A COPA, A FIFA E O CIRCULO VICIOSO DA PSEUDO ESQUERDA
-->
Por Raul Longo
Uma
amiga pede minha opinião sobre artigo de uma jornalista que se
acredita de esquerda, mas se estivesse em Cuba seria uma Yaoni
Sanchez sem tirar nem pôr. Tanto que os argumentos que apresenta
contra a realização da Copa do Mundo são idênticos aos empregados
pela direita. Um pouco pior porque tenta convencer que os lucros a
serem aferidos pela FIFA sejam o real interesse do governo brasileiro
na promoção do evento. De resto, vai por onde qualquer Eliane
Catanhede iria.
Conforme
demonstro à amiga, a meu ver os niilistas que se acreditam e se
anunciam como esquerda são mais prejudiciais ao país e à própria
esquerda, do que os de direita. Razão do porque divulgo este
comentário. Só não reproduzo o artigo que o motivou porque não
traz nada de novo, apenas mais do mesmo. Mas disponho adiante das
minhas, outras considerações mais elucidativas.
Para
ser esquerda não precisamos ser estúpidos e é uma evidente
estupidez criticar os lucros de megaeventos promovidos por
instituições capitalistas. Evidentemente uma instituição
capitalista nunca realizará um empreendimento que não tenha como
finalidade o lucro. E a instituição capitalista que promove
megaeventos, consequentemente pretende aferir “megalucros”,
lucros proporcionais às dimensões do empreendimento promovido.
Por
burrice ou ingenuidade, seja qual for o motivo para questionar essa
realidade não mudará a realidade.
A
FIFA já anunciou que a Copa do Mundo de 2018 será na Rússia e a de
2022 no Qatar. Por que a Rússia e o Qatar foram as escolhidas e não
as demais nações concorrentes: Inglaterra, Holanda, Bélgica,
Portugal e Espanha? A resposta é muito simples: lucratividade.
Mas
e a Ucrânia? As indisposições entre Estados Unidos e Rússia por
causa a Ucrânia? Bem... Há aí um evidente desprestígio político
para o capitalismo estadunidense, mas entre a política e o lucro o
capitalismo fica com sua essência ideológica: o lucro. E a FIFA
desde que surgiu sempre foi e continuará sendo uma instituição
capitalista. Não é preciso recontar sua história para tentar
provar o que ninguém ignora ou desacredita.
Mesmo
que resolva destinar parte dos lucros aferidos em uma Copa do Mundo
para o combate à miséria, a FIFA continuará sendo uma instituição
capitalista. Acusá-la pela lucratividade alcançada nos certames
quadrienais que promove há muitas décadas é um discurso vazio e
inútil.
Dada
essa realidade insofismável não é de estranhar ter elegido Rússia
e Qatar para as próximas copas, eliminando as demais proponentes,
pois todas as Copas do Mundo foram feitas para gerar lucros à FIFA
que se nunca realizou o megaevento em países em má condição
financeira, não o fará agora.
Portanto
a escolha da FIFA demonstra que a Rússia vai muito bem
financeiramente e não será arranhada pelos embargos dos Estados
Unidos e da União Europeia por causa da Ucrânia. E também
demonstra que a situação financeira dos embargantes não apresenta
sinais de restabelecimento em médio prazo, até pelo adiantado do
anúncio de onde os jogos serão sediados em 2022.
Disso
tudo se conclui ser burrice da oposição de pretensa esquerda
criticar a realização da Copa do Mundo no Brasil a partir dos
lucros a serem aferidos pela FIFA. Deviam se limitar a fazer
coro às críticas da direita, apesar de que a direita, por
ideologia, não possa apontar os lucros da FIFA como motivo de
oposição à realização da Copa, afinal a direita é capitalista e
também tem no lucro sua essencialidade ideológica.
