"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


domingo, 29 de junho de 2014

FARC: “Soluções são políticas, não jurídicas”


As FARC recolhem propostas em torno dos temas que ainda estão por se discutir. Ratificam a importância de ter firmado a Declaração de Princípios. Esclarecer a origem do conflito e suas causas será um pilar para levar a bom termo um acordo. “Não negociamos impunidades”.

Carlos A. Lozano Guillén
Enviado especial

A Delegação da Paz das FARC-EP está preparando o arsenal de propostas para os temas que restam na discussão da mesa de Havana, que na hora da verdade equivalem à metade da agenda combinada no “Acordo Geral para a terminação do conflito e a construção da paz estável e duradoura”.

Seus integrantes estão em acampamento de primeiro grau, ainda que, isso sim, não lhes tiram a atenção das partidas do Mundial de Futebol no Brasil. Enquanto conversávamos com Iván Márquez e Ricardo Téllez, no passado sábado 21 de junho, na “Casa de Piedra”, escritório da Delegação de Paz, não perdiam de vista o jogo entre Argentina e Irã, em que, ao final, em tempo adicional, ganhou a forte equipe sul-americana pela mínima diferença. Deu a impressão de que Márquez e Téllez vacilavam entre apoiar ao irmão latino-americano ou ao mais fraco, neste caso o Irã, um país com um governo que resiste ao império gringo.
Estamos trabalhando em várias opiniões e propostas, não só sobre o tema das vítimas como também sobre os três que restam”, anuncia Iván Márquez, chefe da Delegação de Paz das FARC-EP. Uma comissão técnica trabalhará sobre o “fim do conflito” e continua o debate de como blindar os acordos parciais para preservá-los. “Nisto jogará um papel fundamental o bloco de constitucionalidade à luz dos tratados especiais, consagrado na Constituição Política”, diz Márquez.

No momento da conversação não se conhecia a data do reinício da rodada sobre vítimas. “Nos disseram que a delegação do Governo chegará em 23 de junho, porém não sabemos nada de concreto”.

Porém, estamos preparados para começar”, estabeleceram. O ponto de partida é a designação da Comissão de Esclarecimento da Origem do Conflito. Para as FARC-EP é fundamental, porque é a única maneira de estabelecer quando começou, sob que causas, quais foram suas incidências, quem são as vítimas e, consequentemente, estabelecer as responsabilidades.

Não negociamos impunidades”


Para Iván Márquez, “não viemos para negociar impunidades, porque este é um problema político e não jurídico”. Daí a importância que dão à comissão acordada na Declaração de Princípios. Deve ser uma só comissão, poderão ser 12 integrantes, a metade proposta pelo Governo e a outra metade pelas FARC, sob a condição de que sejam acadêmicos reputados, de idoneidade moral e conhecedores do tema. Terão que apresentar um só informe que ajude a esclarecer a origem do conflito e as causas do mesmo.


Lhes perguntamos como fica o processo depois das eleições presidenciais e asseguram que a maioria do país, numas eleições em que a metade dos cidadãos não participou, respaldou a paz com mudanças democráticas e reformas políticas e sociais. Do ponto de vista deles, não avalizou o projeto de Zuluaga, porém tampouco o de Santos. “O país quer uma paz inclusiva, com ampla participação dos colombianos”, dizem.


Preveem um maior respaldo nacional e internacional pela paz em Colômbia. Virá em breve um pronunciamento muito claro e concreto do Vaticano, disseram, sem dar mais detalhes. Porém, que haverá, haverá. O resultado das urnas, no [nível] nacional, compromete as duas partes, não só a guerrilha, como pretendem dizer desde o lado governamental e de alguns meios de comunicação.


Blindar acordos parciais


É necessário blindar os acordos parciais. Devem ser elevados a acordos especiais. É a maneira de salvá-los e de que tenham ação imediata, porque a democratização da vida nacional não depende exclusivamente dos resultados e esforços de Havana. É a voz de consagrados juristas nacionais e internacionais que se pronunciam e ajudam nesta direção.


Advertem que as liberdades e o fortalecimento político democrático não dependem do acordo final, são parte do conceito global do pluralismo ideológico e das garantias para a participação política em pé de igualdade. Se algo demonstraram os comícios eleitorais de corporações públicas e presidenciais, são os enormes vazios do regime eleitoral, campeiam a fraude, a compra-e-venda de votos, o uso da máquina pública e o “vale-tudo” dos partidos do estabelecimento, sem excluir a Unidade Nacional e o uribismo.


Para Márquez, o anterior é forçado, é o que se depreende dos resultados eleitorais e do clamor pela paz com democracia e justiça social. “O governo não pode ser incoerente”, porque não lhes avalizaram a vacilação e as concessões aos inimigos da paz, assinala. Para as FARC-EP, hoje está mais perto do que antes o acordo final, porém falta um longo caminho para percorrer.


O Acordo de Princípios sobre Vítimas é importante. Também, é chave a participação das organizações humanitárias e, a composição da Comissão de Esclarecimento. Por aí é necessário começar, porque de suas conclusões sairão as etapas históricas inequívocas de como abordar o tema. Porém, o que está muito claro é a pretensão do estabelecimento, de impedir que na Mesa de Conversações seja tratado em profundidade o Ponto da Agenda sobre as Vítimas. Sem dúvida, esse ponto é um tema de singular importância para entender e visibilizar as causas da violência e do levantamento armado da insurgência. Infelizmente, o governo conta com a ajuda de umas supostas “organizações de vítimas”, de aproveitadores e negociantes da tragédia do conflito.


O tema militar


Ainda que Márquez e Téllez prefiram ser discretos devido à confidencialidade de certas discussões, não ocultam a preocupação pelas tranqueiras do Governo Nacional ao debate de temas transcendentais, como a reforma das Forças Militares. Para ninguém é um segredo o alto grau de decomposição interna de que padecem e de seus vínculos com a guerra suja contra a esquerda e as organizações sociais e populares. Não é casual que membros ativos dos estamentos militares e de polícia tenham apoiado de forma aberta o candidato da guerra, Óscar Iván Zuluaga.


Disse Pablo Catatumbo ao jornalista Alfredo Molano Jimeno em El Espectador do passado domingo 22 de junho:


[...] ainda há fortes setores militaristas dentro da oficialidade, fortalecidos e influenciados pelo pensamento fascista que Uribe representa. São estes os que se opuseram e se opõem fervorosamente à busca de uma solução política ao conflito, antepondo seus interesses pessoais aos interesses da Nação. Porém, essa opção é a que, pouco a pouco, tem sido derrotada pela opinião nacional que se inclina pela paz”.


Não é possível a paz com umas Forças Armadas manejadas por este tipo de inimigos dela. É o cúmulo, por exemplo, que na sede de Acore –do qual há fotos- se reúnam grupos neonazistas, que realizem atos públicos a favor do fascismo, que destruam murais emblemáticos em homenagem às vítimas, e por parte do Governo ninguém diga nada”.