"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 2 de junho de 2014

A COPA, A FIFA E O CIRCULO VICIOSO DA PSEUDO ESQUERDA


-->

Por Raul Longo

Uma amiga pede minha opinião sobre artigo de uma jornalista que se acredita de esquerda, mas se estivesse em Cuba seria uma Yaoni Sanchez sem tirar nem pôr. Tanto que os argumentos que apresenta contra a realização da Copa do Mundo são idênticos aos empregados pela direita. Um pouco pior porque tenta convencer que os lucros a serem aferidos pela FIFA sejam o real interesse do governo brasileiro na promoção do evento. De resto, vai por onde qualquer Eliane Catanhede iria.
Conforme demonstro à amiga, a meu ver os niilistas que se acreditam e se anunciam como esquerda são mais prejudiciais ao país e à própria esquerda, do que os de direita. Razão do porque divulgo este comentário. Só não reproduzo o artigo que o motivou porque não traz nada de novo, apenas mais do mesmo. Mas disponho adiante das minhas, outras considerações mais elucidativas.   

Para ser esquerda não precisamos ser estúpidos e é uma evidente estupidez criticar os lucros de megaeventos promovidos por instituições capitalistas. Evidentemente uma instituição capitalista nunca realizará um empreendimento que não tenha como finalidade o lucro. E a instituição capitalista que promove megaeventos, consequentemente pretende aferir “megalucros”, lucros proporcionais às dimensões do empreendimento promovido.

Por burrice ou ingenuidade, seja qual for o motivo para questionar essa realidade não mudará a realidade.

A FIFA já anunciou que a Copa do Mundo de 2018 será na Rússia e a de 2022 no Qatar. Por que a Rússia e o Qatar foram as escolhidas e não as demais nações concorrentes: Inglaterra, Holanda, Bélgica, Portugal e Espanha? A resposta é muito simples: lucratividade.

Mas e a Ucrânia? As indisposições entre Estados Unidos e Rússia por causa a Ucrânia? Bem... Há aí um evidente desprestígio político para o capitalismo estadunidense, mas entre a política e o lucro o capitalismo fica com sua essência ideológica: o lucro. E a FIFA desde que surgiu sempre foi e continuará sendo uma instituição capitalista. Não é preciso recontar sua história para tentar provar o que ninguém ignora ou desacredita.

Mesmo que resolva destinar parte dos lucros aferidos em uma Copa do Mundo para o combate à miséria, a FIFA continuará sendo uma instituição capitalista. Acusá-la pela lucratividade alcançada nos certames quadrienais que promove há muitas décadas é um discurso vazio e inútil.

Dada essa realidade insofismável não é de estranhar ter elegido Rússia e Qatar para as próximas copas, eliminando as demais proponentes, pois todas as Copas do Mundo foram feitas para gerar lucros à FIFA que se nunca realizou o megaevento em países em má condição financeira, não o fará agora.

Portanto a escolha da FIFA demonstra que a Rússia vai muito bem financeiramente e não será arranhada pelos embargos dos Estados Unidos e da União Europeia por causa da Ucrânia. E também demonstra que a situação financeira dos embargantes não apresenta sinais de restabelecimento em médio prazo, até pelo adiantado do anúncio de onde os jogos serão sediados em 2022.

Disso tudo se conclui ser burrice da oposição de pretensa esquerda criticar a realização da Copa do Mundo no Brasil a partir dos lucros a serem aferidos pela FIFA.  Deviam se limitar a fazer coro às críticas da direita, apesar de que a direita, por ideologia, não possa apontar os lucros da FIFA como motivo de oposição à realização da Copa, afinal a direita é capitalista e também tem no lucro sua essencialidade ideológica.

A burrice está no fato de que ao criticar o evento pelos lucros da FIFA, contradizem a eles mesmos quando acusam o governo do PT de ineficiente. Se no início do governo Lula éramos umas das maiores dívidas externas mundiais e no decorrer de seu mandato fomos escolhidos pela FIFA como sede para o evento, evidentemente o governo Lula foi muito eficiente.

Mas isso é o de menos! Apenas confirma a insuficiência de raciocínio da dita esquerda de oposição. O pior é quando afetam a imagem da verdadeira esquerda brasileira, dando razão aos que acusam a esquerda em geral de desonesta e oportunista. Ao tentar dar a impressão de que os lucros da FIFA sejam gerados a partir de prejuízos ao povo, transmitem a impressão de que toda a esquerda é mesmo uma grande mentira.

Apesar de fácil de desmentir, deveriam parar naquela conversa mole da direita de que os gastos com os estádios onde se realizarão os jogos são em detrimento de investimentos em saúde ou educação. Deviam ficar apenas nisso, ainda que a população já tenha compreendido que esses gastos não são públicos e, embora financiados pelo BNDES, também não são um presente do Brasil para a FIFA que os restituirá com juros. Deveriam se limitar ao discurso empregado pela direita, mesmo com a comprovação de que nenhum outro governo investiu tanto em educação e saúde quanto se investe atualmente e do andamento de inúmeras obras de infraestrutura em locais distantes das capitais que hospedarão os jogos. Além, claro, do legado de muitas décadas depois aos cidadãos das cidades-sede da Copa.

Não por mais honesta, mas por mais esperta ou menos estúpida, a direita não comete a besteira de tentar sugerir que os lucros da FIFA seriam aferidos através de prejuízos à população. Desde o primeiro campeonato mundial de futebol ou da primeira Olimpíada, qual povo foi prejudicado por estes eventos? O governo de qual país recusou algum desses eventos baseado em exemplos de prejuízos aos povos em realizações anteriores?

