O destino da Colômbia não pode ser o da guerra
“Houve
um número de combatentes dispostos a dar tudo pela causa
revolucionária,
e
por isso Marquetalia se cresceu na resistência e assentou as bases
políticas, militares
e
morais do que seriam um pouco mais tarde as FARC”. Jacobo
Arenas.
No
último 21 de maio o presidente Juan Manuel Santos deu a orden de
bombardear um acampamento da 29ª Frente das FARC-EP em Guapi.
O
resultado desta ordem, executada com uso excessivo da força, foi um
massacre. Morreram 27 guerrilheiros, a maioria por efeito das bombas
e, segundo depoimento dos sobreviventes, vários feridos foram
liquidados com tiros de misericórdia pela tropa oficial quando
reclamavam auxílio.
O
presidente sabe muito bem, e sobretudo depois do sucedido com nosso
comandante Alfonso Cano, que não se pode matar a ninguém em estado
de indefensabilidade, nem a combatentes prisioneiros, porque se
incorre em crime de guerra, conduta proscrita pelo Direito
Internacional Humanitário e pelo Direito Penal Internacional.
Em
meio ao luto que nos invade, informamos ao país e ao mundo que o
companheiro Jairo Martínez, integrante da Delegação de Paz das
FARC-EP em Havana, quem estava em missão de Pedagogia de Paz na
referida Frente, se encontra entre os guerrilheiros assassinados. Uma
flor vermelha de homenagem a sua memória depositamos hoje sobre a
digna tumba dos companheiros e companheiras caídos.
Já
que os cadáveres foram entregues à Medicina Legal em Cali,
solicitamos a quem corresponda que estes sejam inspecionados por
forenses nacionais e internacionais, sob o olhar neutro do CICV, para
que os colombianos possamos ter acesso a um informe confiável em
torno às circunstâncias de suas mortes.
Seja
este o momento para enviar aos familiares dos guerrilheiros caídos,
em nome de todo o conjunto das FARC-EP, nossa mais profunda
condolência. Caíram eles enquanto empunhavam a bandeira da causa
mais justa: a paz com justiça social e democracia para todos os
colombianos
Quando
tentamos em Havana resgatar o valor da vida e da dignidade humana,
nos vemos forçados a falar de mais mortes ordenadas a partir do
Palácio de Nariño. A 23 de maio, em Segovia, foram assassinados
pelo exército outros 10 insurgentes das FARC-EP pertencentes à
Quarta Frente, e em 25 de maio, no Chocó, num ataque do exército
foi assassinado o comandante da 18ª Frente e integrante do
Estado-Maior Central, Román Ruiz, e três de seus acompanhantes.
Desde este tablado, lhes rendemos honras, disparando uma salva
estrondosa de Até Sempre companheiros.
Queremos
afirmar de maneira enfática que se equivocam aqueles que pensam que
com os corpos destroçados e o sangue de nossos companheiros vão
impor-nos uma justiça que não persegue a responsabilidade dos
poderosos, que só fixa seu olhar punitivo nos de baixo, nos que
tiveram que tornar-se rebeldes contra a injustiça, numa luta que já
se prolonga por 51 anos, quando numa data como hoje, 27 de maio,
foram atacados em Marquetalia.
Este
tema, o de justiça, deverá ser abordado pelas partes em seu devido
momento. Não o evitamos. Temos fórmulas para buscar a reconciliação
da família colombiana. Não viemos a Havana para negociar
impunidades. Porém primeiro se deverá dar uma resposta ao pacote de
propostas mínimas sobre vítimas do conflito que apresentamos ao
governo na Mesa de Conversações e que recolhem as formuladas desde
há anos pelas organizações de vítimas e de Direitos Humanos.
É
urgente cumprir o mandato da Agenda que ordena, entre outros, o
esclarecimento do fenômeno do paramilitarismo, e especialmente seu
ataque e desarticulação definitiva. Temos que estudar as
responsabilidades deste longo conflito, retratadas no informe da
Comissão Histórica do Conflito e suas Vítimas.
É
imperativo conjurar o fogo da guerra que ameaça com reativar-se no
território nacional, quando até há pouco avançava a passo seguro
a desescalada do conflito. As conversações de paz não progredirão
com banhos de sangue, presidente Santos.
Como
gente que sinceramente quer a paz e a reconciliação para a
Colômbia, pensamos que há que restabelecer a confiança e retomar o
esforço das partes tendentes a concretizar as medidas de desescalada
do conflito que estávamos analisando. Temos que sair desta
turbulência para entregar ao povo colombiano um horizonte
transparente que nos permita transitar, livre de intrigas, o caminho
para o Acordo Final. Não mais perdas de valiosas vidas humanas. Não
mais assassinatos de militantes da Marcha Patriótica e do Congresso
dos Povos, de reclamantes de terras, de defensores de direitos
humanos, de líderes do movimento social e sindical. Não podemos, os
colombianos, atirar pela borda os importantes avanços conquistados
na Mesa de Conversações.
A
Colômbia necessita do concurso e da solidariedade da América
Latina, dos governos e povos do mundo para sair da horrível noite da
qual fala nosso hino nacional. O destino da Colômbia, como dizia
nosso comandante Jacobo Arenas, não pode ser o da guerra.
Delegação
de Paz das FARC-EP
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Equipe
ANNCOL - Brasil