A transcendência da Comissão Histórica
Não
somos um povo sem história. O que ocorre é que há setores
interessados que a querem apagar e desaparecer, porque têm medo da
verdade histórica, a seu veredito inapelável. A violência em
Colômbia tem alguns responsáveis, muito maiores que a Catedral
Primada. Impossível que possam passar ao largo.
Temos
uma história de resistência à opressão que enche de orgulho o
peito nacional, que vem desde a Gaitana, Benkos Biohó, José Antonio
Galán, Nariño e a Pola, que tem a ver com a rebeldia de Gaitán, do
padre Camilo, de Pardo Leal, de Marulanda Vélez e de todos os que no
presente levantam as bandeiras da Nova Colômbia.
Tal
como se expôs no comunicado conjunto de Havana, datado de 5 de
agosto de 2014, “O
informe da Comissão deverá ser o insumo fundamental para a
compreensão das complexidades do conflito e das responsabilidades
dos que tenham participado ou tido incidência no mesmo e para
esclarecimento da verdade”. Esta
essência não se perdeu, senão que a querem desaparecer.
Não
é que o informe da Comissão Histórica seja vazio, senão que há
fatores de poder empenhados em fazê-lo insubstancial. Os relatos
históricos contidos na contribuição
ao entendimento do conflito armado em Colômbia apontam
o Estado como máximo responsável, por ação ou omissão –que é
o que pretendem ocultar-, porém, ao mesmo tempo, assinalam uma via
livre à possibilidade de uma solução própria, sem interferências,
e com uma perspectiva necessária e imperativa de criar um novo
paradigma para a reconciliação da vida colombiana.
Múltiplas
circunstâncias não permitiram que o mundo se desse conta do
ocorrido em Colômbia durante décadas. Só o narcotráfico nos
colocou no mapa, porém, até o momento de sua aparição, centenas
de milhares de compatriotas haviam caído mortos, a maior parte por
conta do Estado e da guerra fria. E, desde há muitos anos, terceiros
Estados têm prestado ajuda militar a países violadores do DIH como
o nosso.
Não
podemos aceitar que, por fora de contexto ou por combinação
midiática, se nos tome como supremos responsáveis, sob a incitação
dos inspiradores do paramilitarismo de Estado e dos verdadeiros
determinadores do turbilhão violento que tem açoitado ao país.
Contra nossos apoios e simpatizantes, e contra gente que nada tinha a
ver com nós outros, se aplicou a concepção do inimigo interno, e
por isso se lhes destroçou com motosserras, se lhes incinerou em
fornos crematórios, outros foram jogados aos rios, a fossas comuns
ou despojados violentamente de suas terras, milhões foram vitimados
pela política neoliberal, movimentos alternativos de esquerda foram
exterminados, e em época mais recente milhares de jovens
desempregados caíram assassinados na cilada dos “falsos positivos”
iniciados pela Segurança Democrática.
Urge
a avaliação imediata na Mesa dos resultados do informe da Comissão
Histórica do Conflito e suas Vítimas, e sua publicação massiva,
para que o sol da verdade ilumine e ajude a cicatrizar as feridas da
Colômbia.
Quem
firmou a Diretiva 029 do Ministério de Defesa que desatou os crimes
de lesa-humanidade, denominados “falsos positivos”? Quem era o
presidente e quem seu ministro de Defesa? Que se abram os arquivos.
La
Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 4 de maio de 2015
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Equipe
ANNCOL - Brasil