"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 10 de junho de 2014

Crime sem castigo


Por Daniel Coronel

O coronel González del Río foi protagonista dos falsos positivos e de numerosos casos de corrupção no estamento militar. Seu depoimento pode acabar com muitos anos de impunidade.


Um terremoto judicial estremecerá a Colômbia nas próximas semanas. O coronel Róbinson González del Río iniciou um processo de colaboração com a Justiça que afetará a antigos membros da cúpula militar, a empresários vinculados com ações de grupos delinquentes e ao irmão do ex-presidente Álvaro Uribe Vélez.


Há apenas duas semanas, o coronel González del Río foi transferido da prisão Picota para o bunker da promotoria. O movimento se efetuou em minutos e sem aviso prévio. A operação foi feita para preservar a vida de quem talvez seja a testemunha determinante para reconstruir um dos capítulos mais sangrentos na história da Colômbia.


O que não se sabia é que González del Río ofereceu confessar e colaborar com a Justiça para esclarecer mais de 200 assassinatos cometidos sob o nome de ‘falsos positivos’. O coronel reformado afirma que ele mesmo participou na execução de mais de 150 homicídios de civis apresentados como guerrilheiros e na manipulação dos corpos e nas cenas dos crimes para disfarçar cadáveres e circunstâncias.


Segundo seu depoimento, pelo menos seis proeminentes generais –incluindo dois da primeira linha de comando- conheciam os numerosos crimes que se executaram nos anos da segurança democrática para favorecer com baixas os resultados dessa exitosa política.


Em outras palavras, o depoimento de González del Río é fundamental para provar que os chamados ‘falsos positivos’ não sucederam como fatos isolados, senão que foram parte de uma política de Estado.


González também revelou importantes conexões de pecuaristas, dirigentes gremiais e empresários com os esquadrões da morte paramilitares.


Um dos acusados pelo coronel é o rico fazendeiro Santiago Uribe Vélez, cujo processo por sua suposta vinculação com o grupo criminal dos Doze apóstolos marcha em câmara lenta e ao ritmo das pressões públicas de seu poderoso irmão, o ex-presidente Álvaro Uribe Vélez. Cada avanço no caso antecedeu trinados e demonstrações de força para impedir, ou pelo menos atrasar, a ação da Justiça.


As declarações do coronel González del Río não fazem alusão a esses fatos, suficientemente documentados no processo que ganha poeira na Promotoria. O que diz a nova testemunha é que muito mais recentemente –em 2008- houve reuniões entre o ladrão Santiago Uribe Vélez e supostos membros de grupos paramilitares.


Tenho em meu poder uma nota assinada pelo detido coronel na qual afirma que o senhor Santiago Uribe Vélez promoveu reuniões em sua fazenda com os supostos paramilitares que operavam na zona de Puerto Valdivia. (Ver nota)


O coronel González del Río me disse que esteve na área prestando segurança enquanto se desenvolviam as reuniões e que ocorreram quando ele atuava como comandante do grupo Gaula de Antioquia, adscrito à Quarta Brigada, do Exército em Medellín.


Nesse mesmo período, era comandante da Quarta Brigada o general Juan Pablo Rodríguez Barragán, atual comandante geral das Forças Militares. Vale dizer, o militar ativo de maior escalão na Colômbia.


Em sua nota, o coronel González del Río assegura que há evidências das reuniões de Santiago Uribe que vão mais além de seu depoimento: “Tenho provas disso e testemunhas que apresentarei ante a Promotoria”.  (Ver nota)


Destes e outros temas –todos muito graves- falou o coronel Róbinson González del Río com o jornalista Juan Carlos Giraldo, do Canal RCN. A entrevista será publicada nos próximos dias. 


González del Río foi protagonista dos ‘falsos positivos’ e de numerosos atos de corrupção no estamento militar, incluindo seus esplêndidos cárceres, que são muito mais centros de negócios e privilégios. Seu depoimento pode acabar com muitos anos de impunidade.


PS: Lhes recomendo o excelente livro de investigação Os cavalos da cocaína [Los caballos de la cocaína] da jornalista Martha Soto.


Algo mais: Nas contas da campanha do candidato Óscar Iván Zuluaga figuram três pagamentos efetuados a Luis Carlos Sepúlveda que somam 249 milhões de pesos. O senhor Sepúlveda é o irmão do capturado hacker Andrés Sepúlveda. (Ver contas)


Fonte: Revista Semana