Uma Nova Colômbia, sim, é possível
Neste
ciclo curto de conversações desenvolvido em Havana, delineamos
a rota dos debates próximos em torno de um tema decisivo para a paz,
que é o das vítimas do conflito social e armado, pelo qual
dolorosamente a Colômbia transitou nas últimas décadas.
Na
prática, estamos dando os primeiros passos num terreno empestado de
dificuldades, de enormes incompreensões nascidas da ignorância da
história, da origem, das causas, desenvolvimentos e atores
envolvidos no mais longo conflito interno do continente.
Temos
nos compenetrado com a ideia de que na vanguarda deste nobre empenho
coletivo deve tremular ao vento a bandeira da verdade. Deixemos que
ela nos fale com sua própria voz e nos conduza com sua própria mão
ao destino de paz, de justiça social, democracia e independência,
que nos espera desde os tempos de Bolívar.
Sentimos
que, cada vez [mais], estamos mais perto do cimo, do monte Everest
dos direitos, que é a paz, sem a qual nenhum outro direito será
possível. Por isso, a ela os colombianos devemos consagrar todos os
nossos esforços para abraçá-la e fazer com que marche conosco
durante os séculos futuros. Com razão dizia o Libertador que a
insurreição se anuncia com o espírito de paz; resiste ao
despotismo porque este destrói a paz e não toma as armas senão
para obrigar os seus inimigos à paz. E já começa a ver-se uma luz
no fim do túnel.
Sem
verdade, não há paz. Sem que emirja o humano sentimento da
compreensão e do perdão, não há paz. Há que desterrar dos
corações a vingança e o ódio, a maldita exclusão e a
intolerância para que haja paz. Deve-se entender que ninguém
escriturou o poder do Estado a umas elites minoritárias para que
defendam com violência seus indignantes privilégios. Que a única
saída a este conflito é política, não exclusivamente jurídica
nem militar, como pensam desde sua intransigência hirsuta os que se
creem amos e senhores do poder. Necessitamos que haja democracia
verdadeira, participação cidadã na articulação dos assuntos
estratégicos da nação.
Se
examinamos desapaixonadamente as causas e a origem do conflito social
e armado, poderemos encontrar mais facilmente o caminho que conduz à
superação definitiva do mesmo. Talvez a verdade produza em certos
funcionários do Estado, e num punhado de oligarcas egoístas, certo
tremor e medo, porque desconhecem que a reconciliação é
consequência de magnanimidade.
Sim;
as vítimas são vítimas do conflito, e o Estado é o máximo
responsável por ação ou por omissão. Essa é a verdade e, como
diz o Libertador, a verdade pura e limpa é a melhor maneira de
persuadir. Ela não se oculta com artifícios nem campanhas
midiáticas que encaminham a responsabilidade para a rebeldia e a
inconformidade social. Porém, o indiscutível desta realidade
encontra redenção no propósito de retificação. A paz está
primeiro que tudo e ela sabe perdoar. Sabemos do respaldo e da
disposição das vítimas e seus familiares a facilitar o acordo de
paz.
As
vítimas não são somente as da confrontação armada e dos erros da
guerra; as políticas econômicas e sociais são as piores vitimarias
porque elas têm causado a maioria das mortes na Colômbia, ao negar
direitos humanos fundamentais como o direito à vida digna, à
alimentação, ao emprego, à educação, à moradia, à saúde, à
terra, à participação política, ao bem viver, quando se dispõe
de riquezas naturais suficientes para resolver nossa problemática
social.
A
Colômbia não pode continuar ostentando o desonroso título de
terceiro país mais desigual do mundo.
O
esclarecimento da verdade da história do conflito, a identificação
de seus responsáveis, a retificação e o fervoroso anseio de
reconciliação nacional assinalam a via que haverá de conduzir-nos
à paz com justiça social.
A
atual corrida eleitoral pela Presidência da República tem sido uma
das mais vergonhosas da história do país porque o guerreirismo quer
impor-se a todo custo, com trapaças e mentiras, e com uma taciturna
guerra suja que põe a ênfase no falatório e no boato e não na
solução dos graves problemas nacionais que atiçam o conflito.