Ainda que um ou outro país, por deficiência de suas administrações, não tenha obtido ou desenvolvido mais positivos e perenes benefícios, em qual o povo foi lesado? Quando alguém que se reivindica como esquerda tenta dar essa impressão, evidentemente falaciosa e especulativa, acaba promovendo a ideia tão explorada pela direita de que toda a esquerda é desonesta e voltada apenas para os próprios fins que buscam atingir através de quaisquer meios por mais falaciosos e inconsequentes sejam.

O niilismo dos que se confundem como esquerdas depõe muito mais contra as reais ideologias de esquerda do que todo o discurso da direita. A direita se compreende, mas o niilista sempre acaba se demonstrando incapaz e desinteressado em compreender até a si próprio.

Todos os megaeventos internacionais sempre têm um significado político muito forte, sobretudo as realizações da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Por exemplo, não dá mais para se considerar a África do Sul com o mesmo desrespeito com que os especuladores e piratas internacionais consideram as demais nações africanas.  Claro que a eleição da África do Sul para aquela copa adveio da positiva projeção internacional de Nelson Mandela, tanto quanto Copa e Olimpíadas no Brasil advieram da projeção de Luís Ignácio Lula da Silva, mas estes eventos confirmam uma representatividade internacional que incomoda a determinados interesses estrangeiros motivando a utilização da imprensa do hemisfério norte para explorar ao máximo as deficiências do governo sul-africano no aproveitamento do legado da Copa realizada naquele país, procurando transferi-los como uma previsão para o Brasil.

Isso é compreensível e não é apenas aí, nas realizações dos jogos da Copa e das Olimpíadas, que os prenúncios da hemisférica inversão da hegemonia política e econômica têm merecido acentuados detrimentos pelos porta-vozes das concentrações de capital. Também se pode entender que a matilha colonizada uive seus lamentos em resposta aos ladrares de seus alfas do hemisfério norte.  Mas porque alguém que se diz esquerda tenta traçar o mesmo paralelo imaginário? Será aquele complexo de vira-lata desenvolvido entre as vítimas da colonização de consciência promovida pela direita?

Fedem como cães molhados de chuva, mas se espojam em ideologias para não se assustarem com a própria natureza que também desconhecem. Alguns, com a maturidade, acabam se reconhecendo como reais direita, outros vão continuar se enganando até o fim, em busca de uma auto-afirmação que nunca chegará porque se tornarem esquerdas de verdade, pode ter acontecido em alguns casos, mas são bastante raros.

Talvez fosse o caso de se perguntar se foram os Jogos Olímpicos de Moscou que determinaram o fim da União Soviética? Ou se os de Pequim ofereceram algum risco ao regime chinês? Mas é perda de tempo, porque niilistas não são capazes de responder nem por eles mesmos.

Os motivos dos esforços da direita em denegrir o evento são evidentes, afinal estamos em ano eleitoral. Da reduzida, porem existente real esquerda de oposição, vi algumas críticas pontuais sobre determinadas medidas de que descordam, mas nada contra o evento em si. Inteligente e consequente, mesmo que opondo-se ao governo a verdadeira esquerda sabe da importância dessa realização para o povo brasileiro.  E respeita o povo brasileiro.

Niilista não respeita nada e quando não se limitam em apenas repetir os discursos da direta, conseguem piorá-los.

Muito se fala que o Brasil tem de apreender com bons sucessos das Copas anteriores e também com o que é apontado como insuficiente e mal administrado pela África do Sul. Ainda assim, há ressalvas, como nesse parágrafo de uma matéria bastante crítica aos resultados da Copa do Mundo naquele país, publicada no portal do UOL,: “Pesquisas feitas após a Copa do Mundo mostram que a imagem da África do Sul melhorou com o torneio. Mais de oitenta por cento das pessoas que viram o Mundial afirmaram que visitariam o país...”

Todos os demais parágrafos criticam acidamente a persistência de diversos problemas sociais já anteriores ao evento, mas nenhum confere quaisquer desses problemas ou algum agravamento e surgimento de novos àquela realização. No entanto, já li outras matérias com depoimentos de populares sul-africanos comentando grandes benefícios em seus cotidianos através do legado deixado pela Copa daquele país.

Claro que a realização de uma Copa do Mundo não resolverá todos os problemas de uma nação, mas concluo que se toda África do Sul não pode tirar maiores benefícios, tampouco aquela população foi prejudicada e ao menos os cidadãos das cidades que sediaram os jogos usufruem de melhorias no que antes já existia e com a implantação de novos serviços anteriormente inexistentes.

Utilizar a África do Sul como exemplo para o que possa acontecer com a Copa no Brasil demonstra claramente a inconsequência dos niilistas. E os mesmos preconceitos daqueles que acreditam que só os países do hemisfério norte tem capacidade para grandes empreendimentos.

Nessa linha de ausência de raciocínio dos colonizados pretensamente de esquerda, nenhum outro país se interessaria em Olímpiadas depois da de Munique em 1972, para não correr o risco de atentados terroristas. Sempre arrojados ao lucro, aos menos nessa esparrela os da direita não caem.

Também vale lembrar que nunca tantas cidades de um único país foram programadas para os jogos da Copa, com consequente implantação de melhorias nos mais diversos setores de serviços prestados às populações. Além de que, do Rio Grande do Sul ao Amazonas, ou do Maracanã à Arena Pantanal há uma distância que certamente os niilistas jamais poderiam dimensionar, já que não se dimensionam nem a si mesmos e por mais aproximados à direita, acreditem-se no extremo oposto.

Pode ser, considerando que o extremo oposto do ponto de um círculo fica ao lado. E isso é vicioso.