A
burrice está no fato de que ao criticar o evento pelos lucros da
FIFA, contradizem a eles mesmos quando acusam o governo do PT de
ineficiente. Se no início do governo Lula éramos umas das maiores
dívidas externas mundiais e no decorrer de seu mandato fomos
escolhidos pela FIFA como sede para o evento, evidentemente o governo
Lula foi muito eficiente.
Mas
isso é o de menos! Apenas confirma a insuficiência de raciocínio
da dita esquerda de oposição. O pior é quando afetam a imagem da
verdadeira esquerda brasileira, dando razão aos que acusam a
esquerda em geral de desonesta e oportunista. Ao tentar dar a
impressão de que os lucros da FIFA sejam gerados a partir de
prejuízos ao povo, transmitem a impressão de que toda a esquerda é
mesmo uma grande mentira.
Apesar
de fácil de desmentir, deveriam parar naquela conversa mole da
direita de que os gastos com os estádios onde se realizarão os
jogos são em detrimento de investimentos em saúde ou educação.
Deviam ficar apenas nisso, ainda que a população já tenha
compreendido que esses gastos não são públicos e, embora
financiados pelo BNDES, também não são um presente do Brasil para
a FIFA que os restituirá com juros. Deveriam se limitar ao discurso
empregado pela direita, mesmo com a comprovação de que nenhum outro
governo investiu tanto em educação e saúde quanto se investe
atualmente e do andamento de inúmeras obras de infraestrutura em
locais distantes das capitais que hospedarão os jogos. Além, claro,
do legado de muitas décadas depois aos cidadãos das cidades-sede da
Copa.
Não
por mais honesta, mas por mais esperta ou menos estúpida, a direita
não comete a besteira de tentar sugerir que os lucros da FIFA seriam
aferidos através de prejuízos à população. Desde o primeiro
campeonato mundial de futebol ou da primeira Olimpíada, qual povo
foi prejudicado por estes eventos? O governo de qual país recusou
algum desses eventos baseado em exemplos de prejuízos aos povos em
realizações anteriores?
Ainda
que um ou outro país, por deficiência de suas administrações, não
tenha obtido ou desenvolvido mais positivos e perenes benefícios, em
qual o povo foi lesado? Quando alguém que se reivindica como
esquerda tenta dar essa impressão, evidentemente falaciosa e
especulativa, acaba promovendo a ideia tão explorada pela direita de
que toda a esquerda é desonesta e voltada apenas para os próprios
fins que buscam atingir através de quaisquer meios por mais
falaciosos e inconsequentes sejam.
O
niilismo dos que se confundem como esquerdas depõe muito mais contra
as reais ideologias de esquerda do que todo o discurso da direita. A
direita se compreende, mas o niilista sempre acaba se demonstrando
incapaz e desinteressado em compreender até a si próprio.
Todos
os megaeventos internacionais sempre têm um significado político
muito forte, sobretudo as realizações da Copa do Mundo e das
Olimpíadas. Por exemplo, não dá mais para se considerar a África
do Sul com o mesmo desrespeito com que os especuladores e piratas
internacionais consideram as demais nações africanas. Claro
que a eleição da África do Sul para aquela copa adveio da positiva
projeção internacional de Nelson Mandela, tanto quanto Copa e
Olimpíadas no Brasil advieram da projeção de Luís Ignácio Lula
da Silva, mas estes eventos confirmam uma representatividade
internacional que incomoda a determinados interesses estrangeiros
motivando a utilização da imprensa do hemisfério norte para
explorar ao máximo as deficiências do governo sul-africano no
aproveitamento do legado da Copa realizada naquele país, procurando
transferi-los como uma previsão para o Brasil.
Isso
é compreensível e não é apenas aí, nas realizações dos jogos
da Copa e das Olimpíadas, que os prenúncios da hemisférica
inversão da hegemonia política e econômica têm merecido
acentuados detrimentos pelos porta-vozes das concentrações de
capital. Também se pode entender que a matilha colonizada uive seus
lamentos em resposta aos ladrares de seus alfas do hemisfério norte.
