos abuso de poder: é serviço amoroso e abnegado para o povo. É a entrega do tempo, do conhecimento, do esforço e da própria vida para alcançar o bem-estar dos povos e da humanidade.
NONO: UM NOVO MUNDO A PARTIR DO SUL PARA TODA A HUMANIDADE
Chegou o tempo das nações do Sul.
Antes, fomos colonizados e escravizados, e com nosso trabalho roubado se levantaram os impérios do Norte.
Hoje, a cada passo que damos por nossa libertação, os impérios entram em decadência e começam a destruir-se.
Porém, nossa libertação não é só a libertação dos povos do Sul. É, ao mesmo tempo, a libertação da humanidade inteira, porque nós não lutamos para dominar a outros; lutamos para que ninguém domine a outro.
E, por sua vez, nós podemos salvar a fonte de toda a vida e de toda a sociedade: a Mãe Terra, que agora está ameaçada de morte pela avareza de um capitalismo depredador e enlouquecido.
Hoje, outro mundo não só é possível como também é imprescindível.
Hoje, outro mundo é imprescindível porque, se não, não haverá nenhum mundo possível.
E esse outro mundo de igualdade, de complementaridade, de convivência orgânica com a Mãe Terra só pode surgir dos mil idiomas, das mil cores, das mil culturas irmanadas de todos os Povos do Sul.


Santa Cruz, 14 de junho de 2014