"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 1 de maio de 2015

COLÔMBIA: O MAIOR OBSTÁCULO PARA UM ACORDO DE PAZ É O INTERESSE GEOESTRATÉGICO DOS EUA

Em 2001, o doutor e antropólogo Alberto Pinzón Sánchez formou parte de uma comissão encarregada de assentar as bases para uns acordos de paz entre a guerrilha das FARC e o governo de Andrés Pastrana. Uma década depois, os atuais diálogos em Havana parecem oferecer a esperança de pôr termo ao conflito armado mais longo na América Latina.

Que riscos continuam estando presentes no processo de resolução do conflito? Atualmente exilado na Europa, Alberto Pinzón Sánchez nos ajuda a entender o que está em jogo em Havana através de um olhar pleno de compromisso pelo futuro de seu país.
Alex Anfruns: Em 2001, sua nomeação para uma comissão com o nobre objetivo de assentar as bases para os diálogos de paz em San Vicente del Caguán e resolver o conflito em Colômbia terminaram lhe valendo a perseguição política e o exílio. Você pode explicar-nos que pretexto se utilizou com essa finalidade?

Alberto Pinzón Sanchez:
Sim. Obrigado por colocar-me em contato com teus leitores e permitir-me informar em primeira mão sobre o acontecido: Como é sabido, a comissão de 4 membros nomeada pela mesa do Caguán esteve integrada pelo magistrado Vladimiro Naranjo, pela dona do jornal El Colombiano de Medellín, pelo diretor do diário alternativo Voz Carlos Lozano e eu; tínhamos a missão de formular recomendações para diminuir a intensidade do conflito e para terminar o fenômeno do paramilitarismo, que nesse momento e como parte oficial integrante do Plan Colômbia vinha promovendo uma ofensiva político-midiática e de terror para cooptar definitivamente a totalidade do Estado.
Efetivamente, é o que sucedeu um ano depois com a chegada de Uribe Vélez à presidência da Colômbia. Obviamente, nossas recomendações, as quais hoje, depois de 14 anos, encontro totalmente vigentes, não agradaram ao Bloco de Poder Contra Insurgente Dominante em Colômbia que havia proposto os diálogos de paz do Caguán como uma tomada de ar político para promover o rearmamento militar do exército e da polícia da Colômbia, contemplado no Plan Colômbia, o qual foi aprovado entre Clinton e Pastrana em 1997, um ano antes do início dos diálogos de paz. Olhando isto hoje, se pode dizer que, à luz do Direito Internacional Humanitário, foi uma violação que o governo Pastrana fez, chamada “perfídia”. Então, o chefe máximo dos Paramilitares Carlos Castaño iniciou uma ofensiva midiática para deslegitimar a comissão em seu conjunto em especial, como ameaçou na página 312 de seu libro “Mi confesión” [“Minha confissão”] contra mim por considerar-me “um porta-voz do Comandante Alfonso Cano”. Às ameaças pela internet, seguiram tentativas reais de acabar com minha vida e me obrigaram a exilar-me na Europa em busca de refúgio, onde me encontro há 13 anos sem poder regressar ao meu lar em Colômbia.
Pode-se constatar que a repressão de caráter político que dura há décadas em Colômbia não só continua se produzindo como também evoluiu para formas de castigo preventivo, conduzindo a um elevado número de prisioneiros políticos, ao caso extremo dos “falsos positivos” e ao descobrimento de numerosas fossas comuns. Os perigos que espreitam ao povo colombiano continuam sendo, portanto, consideráveis. Que passos considera você que sejam chaves no desmantelamento da impunidade judicial?
Sim, as cifras de 70 anos do chamado conflito interno colombiano, que não é outra coisa senão uma “guerra suja contra insurgente promovida pelo Bloco de Poder Contra Insurgente Dominante em Colômbia” [BPCID] são aterradoras: Mais de um milhão de mortos, a maioria deles fuzilados pelo aparato repressivo do regime. Mais de 4 milhões de deslocados internos, aos quais se lhes arrebatou 5 milhões de hectares de terra cultivável. Uma expulsão de mais 5 milhões de imigrantes econômicos e exilados políticos em diversos países do mundo e que o regime chama piedosamente de “a diáspora colombiana”.