Por
obra e graça de sua campanha infernal, estão movendo o sentimento
de alguns militares ingênuos, aos quais lhes têm feito crer que em
Havana já se negociou ou combinou em torno do papel das forças
militares e de polícia num cenário de pós conflito. Em honra à
verdade, a esse ponto não chegamos. O que ocorre é que alguns
intransigentes se incomodam quando falamos de nossa visão de país
contida nos lineamentos gerais para um processo constituinte aberto
para a transição para a Nova Colômbia, nos quais, a propósito das
Forças Armadas, propomos a reconversão das Forças Militares para
uma força para a construção da paz, da reconciliação e da
proteção da soberania nacional.
Que de
mal tem isto? Na proposta só há paz e patriotismo. Não entendemos
por que alguns saem com bravatas e a falar de entrega de armas, sem
ter chegado ainda à discussão do ponto 3 de Agenda.
E por
ali andam outros personagens que considerávamos bem informados
replicando falsidades como aquela de que o ex-ministro Álvaro Leyva
Durán, um homem que dedicou grande parte de sua vida à busca da paz
para a Colômbia, transita por Havana promovendo as loucuras que se
lhe ocorrem a uma campanha. E o mais grave e decepcionante é que
acreditam e protestem, como acaba de fazê-lo o presidente do
Congresso. O senhor Leyva não tem feito outra coisa diferente nas
agitações dos últimos dias de campanha do que gerar ideias para
blindar este processo de paz e nos consta que sua preocupação é
que a marcha da Colômbia para a paz se torne irreversível.
É
hora de pôr fim a essa fanfarronice manipuladora de um suposto
“castro-chavismo” inventado por uns loucos que não querem a
reconciliação nem a paz de Colômbia e que sonham em converter-se
em sipaios da desestabilização da região, quando Nuestra América
tem que ser um território de paz.
A paz
é mais poderosa que a guerra e tem que vencer. Permitam-nos
agradecer o clamoroso apoio mundial à paz da Colômbia. Estimula os
esforços de solução política do conflito o respaldo ao processo
de paz de organismos multilaterais como Nações Unidas, a União
Europeia, a CELAC, UNASUL, OEA, o respaldo solidário de parlamentos
de Europa, América do Norte e Reino Unido, o Vaticano, e muitas
organizações sociais de todo o mundo, governos, prêmios Nobel,
poetas, acadêmicos, artistas, e uma longa lista de militantes da paz
e jornais como The
Economist e
The
Guardian.
Muito obrigado a Cuba e Noruega, países garantidores. Muito obrigado
a Venezuela e Chile, países acompanhantes. Muito obrigado,
compatriotas. Com o respaldo do mundo e o concurso cidadão, a paz
terá que ser uma realidade na Colômbia.
A
nossos compatriotas, lhes convidamos a construir, mediante a unidade,
e a convergência multitudinária da esperança, uma alternativa de
poder que, mediante a ação política das maiorias excluídas, do
povo e suas organizações, se trace a tarefa de chegar a ser
governo. Um novo país é possível se somamos vontades em torno dos
seguintes propósitos:
Ø Democratização
real e participação na vida social.
Ø Reestruturação
democrática do Estado.
Ø Desmilitarização
da vida social.
Ø Desmonte
dos poderes mafiosos e das estruturas narco-paramilitares.
Ø Justiça
para a paz e a materialização dos direitos das vítimas do
conflito.
Ø Desprivatização
e desmercantilização das relações econômico-sociais.
Ø Recuperação
da riqueza natural e reapropriação social dos bens comuns.
Ø Reorganização
democrática dos territórios urbanos e rurais.
Ø Novo
modelo econômico e instrumentos da direção da economia para o
bem-estar e o bem viver.
Ø Restabelecimento
da soberania e integración em Nuestra América.
A
Colômbia reclama paz com justiça social, democracia verdadeira e
soberania. E isto não é terrorismo, como equivocadamente,
certamente influenciado pela Doutrina da Segurança Nacional, pensa o
Brigadeiro General Canal Albán.
Se
algo deve ficar claro nesta conjuntura, é que as FARC não têm
candidato e que a alternativa que apresentou ao país é a do
processo constituinte aberto para a transição para a Nova Colômbia.
A unidade do movimento social e popular vai mais além de qualquer
conjuntura eleitoral.
DELEGAÇÃO
DE PAZ DAS FARC-EP