Mas porque alguém que se diz esquerda tenta traçar o mesmo
paralelo imaginário? Será aquele complexo de vira-lata desenvolvido
entre as vítimas da colonização de consciência promovida pela
direita?
Fedem
como cães molhados de chuva, mas se espojam em ideologias para não
se assustarem com a própria natureza que também desconhecem.
Alguns, com a maturidade, acabam se reconhecendo como reais direita,
outros vão continuar se enganando até o fim, em busca de uma
auto-afirmação que nunca chegará porque se tornarem esquerdas de
verdade, pode ter acontecido em alguns casos, mas são bastante
raros.
Talvez
fosse o caso de se perguntar se foram os Jogos Olímpicos de Moscou
que determinaram o fim da União Soviética? Ou se os de Pequim
ofereceram algum risco ao regime chinês? Mas é perda de tempo,
porque niilistas não são capazes de responder nem por eles mesmos.
Os
motivos dos esforços da direita em denegrir o evento são evidentes,
afinal estamos em ano eleitoral. Da reduzida, porem existente real
esquerda de oposição, vi algumas críticas pontuais sobre
determinadas medidas de que descordam, mas nada contra o evento em
si. Inteligente e consequente, mesmo que opondo-se ao governo a
verdadeira esquerda sabe da importância dessa realização para o
povo brasileiro. E respeita o povo brasileiro.
Niilista
não respeita nada e quando não se limitam em apenas repetir os
discursos da direta, conseguem piorá-los.
Muito
se fala que o Brasil tem de apreender com bons sucessos das Copas
anteriores e também com o que é apontado como insuficiente e mal
administrado pela África do Sul. Ainda assim, há ressalvas, como
nesse parágrafo de uma matéria bastante crítica aos resultados da
Copa do Mundo naquele país, publicada no portal do UOL,:
“Pesquisas
feitas após a Copa do Mundo mostram que a imagem da África do Sul
melhorou com o torneio. Mais de oitenta por cento das pessoas que
viram o Mundial afirmaram que visitariam o país...”
Todos
os demais parágrafos criticam acidamente a persistência de diversos
problemas sociais já anteriores ao evento, mas nenhum confere
quaisquer desses problemas ou algum agravamento e surgimento de novos
àquela realização. No entanto, já li outras matérias com
depoimentos de populares sul-africanos comentando grandes benefícios
em seus cotidianos através do legado deixado pela Copa daquele país.
Claro
que a realização de uma Copa do Mundo não resolverá todos os
problemas de uma nação, mas concluo que se toda África do Sul não
pode tirar maiores benefícios, tampouco aquela população foi
prejudicada e ao menos os cidadãos das cidades que sediaram os jogos
usufruem de melhorias no que antes já existia e com a implantação
de novos serviços anteriormente inexistentes.
Utilizar
a África do Sul como exemplo para o que possa acontecer com a Copa
no Brasil demonstra claramente a inconsequência dos niilistas. E os
mesmos preconceitos daqueles que acreditam que só os países do
hemisfério norte tem capacidade para grandes empreendimentos.
Nessa
linha de ausência de raciocínio dos colonizados pretensamente de
esquerda, nenhum outro país se interessaria em Olímpiadas depois da
de Munique em 1972, para não correr o risco de atentados
terroristas. Sempre arrojados ao lucro, aos menos nessa esparrela os
da direita não caem.
Também
vale lembrar que nunca tantas cidades de um único país foram
programadas para os jogos da Copa, com consequente implantação de
melhorias nos mais diversos setores de serviços prestados às
populações. Além de que, do Rio Grande do Sul ao Amazonas, ou do
Maracanã à Arena Pantanal há uma distância que certamente os
niilistas jamais poderiam dimensionar, já que não se dimensionam
nem a si mesmos e por mais aproximados à direita, acreditem-se no
extremo oposto.
Pode
ser, considerando que o extremo oposto do ponto de um círculo fica
ao lado. E isso é vicioso.