O extermínio de 5.000 quadros políticos do partido de Esquerda União Patriótica. Cerca de 2.000 casos dos chamados “falsos positivos” causados pelo exército colombiano e que é a forma mais inumana e cruel da luta de classes conhecida no mundo. E de momento 90 mortos assassinados do Movimento Social e Político, em especial da Marcha Patriótica; e que conste que não mencionamos nem aos professores, nem aos sindicalistas, nem aos líderes comunitários, nem aos mendigos, nem dependentes de drogas, nem os transformistas sexuais etc., vítimas invisíveis do que em Colômbia se chama da “limpeza social de descartáveis”. Acrescentemos a estas cifras macabras 9.500 presos políticos que estão apodrecendo amontoados nas masmorras do regime.
Obviamente, tudo isto tem sido possível pela impunidade judicial que em Colômbia alcança a aberrante cifra de 97%. Este é a voo de pássaro o macabro inferno do Terror do Estado, chamado eufemisticamente pelo regime de “conflito colombiano’.
Se temos em conta a longa história do conflito, assim como as consequências paradoxais porém significativas de sua própria experiência pessoal, pareceria precipitado sacar conclusões esperançosas. Qual é a responsabilidade do governo acerca do fenômeno do paramilitarismo? e quais são os principais interesses que estão em jogo, cujo peso tenha influído historicamente de maneira mais decisiva no bloqueio de uma solução pacífica?
O paramilitarismo é uma roda dentada a mais da grande e terrorífica máquina repressiva punitiva e de disciplinamento social que se chama Bloco de Poder Contra Insurgente Dominante em Colômbia [BPCID] construído há cerca de 70 anos e que tem várias rodas dentadas mais, como por exemplo:
1 – O exército e a polícia ou Força Pública.
2 – As companhias multinacionais como Chiquita, Drummond, Coca Cola, Oxy, BP, Repsol e outras multinacionais mineiro-energéticas.
3 – As bases militares dos EUA onde operam militares e agentes de inteligência “oficiais” estadunidenses, junto com “intermediários privados de mercenários” como a DynCorp.
4 – Os chamados grupos econômicos dos cacaus, como o grupo Bavaria, grupo Ardila Lulle, grupo Sarmiento Angulo, Grupo Antioquenho.
5 – As associações gremiais como Fedegán, Sac, Augura, Andi, Fedemetal, Fenalco, Asobancaria agrupados no “conselho gremial nacional”.
6 – O chamado Estado Nacional através de suas três ramificações: a esfera executiva, a esfera legislativa ou parapolítica e a esfera judicial encarregada de produzir a impunidade e a judicialização a que nos referimos anteriormente.
7 – O oligopólio dos meios de comunicação da família Santos e dos grupos espanhóis Prisa e Planeta.
8 – Os Narcotraficantes e lavadores de dólares a nível nacional, regional e local.
9 – As classes subalternas como pequenos comerciantes, empregados, jornalistas, profissionais independentes, médios proprietários, transportadores, desempregados, comerciantes informais e lumpens, que se submeteram ou foram cooptados.
10 – A casta política ou parapolítica com todas as suas imbricações regionais e locais. Todo este Bloco dominante é coordenado e dirigido pela fração hegemônica da oligarquia que agora mesmo se encontra numa aguda disputa de frações entre Santos e Uribe por sua supremacia.
Em resumo, o principal obstáculo é o interesse Geo-Estratégico que os EUA têm sobre a Colômbia e a área do Caribe. Depois lhe seguem os interesses concretos de cada uma das rodas dentadas do Bloco do Poder Contra Insurgente [BPCI] do qual formam parte essencial os EUA.
Que condições pensa que devam ser respeitadas para que a guerrilha das FARC, após decidir por uma trégua unilateral, tenha oportunidades para sua reconversão como oposição política no jogo democrático?
Creio que a questão não é armas por política, mas sim armas por reformas básicas. Agora bem, todos estes detalhes parece que são as curvas do acordo que se está construindo em Havana.
Que mecanismos considera que permitiriam tomar um maior protagonismo ao povo colombiano, fazendo prevalecer os interesses da maioria acima dos da oligarquia?
Sem dúvida alguma, a mais ampla e democrática participação popular que se concentraria numa Assembleia Nacional Constituinte.
Segundo seu ponto de vista, que fases deveriam ser privilegiadas doravante na consolidação de um processo de paz justo e duradouro?
Primeiro, uma trégua bilateral com a criação de um clima favorável e democrático de verdadeira discussão popular sobre as reformas básicas que o povo trabalhador colombiano necessita e quer, para depois desembocar na Assembleia Nacional Constituinte.


Fonte: Diario de Nuestra América, Investig’Action


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Equipe ANNCOL - Brasil