Adolfo Péres Esquivel alerta para crise ambiental na América Latina
A revista "Otro
Viento” visitou, recentemente, as instalações do Serviço de Paz
e Justiça (Serpaj) para entrevistar o presidente do Conselho
Honorário da entidade na América Latina e Nobel da Paz, Adolfo
Pérez Esquivel. Para ele, a política de direitos humanos na AL é
difícil e perigosa, já que, por um lado, ainda há países em que
se encontra uma forte perseguição àqueles que defendem os direitos
humanos, como México, Honduras, Colômbia e Paraguai. "Em
Honduras, há mais de 100 jornalistas mortos, muitos estão exilados
e outros tantos presos, tudo por defender a liberdade de informação”.
Na entrevista aos
jornalistas Pablo Frías Aramis Lascano, Esquivel observou que o
exemplo mais grave é o da Colômbia, que tem mais de 50 anos de
conflito armado, envolvendo basicamente as Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia) e o governo. "Há outros grupos,
como os ‘parapoliciais’, ‘paramilitares’ e o exército dos
Estados Unidos”. Segundo ele, nesse país, há mais de 6 milhões
de pessoas desalojadas, de quem foram tiradas as terras para
entregá-las a empresas multinacionais, que não vêm para promover
políticas de desenvolvimento, mas de exploração. "Eles vem
para saquear tudo o que podem. Aqui na Argentina, no Chile, ou em
qualquer país latino-americano”.
Os governos, mesmo os
ditos mais populistas, estão fazendo acordos secretos com
multinacionais, como a Monsanto, que, segundo Esquivel, foi expulsa
de diversos países do mundo, mas que "o governo argentino trata
como heróis”.
Além das expropriações
de terras, essas grandes empresas trazem outro grande problema: a
exploração ambiental. Casos como as plantações de soja, que
causam a desertificação do solo, e das plantações de pinho e
eucalipto, que consomem muita água. "Os pinhos e os eucaliptos,
quando são árvores adultas, passando dos 15 anos, absorvem entre 60
e 70 litros de água por dia. Quando se corta uma dessas árvores e a
leva num caminhão, há de se calcular o quanto de água também está
sendo levado. Multiplique essa quantidade de litros por 365 dias, por
15 ou 20 anos. E eu estou falando de apenas uma árvore. Então,
quando passamos por quilômetros de hectares dessas plantações,
percebemos o absurdo de água que é gasta”, assinalou.
O Nobel também relatou
que há vários países no mundo que sofrem com a falta de água, 32
deles já quase não dispõem mais. Falta água para as coisas mais
básicas. Além disso, essa água ainda é utilizada de outras formas
mais preocupantes, como é o caso do "Fracking”. Esta é uma
técnica para se extrair gases naturais de rochas profundas,
injetando água a fortes pressões para causar rachaduras nessas
rochas e liberar os gases. "Há alguns anos, meu amigo Fidel
([Fidel Castro, ex-presidente cubano] me disse: ‘tenham cuidado com
o fracking’, eu nem sabia o que era isso, e ele me explicou”.
Essas perfurações, se mal feitas, podem contaminar os lençóis
freáticos e prejudicar muita gente, pois esses gases causam diversas
doenças, como o câncer.
O argentino Adolfo
Pérez Esquivel iniciou, nos anos 1970, um trabalho com organizações
e movimentos dos direitos humanos na AL. Posteriormente, participou
dos movimentos de não-violência e, em 1973, publicou o periódico
Paz e Justiça para difundir essa filosofia. Em 1980, recebeu o
prêmio Nobel da Paz por seu compromisso com a democracia e os
direitos humanos por meios pacíficos frente às ditaduras militares
na América Latina
Fonte: Adital