Crime sem castigo
Por
Daniel Coronel
O coronel González del Río foi protagonista dos falsos positivos e de numerosos casos de corrupção no estamento militar. Seu depoimento pode acabar com muitos anos de impunidade.
Um
terremoto judicial estremecerá a Colômbia nas próximas semanas. O
coronel Róbinson González del Río iniciou um processo de
colaboração com a Justiça que afetará a antigos membros da cúpula
militar, a empresários vinculados com ações de grupos delinquentes
e ao irmão do ex-presidente Álvaro Uribe Vélez.
Há
apenas duas semanas, o coronel González del Río foi transferido da
prisão Picota para o bunker da promotoria. O movimento se efetuou em
minutos e sem aviso prévio. A operação foi feita para preservar a
vida de quem talvez seja a testemunha determinante para reconstruir
um dos capítulos mais sangrentos na história da Colômbia.
O que
não se sabia é que González del Río ofereceu confessar e
colaborar com a Justiça para esclarecer mais de 200 assassinatos
cometidos sob o nome de ‘falsos positivos’. O coronel reformado
afirma que ele mesmo participou na execução de mais de 150
homicídios de civis apresentados como guerrilheiros e na manipulação
dos corpos e nas cenas dos crimes para disfarçar cadáveres e
circunstâncias.
Segundo
seu depoimento, pelo menos seis proeminentes generais –incluindo
dois da primeira linha de comando- conheciam os numerosos crimes que
se executaram nos anos da segurança democrática para favorecer com
baixas os resultados dessa exitosa política.
Em
outras palavras, o depoimento de González del Río é fundamental
para provar que os chamados ‘falsos positivos’ não sucederam
como fatos isolados, senão que foram parte de uma política de
Estado.
González
também revelou importantes conexões de pecuaristas, dirigentes
gremiais e empresários com os esquadrões da morte paramilitares.
Um dos
acusados pelo coronel é o rico fazendeiro Santiago Uribe Vélez,
cujo processo por sua suposta vinculação com o grupo criminal dos
Doze
apóstolos
marcha em câmara lenta e ao ritmo das pressões públicas de seu
poderoso irmão, o ex-presidente Álvaro Uribe Vélez. Cada avanço
no caso antecedeu trinados e demonstrações de força para impedir,
ou pelo menos atrasar, a ação da Justiça.
As
declarações do coronel González del Río não fazem alusão a
esses fatos, suficientemente documentados no processo que ganha
poeira na Promotoria. O que diz a nova testemunha é que muito mais
recentemente –em 2008- houve reuniões entre o ladrão Santiago
Uribe Vélez e supostos membros de grupos paramilitares.
Tenho
em meu poder uma nota assinada pelo detido coronel na qual afirma que
o senhor Santiago Uribe Vélez promoveu reuniões em sua fazenda com
os supostos paramilitares que operavam na zona de Puerto Valdivia.
(Ver
nota)
O
coronel González del Río me disse que esteve na área prestando
segurança enquanto se desenvolviam as reuniões e que ocorreram
quando ele atuava como comandante do grupo Gaula de Antioquia,
adscrito à Quarta Brigada, do Exército em Medellín.
Nesse
mesmo período, era comandante da Quarta Brigada o general Juan Pablo
Rodríguez Barragán, atual comandante geral das Forças Militares.
Vale dizer, o militar ativo de maior escalão na Colômbia.
Em sua
nota, o coronel González del Río assegura que há evidências das
reuniões de Santiago Uribe que vão mais além de seu depoimento:
“Tenho provas disso e testemunhas que apresentarei ante a
Promotoria”. (Ver
nota)
Destes
e outros temas –todos muito graves- falou o coronel Róbinson
González del Río com o jornalista Juan Carlos Giraldo, do Canal
RCN. A entrevista será publicada nos próximos dias.
González
del Río foi protagonista dos ‘falsos positivos’ e de numerosos
atos de corrupção no estamento militar, incluindo seus esplêndidos
cárceres, que são muito mais centros de negócios e privilégios.
Seu depoimento pode acabar com muitos anos de impunidade.
PS:
Lhes recomendo o excelente livro de investigação Os
cavalos da cocaína [Los
caballos de la cocaína] da jornalista Martha Soto.
Algo
mais: Nas contas da campanha do candidato Óscar Iván Zuluaga
figuram três pagamentos efetuados a Luis Carlos Sepúlveda que somam
249 milhões de pesos. O senhor Sepúlveda é o irmão do capturado
hacker Andrés Sepúlveda. (Ver
contas)
Fonte:
Revista Semana