Mulheres relatam suas experiências como vítimas do conflito armado
Por
Mateus Ramos
Em meio a
uma guerra que perdura há décadas na Colômbia, muitas mulheres são
vítimas de violência e maus tratos. Humilhadas e muitas vezes
desamparadas pela justiça, muitas delas esconderam suas histórias e
sentimentos. Situação que começa a ser revelada com o lançamento
do relatório "A verdade das mulheres. vítimas do conflito
armado na Colômbia”, no último dia 14 de novembro.
Lançado
pela Ruta Pacífica de las Mujeres, movimento feminista que trabalha
pelo fim dos conflitos armados na Colômbia e para tornar visíveis
os efeitos desses conflitos na vida e nos corpos das mulheres, o
relatório mostra as histórias das mulheres vítimas de violência
em meio ao conflito armado.
O
desenvolvimento do relatório teve início no começo de 2010 com uma
metodologia de investigação inédita, apresentando as experiências
vividas por mais de 1 mil mulheres vítimas e nove casos coletivos.
São as vozes das mulheres que se expressam nesse relatório, inédito
no mundo.
A
metodologia empregada na realização do relatório foi a de uma
investigação participativa, onde se dá ênfase à interpretação
e a narração dos fatos pelas próprias mulheres desde sua
subjetividade. A pergunta não é "por que aconteceu?”, mas
sim "por que aconteceu com você?”. Foram colhidas informações
desde o primeiro momento até o último, o que aconteceu com as
mulheres e as consequências para suas vidas, além das formas de
enfrentamento.
Para as
mulheres envolvidas nesse relatório, a busca da verdade, de suas
memórias, experiências e sentimentos significa desconstruir a dor
que sentem, "esse é um espaço para a gente expressar nossas
verdades, porque aqui só se tem escutado a verdade dos nossos
algozes”.
As
violações dos direitos humanos dessas mulheres provocaram
experiências traumáticas, no sentido em que causaram uma ruptura na
continuidade da vida, criando um marco, um antes e um depois do que
aconteceu. Segundo o estudo, as pessoas mais afetadas foram aquelas
que perderam entes queridos. Além disso, outro trauma é o
sentimento de injustiça, já que apenas 18% dos casos denunciados
estão sendo investigados.
Apesar da
impunidade, mais de 60% das mulheres fizeram algum tipo de denúncia;
outras alegaram que, além da falta de confiança na justiça, sentem
medo de represálias.
Para as
mulheres vítimas de violência, a única coisa que pode amparar suas
dores é a justiça. Elas desejam que seus algozes sejam julgados e
condenados pelo que fizeram. Elas também buscam um país menos
impune, que evite que esses atos de violência ocorram. Para elas, a
justiça é responsabilidade do Estado, que deve, por obrigação,
investigar os casos de violação dos direitos das pessoas e condenar
os culpados.
Números
Segundo
informações do relatório, cada mulher entrevistada sofreu mais de
quatro casos de violência de vários tipos e três em cada quatro
foram deslocadas de suas casas contra suas vontades. Além disso,
mais de 80% das mulheres entrevistadas foram vítimas de alguma forma
de tortura física e mais da metade sofreram agressões psicológicas.
Outro
dado mostrado foi em relação à violência sexual, segundo o
estudo, cerca de 14% das mulheres que participaram do desenvolvimento
do relatório, sofreram abusos sexuais. Segundo o relatório, uma em
cada oito mulheres também alegou violações da liberdade pessoal,
tais como serem presas de forma arbitrária e mantidas como reféns.
Mais
informações em www.pnud.org.co